quarta-feira, setembro 20, 2006

Devagarinho no Outono


Imagem Google


Acaba-se imperceptivelmente o fulgor do Verão
Vai-nos caindo sobre...
esta lassidão de Outono.
A luz já não é bem luz
mas uma pasta que se mistura com a Terra.
Dela se ergue uma bruma da sua cor,
diluída, esparsa.
O cheiro entra-nos na pele
absorve-nos
dispensa as narinas.
é acre
intenso
quase agressivo.
As estrelas baixaram no céu
teimosamente entre nós.
Ensombra-nos uma ténue cortina -
futuras nuvens
ainda medrosas de o serem.
O céu já não é a donzela
desconhecedora de vergonhas
descuidando-se brilhante no seu virginal fulgor.
É, agora, pudica menina
tentando encobrir a nudez
em indiscreta cortina translúcida.

(As fêmeas deveriam sempre aleitar nesta estação.
Então, os vagidos das crias sequiosas ou o ronronar da saciedade, soariam abafados docemente na penumbra, de manhã a manhã, como uma almofada de lã fofa e transparente e as crias, rolando dos leitos, vagueariam nesta maciez onde a gravidade quase se anula.)


Se Paz houvesse, ela seria proclamada em cada início de Outono!

(Poema da Seila)

21 comentários:

  1. É de arrepiar !!!
    Música, imagem, e ...as palavras!!! Que conjugação!

    É sempre tão bom cá vir!!
    Parabéns pelo teu projecto.

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  2. Minha querida que eu sorrir sorri, mas o que mais eu fiz foi suster a lágrima teimosa. onde foi a menina desencantar o que escrevi muitooooo antes dos blogues e nem sei onde publiquei?! dá-me o link sim? rsss

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  3. Davagarinho no Outono é como gosto de viver, respirar outros ares mais frescos e calcar folhas caídas, e gosto de ver as árvores quase nuas em mudança de roupas! Lindíssimo texto e a imagem não lhe fica atrás! Abraços

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  4. Acertaste! O Outono está aí... com esta chuva que inunda tudo;lindissimo poema e uma imagem a condizer.
    Beijinhos do aaron

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  5. Minhas amigas MM e Seilá,
    Acabo de vos roubar este belo poema.
    Ia telefonar-te mas a Milú disse-me que não são horas que te deitas cedo.
    Queria inseri-lo na contra capa do programa da próxima noite de poesia em Vermoim.
    Se tu autorizares e a Seilá der o OK.
    E seria muito giro tu vires a Vermoim e ler este belo poema.
    Anmanhã, a horas decentes, telefono.
    Um abraço para ti e outro para a Seila.

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  6. Poema recheado de cheiros...fez-me lembrar todos os caminhos com folhas amareladas que vamos pisando ao longo do Outono... a beleza do final de tarde!
    Belissimo conjunto - poema/musica.

    "O cheiro entra-nos na pele
    absorve-nos
    dispensa as narinas.
    é acre
    intenso
    quase agressivo."

    Obrigado pela vossa partilha

    {{coral}}

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  7. Como já ali disseram, um lindissimo poema com uma imagem de sonho. Até desejo que o Outono venha depressa!
    Beijinhossss e bfs da Anita

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  8. Lindíssima poesia da Seila, a quem chamo Escritora, pois usa as palavras e os sentimentos de tal maneira, que quando damos por nós, estamos "mergulhados" nos seus escritos.
    Bela escolha:)
    beijos para as duas*

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  9. E eu que não gosto do Outono, despertou-me um gostinho stranho ao ter lido tão bonitas palavras.
    Para além disso a imagem é maravilhosa ,acompanha de forma magica o encanto das palavras..
    Gostei...
    Um beijo*

    http://believe.blogs.sapo.pt/

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  10. lindo, fez-me sentir os cheirinho do Outono, quase que ouço o barulho que fazemos ao caminhar nas ruas quando calcamos as folhas que estão a cair das árvores, deu-me saudades... gostei mesmo muito, além do mais Outono é o meu mês.
    beijinhos e um sorriso de volta, pois este poema fez-me olhar sem ver e sorrir assim sem mais nem menos, trazendo-me boas lembranças.

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  11. Como sou um “Outoneiro ou Outonense” convicto, adora todos e cad um dos momentos do Outono.
    Excelente escolha (mais uma vez) e obrigado por proporcionares acesso a este espaço de qualidade.
    Beijo

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  12. vim confirmar a nossa sintonia outonal
    e encontro aqui uma fantástica explosão de cor.

    :-)

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  13. 'MODOS DE VER'. Pois é o Outono. O outono é o aproximar do Inverno, o fim de ciclo. E a nossa vida são quatro estações. Há muitos que não passam da Primavera.
    Beijinhos
    Manuel

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  14. Quatro estações

    Eu já fui primavera alegre e rescendente;
    Em quimeras flori; vibrei hinos de amor;
    Veio o estio depois, fecundo mas candente,
    E o meu jardim então ficou sem uma flor.

    Mas persistiu em mim aquela fonte oculta
    Que mantém o frescor das verdes primaveras;
    E, quando veio o outono, em ambição estulta
    Quis de novo florir em sonhos e quimeras.

    Triste ilusão porém! Insensato desejo!
    Desse lindo jardim agora nada vejo,
    Embora inda respire o seu perfume terno.

    Hoje é tudo aridez; a própria luz é escassa;
    Tomba neve do céu e o vento ruge e passa.
    Tão cedo envelheci! Tão cedo veio o inverno!

    Alberto de Aragão

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  15. Imagem sublime!

    O texto traduz tudo! Não só o Outono mas o que ele comporta na sua beleza particular.

    É minha estação predileta! :)



    Beijinho

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  16. Outono a minha segunda estação do ano favorita... Tudo é tão incrivelmente lindo no Outono... As paisagens são autênticas aguarelas... Apoesia sai solta como um folha ao vento...
    Que lindo o meu mês de Outono!

    A foto é de uma beleza extasiante.

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  17. Embora eu tenha nascido ainda na Primavera, o Outono é e sempre foi a minha estação predilecta.

    Então (mas não só por isso) amei este poema.

    Parabéns às duas
    e um beijo enorme da

    Maria Mamede

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  18. ola...
    o blog é o supremo do Espanto ...
    tem tudo que é necesserio para relaxar...
    tem alma..e vida propria...
    tudo nele encanta....
    é maravilhoso...
    e muito expressivo...
    beijos de nadja carvalho

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  19. Sheila vc é muito boa mesmo
    amei.
    muita luz /|\ awen

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