segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mar dos olhos


Fotografia de Maya Della

Quando me tocas
Com essas mãos
Molhadas
De sabor a mar
Sensíveis, salgadas

Eu me espanto!

Na doçura do teu olhar
Reflectido nas pupilas
Adivinho o quanto
Tu choraste
Ansiaste
Para me abraçar

O que sofres, é sempre passado.

Quando nos meus braços te abandonas
solicitas-me desejo. Único momento,
quando em ti me afogo, não sou, não somos
desejo ou saudade, apenas espírito leviano
que nos corpos aportou.

Nada me dizes,
consumada a transcendência,
Do que te invade no dia e na noite,
Quando não estou.

Mas teus olhos não abandonam
a vidraça da janela, que é fria e quebrável.
Junto dela, esperas que a noite se rasgue no ventre do dia.
Que o verbo regresse e esconda em ti a apatia

O verso descrito nos límpidos lençóis
Inócua promessa de que um dia
Todos, seremos apenas dois

Na fogueira da noite fria
Nada existe depois.

Depois… bem, depois
Somos madrugadas…

Quando me tocas
Com tuas mãos
Molhadas
Das lágrimas de mar
Ternas, salgadas

Eu, ainda me espanto!


(Poema de Luís Monteiro da Cunha in Bufagato)

7 comentários:

  1. eu ca ja n me espanto qd vejo tao bem escrever :) temos poetas maravilhosos :)

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  2. Quão belo poema partilhas connosco...

    Que doce embalar para os meus olhos...

    Parabens ao poeta e a quem o escolheu!

    Beijos a ambos... :)

    Maria

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  3. Que belo poema, o Luis prenda-nos com estas. Beijinhos para ti

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  4. Gostei de ler. Uma saudade no olhar.

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  5. Estive ontem num Círculo onde se fala, lê e ama poesia.
    Um dos pontos de conversa foi exactamente o que a blogosfera está a incentivar o conhecimento e a aderência cada vez maior ao mundo poético. Falei neste blogue e na pessoa que está por detrás dele, que alguns já conheciam, mas não associavam aos outros blogues que detens.
    Posso dizer-te que foste muito elogiada pela forma como dás a conhecer tanta poesia de tantos outros autores de blogues.
    E trouxe-te o carinho de quem estava comigo e a sua admiração também, num mundo por vezes tão egoista e tão mal compreendido, tu és um EXEMPLO a seguir, mesmo por aqueles que já têm o seu nome nas prateleiras das livrarias.

    PARABÉNS por este trabalho magnifico e um grande abraço da Ana Sobral

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  6. Passei por cá em vizitinha de médico.

    Gosto sempre da visita

    Abraço

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  7. "Na doçura do teu olhar...
    adivinho o quanto choraste...
    para me abraçar"

    Profundamente poético, com uma expressão fotográfica de rara beleza: tem tanto de doce como de melancólico. Poema lindissimo !!!

    Como sempre, a música que nos ofereces...

    Parabéns para o autor e para ti, por esta escolha magnifica. O meu muito obrigado.

    Do Amigo "Montanheiro"

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