quarta-feira, outubro 06, 2010

Tomai e comei...


Óleo sobre tábua de Pieter Claesz



Turvam-se os caminhos. Mas do sangue
Apenas o que farejo no barroco empolgante de Coppola
Nos mistérios nocturnos da Transilvânia
Nas oníricas danças das Parcas
No mistério decadente dos vampiros
E no absoluto amor do conde de Drácula...

Fora esse
Apenas o sangue da fêmea com cio
Ou arrancado ao peito para alimento dos famintos
Ou o sangue selo secreto
Das cumplicidades da vida.

E o sangue abortado de uma flor vermelha
Ou o virginal rubor das manhãs sem nome
Que me entram pela janela...

Ou a ceifeira morta. Ou a papoila decepada...
Ou o vermelho da romã nos lábios febris do beijo
Primevo.

Fora esse
Apenas o sangue quente do vinho e do mel
Em que ondas me expludo e teimo
Longe de caminhos palmilhados...

Este o meu corpo: tomai e comei!...


de
Heretico in Relógio de Pêndulo

11 comentários:

  1. Um excelente poema de um grande poeta que sabe misturar o quotidiano com a sensibilidade e a erudição. Obrigada pela partilha.
    Beijos MM.

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  2. Não conhecia o poeta nem o blog indicado.
    Reconhecido fico por este trabalho exemplar.
    Um grande abraço
    Honório

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  3. enorme privilégio. partilhar da tua amizade.

    sinto-me honrado com a publicação do poeminha (que mal recordava). e envaidecido.

    apenas o teu olhar amigo justifica a publicação.

    grato.

    beijos

    se me permites um beijo de gratidão tambem para a Graça. pelas suas generosas palavras

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  4. Também não conhecia o poema, mas é muito bom!

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  5. uma boa escolha de um belissimo poema do Herectico.

    gosto da escrita deste autor seja prosa ou poesia, pois é sempre um prazer ler bons textos, ou um bom poema como este,

    bom fim de semana!

    beij

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  6. eu adorei o seu blog .
    pena não ter como segui-lo, mas colocarei seu link no meu blog , para não perde-lo de vista .

    abraço grande !

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  7. Oie gostei do blog .. se puder visite o meu blog .. Bruna

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  8. Sou admiradora da escrita deste verdadeiro senhor das palavras...

    E também muito admiro a missão deste valioso blogue. Muito grata.

    Um abraço

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  9. A Manuel Bandeira

    Existia, e ainda existe
    Um certo beco na Lapa
    Onde assistia, não assiste
    Um poeta no fundo triste
    No alto de um apartamento
    Como no alto de uma escarpa.

    Em dias de minha vida
    Em que me levava o vento
    Como uma nave ferida
    No cimo da escarpa erguida
    Eu via uma luz discreta
    Acender serenamente.

    Era a ilha da amizade
    Era o espírito do poeta
    A buscar pela cidade
    Minha louca mocidade.
    Como uma nave ferida
    Perambulando patética.

    E eu ia e ascensionava
    A grande espiral erguida
    Onde o poeta me aguardava
    E onde tudo me guardava
    Contra a angústia do vazio
    Que embaixo me consumia.

    Um simples apartamento
    Num pobre beco sombrio
    Na Lapa, junto ao convento…
    Porém, no meu pensamento
    Era o farol da poesia
    Brilhando serenamente.

    Também tens um farol que brilha na tua vida?

    De Vinicius de Moraes

    Com
    Beij

    Tretas

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  10. Gostei muito. Aqui está um poema cheio de profundidade e com a mestria de sempre...

    Heresias assim, até Deus as sacrealiza!

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  11. Um poema "quente" como o sangue que evoca, "pré-herético" também...

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