terça-feira, junho 27, 2006
quarta-feira, junho 21, 2006
Arco-íris
Imagem Alexandru Darida
O sol, dia após dia, não queimava
o meu corpo soturno e sombrio.
E eu ambicionando um mar de lava
que me abrasasse o coração vazio...
A cada noite a lua minguava,
no meu quarto, crescente só o frio.
E eu ansiando a luz que fosse escrava
dum farol que orientasse o meu navio...
Foi então que te vi, de sete cores,
avivando o meu céu, serena e nua,
num arco que apagou todas as dores.
Encheste de clarões a minha rua,
cobriste a minha cama de mil flores,
tornaste-te meu sol e minha lua.
(Poema do Fernando-Cidadão do Mundo)
segunda-feira, junho 19, 2006
Canto...
Enquanto houver um rio, hei-de cantar
Lonjuras de outros tempos, esquecidas.
Enquanto houver gaivotas rumo ao mar,
Cantarei lembranças de outras vidas.
Enquanto houver um rio, hei-de sonhar
Venturas de outros tempos, proibidas.
Enquanto houver mordaças de matar,
Cantarei esperanças coloridas.
E enquanto o rio correr e eu cantar
Vontades, ilusões, destinos, fados,
Talvez um dia, o meu canto chegue ao mar
Se não, que espalhem as gaivotas pelo ar
Em pios, em voos, em desenhos ousados
Tudo quanto meu canto nunca ousou cantar.
(Poema de Helena Pedro)
sexta-feira, junho 16, 2006
Percurso
Num campo de papoilas
O meu sonho
Num oceano frio
O teu olhar
Nas areias da praia
O teu cabelo às ondas
No vento do deserto
O meu amar
Na curva do caminho
O teu ar sério
No cume da montanha
O meu querer
Numa cidade à noite
O teu mistério
Num vale de espera cor-de-nada
O meu sofrer
Nas asas de uma pomba
As mãos com que te afago
Na palidez da Lua
O teu sorrir
Numa noite sem estrelas
O teu sono
Num rio impetuoso
O meu sentir
Num lago gelado
A minha mágoa
Numa manhã cinzenta
O teu torpor
O teu desejo
Numa poça d´água
Numa terra distante
O meu amor
Num prado verdejante
A minha esperança
Numa ilha deserta
A minha solidão
Num livro em branco
Meu sonho de criança
Numa história de Amor
A minha inspiração...
Poema e Imagem de Berenice
quarta-feira, junho 14, 2006
Pintor
Se eu fosse pintor
Pintava-te nua
Com minhas mãos trémulas
Misturava as cores em pinceladas desiguais
Perdia-me tacteando
Nas curvas redondas de teus seios
Entre a linha do horizonte e o por do sol.
Mas porque não sou pintor nem tenho jeito
Quero que me perdoes se te usei, no pensamento
Ou ousei desnudar-te, e ver-te assim exposta entre o sol e o horizonte
E profanado as curvas de teus seios
Neste fim de tarde do Outono que termina.
O meu amor por ti ou a ausência do teu por mim
São algo que não se confessa mas se sente
Sei que te usei, modelo em nu artístico
Porque sonho contigo
Sei que és a desculpa do meu sonho instituído
Por isso, se fosse pintor
Pintava-te nua de cabelos ao vento…
Poema de Lobo do Mar
Imagem de Tiago Estima
segunda-feira, junho 12, 2006
Carta ao Amigo...

Imagem daqui
Olá, Amigo, resolvi escrever-te
só para dizer que não há nada de novo.
Olha, saí, meti-me no carro
e chegando ao semáforo seguinte
vi o mesmo pedinte
com que há anos deparo.
Dei-lhe uma moeda de vinte.
Na fila de trânsito,
vi as mesmas caras agressivas
por dentro dos vidros embaciados.
Sorrisos não vi, nem expressões vivas:
só olhares cansados.
Também quis entrar no café,
mas era tal a fumaça lá dentro
que achei melhor adiar o momento
e fugi dali a sete pés.
Deu-me para comprar o jornal,
mas também não sei para quê:
já ontem, na TV, disseram tudo igual.
Parece que o principal
é que caiu um avião no Mar do Norte.
Mas olha, tiveram sorte:
dos noventa só morreram vinte e tal,
incluindo um doente de Sida, por sinal,
a quem já tinham lido a sentença de morte.
Os pais do rapaz até deram graças
por ele ir de repente
e não o verem mais pela casa
a morrer lentamente.
Das famílias dos outros vinte e tal
é que não sei o que disseram,
não vinha no jornal,
talvez não tenha sido tão sensacional.
Como vês, vai tudo normal.
Passei ali pelos arredores
e lá estavam os arrumadores
à porta do Centro Comercial
a arrumarem os senhores doutores.
Também estavam uns ciganos vendedores
discutindo com eles um espaço vital
para estenderem no chão uns cobertores
onde exporem o material.
Mas apareceu um carro da polícia
e debandaram todos por igual.
Enfim, virão tempos melhores.
De saúde, olha, vou assim-assim,
uns dias pior, outros menos mal.
Que se há-de fazer? É fatal.
E assim cheguei ao fim.
Como vês, não há nada de especial.
Fica bem, ou, pelo menos, tu também,
menos mal.
(Poema da Aspásia)
sexta-feira, junho 09, 2006
Tango
Imagem do Ognid
Dança comigo uma dança latina.
Qualquer uma.
vermelha
quente
sensual.
Apenas nós numa pista de dança
madeiras velhas
candeeiros quebrados
ambiente vermelho
orquestra decrépita.
Deixa-me agarrar-te
guiar-te os passos
rodopiar contigo
dobrar-me sobre ti
suspender o tempo
quase beijar-te.
Recomeçar
e repetir
até que os nossos corpos
suados de desejo e de cansaço
rubros do esforço
nos obriguem a parar.
(Poema do Ognid)
quinta-feira, junho 08, 2006
Um Amor Libertador...
Resolvi partilhar...
Vou-to contar:
(Autor: Anónimo)
segunda-feira, junho 05, 2006
Ser, sentindo...
Monte da Lua - Óleo de JP
Sei de um lugar,
Onde o mundo acaba, onde as terras desabam,
Onde o rio se abre ao mar
Sei um sentir,
Entregar-se ao abraço, aliviar o cansaço
Mas saber deixar-te partir...
Pois sei de cor os teus silêncios
E sei de cor o teu olhar
Ser livre e leve na certeza,
No teu laço ser princesa das histórias
De encantar...
(Poema da Princesa)
sexta-feira, junho 02, 2006
Outras Águas...
Amarás o pássaro
cantando.
Amarás a lua
respirando
sobre o corpo das mulheres
e das cidades.
Amarás a curva delicada
no adeus da folha do salgueiro
a caminho do Outono.
Não hesites.
Ama em cada instante
a música que nasce e nunca voltará.
Este é o teu destino:
branco sobre branco.
Água deslizando
a caminho
de outras águas.
Poema de José Fanha




