quarta-feira, janeiro 31, 2007

manda embora a solidão...


Imagem de Nick Knight



Da transparência das palavras germina espontaneamente a alma de quem as escreve...



Demorada a noite
aperta-me nos seus braços
e fala-me baixinho
de espaços
onde os sonhos se elevam aos sentidos
e
unidos
somos pedaços
e momentos
perfeitos...


Terna a noite
segreda-me os corpos suados
colados
em beijos perdidos
e
no bailar dos gemidos
relembra-me as mãos
soltas
livres
como pormenores inconscientes
da ausência de privação...


Incendeio...
transbordo de ti...

Sente-me!


(Poema da Cris in O sorriso da lua...)

segunda-feira, janeiro 29, 2007

querer ser, e crer

Almaro com a Poesia no olhar, diz-nos estas palavras: Não sou fotografo. uso uns olhos e um sentir. sou navegante vagabundo que só leva olhar no ir...

Pintura de Almaro



não queira eu
ser
mais que eu-próprio
mas,
ser-me,
escondido-por-inteiro,
nos olhos de menino
que sonha,
ser
cavalo-marinho, abraçado em ondas-de-azul-horizonte,
desenhado,
sem papel
ou
pergaminho,
fabricado,
não
em pele
ou
papiro,
mas em lágrimas de fada-sininho,
e
sedas,
em cor-de-sol-quando-se-deita-baixinho…

(Poema de Almaro*)

* Poeta, pintor e fotógrafo amador...


sexta-feira, janeiro 26, 2007

Dois sonetos...


Imagem de Delasnieve Daspet



I
De repente solta a língua
A frase breve, o lampejo
No instante do desejo
Mão vazia, alma à mingua

Ter mais do quê
Se nada tenho
De onde venho
Já ninguém vê

Rezo já não a Deus mas a mim
O milagre pertinaz, um brilho novo
Tirar do peito leão, ser sim

Encolho os ombros, gesto coevo
Marca d’água da terra donde vim
E sei que não sou mais que ovo

II

A distante hora que vi luz
Marcou-me a retina verde
Tenho olhos de quem perde
De mim sempre para nós

Mais era o meu mote
Mais de tudo, mais de nada
Havia razões de muda
Mas meu navio era bote

Plantado numa beira-mar escassa
Sou duna mar e céu e este é cinza
A vontade de ir morreu

Erguido ao vento gélido sou eu
O fruto destas raízes é meu
Monumento singular à tristeza

(Poema do Paulo in Mais tempo)



Recebido num comentário o seguinte Convite:
"Convidamos todos os visitantes deste blog a participarem neste Concurso de Poemas de Amor".
Todos os interessados, deverão aceder a esta
Página


Igualmente se dá conhecimento do Prémio de Poesia Nuno Júdice.
Os trabalhos deverão ser entregues até 16 de Fevereiro, de acordo com o regulamento constante no site da Câmara Municipal de Aveiro ( http://www2.cm-aveiro.pt/www/).

Divulguem pelos vossos amigos poetas!

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Pergunto-me...


Imagem de Hussein Chalayan


Pergunto-me o que faço aqui,
neste lugar onde nascem mundos
nas palmas das mãos.

Pergunto-me o que espero daqui
deste muro onde crescem heras entrelaçadas de espinhos.

Debaixo do espelho frio
esperam olhares marejados de topázios, antigas lendas.

Por detrás da parede negra,
oiço vozes enfeitadas de rubis,
alguns silêncios.

Pergunto-me o que espero daqui.
Das Luas que inspiram.
Dos Sóis que acalentam.
Do rasgo de loucura.
Da Luz perseguida
até à esquizofrenia.
Do medo.
Da morte.
Dos sussurros do mar.

Pergunto.
O que faço aqui?
Que espero do mar?
Do mar. Do mar. Do mar.

(Poema de Canela e Jasmim in Chá de Rosas)

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mar dos olhos


Fotografia de Maya Della

Quando me tocas
Com essas mãos
Molhadas
De sabor a mar
Sensíveis, salgadas

Eu me espanto!

Na doçura do teu olhar
Reflectido nas pupilas
Adivinho o quanto
Tu choraste
Ansiaste
Para me abraçar

O que sofres, é sempre passado.

Quando nos meus braços te abandonas
solicitas-me desejo. Único momento,
quando em ti me afogo, não sou, não somos
desejo ou saudade, apenas espírito leviano
que nos corpos aportou.

Nada me dizes,
consumada a transcendência,
Do que te invade no dia e na noite,
Quando não estou.

Mas teus olhos não abandonam
a vidraça da janela, que é fria e quebrável.
Junto dela, esperas que a noite se rasgue no ventre do dia.
Que o verbo regresse e esconda em ti a apatia

O verso descrito nos límpidos lençóis
Inócua promessa de que um dia
Todos, seremos apenas dois

Na fogueira da noite fria
Nada existe depois.

Depois… bem, depois
Somos madrugadas…

Quando me tocas
Com tuas mãos
Molhadas
Das lágrimas de mar
Ternas, salgadas

Eu, ainda me espanto!


(Poema de Luís Monteiro da Cunha in Bufagato)

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Sonhar….


Óleo de Sophie Barjavel


Quem és tu que me fazes sonhar?
Um feitiço que alguém me lançou!

Laço triangular, não o quis apartar
Nos braços alguém que me elevou!

Espera! - Que eu acorde de manhã...
Dá-me tempo e espaço, o que alterou?

Preciso de esconder o infame traço...
Corrompida esta alma! - Que amou!

Quiseste dar-me o céu, peguei numa estrela,
Ofereceste-me o mar, uma gota me lavou!

Num olhar, indicaste um lindo bosque,
Em pegadas que alguém já desflorou!

Vai! - E procura os nómadas do deserto...
Impetuosa, esquecerá quem as deixou!

Quem és tu que me fazes sonhar?
Um feitiço que alguém me lançou!

(Poema de Maria Valadas in Palavras.ao.Vento)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

o sol. os sóis.


Óleo de Camille Pissarro


há sóis que não desaparecem da nossa vida
pobre no olhar para ver
e há o sol que baixa suavemente, incendiando
tudo, ao entardecer
diariamente
como uma mão quente que nos traz uma réstia de cor
antes de adormecer


os outros, sóis interiores de afortunadas gentes
não serão menos sóis
são só diferentes no efeito que têm sobre nós.
são os dos santos dos poetas e dos simples
os que encontraram os talentos que perdemos
e os fizeram render.

nós passamos por eles, distraídos. nesta condição
de existir com muito pouco ser
e colhemos os frutos. e comemos
e nem olhamos os sóis que não descansam
e luzem dia ou noite. quais faróis.
para não nos perdermos ao viver.

(Poema de Non(Madalena Pestana) in Vida Morte & cª)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Photossintética


Pintura de Paul Albert Steck



Juntas no mistério
Água, luz e CO2
E, depois,
Como serpente emplumada,
Uma lágrima de nada
Contendo o que em cima existe
Na profunda claridade
Dos olhos de Deus
E o que em baixo desiste
Sob a conversão forçada
À paternidade
Dos deuses alados
Mortos noutra solidão.
Juntas no mistério
Tanto nuvens como pedras.
E no cemitério
Daqueles que não nasceram,
Sepulturas por abrir
Igualam-se em inquietude
Ao sossego manso
Da eternidade
Do ventre da Virgem.

(Poema de Manuel Anastácio in Da Condição Humana)

sexta-feira, janeiro 12, 2007

H2O


Pintura de Susan Rios


és símbolo químico
que brota da terra

água fresca tatuada na rocha
dás vida à vida

discreta quando habitas nas nuvens,
no horizonte és energia
e fonte do ser.

ouves-me nos desejos
da palavra que não é escrita

circulas no meu sangue e vibras,
deixas que te sinta no coração.

imóvel olho-te
mostras-te rainha no mar,
princesa encantada no rio
que aquece a alma, nos lagos

da tua voz escorrem
hesitantes ternas sombras

olho a tua tonalidade
sinto o desperdício da humanidade

hoje és lágrima
no meu rosto...


(Poema da Lena Maltez in Cabana de Palavras)


...que se transformem em SORRISOS doce Lena, aqui te deixo um carinhoso ABRAÇO e rápidas melhoras...



Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Leva-me o rio...


Pintura de Jean Paul Avisse


Leva-me o rio de um sabor
Que não sei.
Tento afastar o murmúrio do opaco
E perco a razão do que sou.
Não sei silêncio mais vago, mais sem cor.
Perdi o sentido da essência
E só a noite me dá os trilhos,
O brilho de uma noite que não será.
Espero e o vazio nada me traz,
Nada me mostra.
Sigo linhas de um sabor que não me quer
E apareço só à monotonia das coisas.
Serei algo que não vale a pena?
Quero fundir-me com o rio
E fugir, chegar ao mar.
Os sonhos apertam-me a ideia
E não sei o que ser.
Corta-me o silêncio e não sinto,
Não sei, não me quero.
Desapareço num grunhido de dor
Que se mistura no ar
E persegue a noite.
Nem um só sentido brota como um beijo
Brota de uns lábios.
São perdidos os rumos que me alcançam.
E, simplesmente, não pareço existir
Ou saber o que mostrar.

(Poema de Rita Pacheco in Em Flor)

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Canção Breve de Amar


Imagem de Kababelan



Como é rara e leve a flor que breve
Anima a janela ao teu olhar
Como tocam anjos naifs na viela
Sinfonias secretas e odes belas
Na calçada onde a lua se demora
Na esperança de colher o verbo amar
Como gosto de tocar as tuas mãos
Se as estendes assim para o luar
São murmúrios da noite dos amantes
Na labareda do silêncio astral
à varanda dos sentidos tu semeias
e eu colho a mais rara dor de amar

As urbanas altitudes onde estás
Telhados furtados à nesga azul do céu
Casas gigantes de moinhos sem pás
Lembram o amor encarcerado
Na gentil magia do luar de breu
Rasgas noites violetas de quimera
Rasam sorrisos feitos de marés
E a cidade acende-se em mil luzes
Mil fontes cintilantes a brotar
Nós dois na nudez azul do sonho
Mergulhamos como cisnes
Submergimos corpos belos
Num enlace que é longo por eterno
E como é rara e leve a flor que breve
Enfeita o meu corpo se te espero
Na serrania onde o verde nos embebe
Da pacífica dor de saber esperar
Entre casas casarios de aba branca
Na vertente que nunca encontra o mar
Mora rara e breve a sede de existir
Sem mais querer que o de te achar
Sem mais mester que o de (te) ouvir

(Poema de Aziluth in Serena Lua)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Amo aqueles…


Imagem de Roman Golunbenko



amo aqueles que só sabem amar
enfrentando a vida
porque passam pela loucura.
amo aqueles que buscam o sol
por entre o escuro
porque amam sós.
amo aqueles que abandonam o passado
enfrentando a vida
porque procuram soluções.
amo aqueles que percorrem o mundo
sempre em busca do amor
porque conhecem a dor.
amo aqueles que sonham no acordar
por entre frases soltas
porque seus olhos reflectem amar.
amo aqueles que só sabem viver no acordar.


(Poema de Ricardo Biquinha in Luz.de.Tecto)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Sentimentos...

Confesso que queria oferecer-vos uma coisa diferente para a primeira postagem do Ano.
E aqui entra a alma de quem está por detrás desta página virtual. Por isso, trouxe-vos hoje as palavras de alguém que leio há muito tempo em silêncio, porque assim é exigido…


Óleo de Brita Seifert

Deus quis brincar com o mundo. Baralhou e tornou a dar.
Os anjos choraram a noite toda e o vento carregou as lágrimas que afogaram as copas das árvores. Nem uma só gota caiu nas terras sedentas. Os campos tornaram-se mais áridos e secos e as plantas morreram. Deus agarrou no mundo de pernas para o ar e fez o perto longe e o longe infinitamente distante. As estações perderam-se no caminho e só o Inverno sabe ficar. O frio instalou-se e arrancou pedaços do peito.
A fé quebrou-se.
Estilhaçou-se.
Deus espalhou as cartas ao vento e já não temos lugar. Dentro de nós há um buraco enorme que só nos lembra o vazio. Já não somos grãos de areia perdidos no deserto mas o próprio deserto. Nem uma gota caiu nas terras sedentas e os anjos choraram a noite toda.

Deus não ensinou aos anjos como parar de chorar.


[In Silêncios(Coisas de Lyra)]