sábado, dezembro 31, 2011

Morre-se de solidão no meu país




A solidão prolongada
Em forma de sombras
Neutras
Esbatidas
Infiltrada nas paredes
das casas fechadas – com gente dentro
e a noite a fechar o dia mais uma vez
duas vezes – muitas vezes

e morre-se devagar no meu país

as árvores no Outono estão nuas – esquálidas
no Inverno o frio magoa os ossos e a alma
mas talvez os melros cantem antes da próxima primavera
se o verão chegar todos os dias
no sol de uma tigela de sopa fraterna

morre-se devagar no meu país

e depressa tudo se esquece

Poema de
Piedade Araújo Sol




Nota da Autora: faltam dados estatísticos para idosos que morrem sós em casa

1ª. imagem de Gonçalo Lobo Pinheiro

2ª. imagem foto pessoal


sábado, dezembro 24, 2011

as coisas elementares



falo das coisas mais
elementares

o sino da igreja
onde um galo não canta
um seixo rolado
guardando o tempo
dentro de si
um torrão de terra
grávido de uma semente

mais elementares ainda

os sorrisos presos nos lábios
das crianças tristes
as lágrimas
rios de salgados
nos leitos dos rostos abandonados
nos lares/depósitos

falo porque
estou cansado de comer silêncio
e ler poemas de amor
com tanto desamor
a caminhar por aí

as coisas mais elementares
são as que deviam ocupar
o ventre das palavras por parir

Poema de
António José Cravo

Atribuição do prémio Novembro/2011...


Conforme atempadamente foi referido na postagem de 27 de Setembro ao iniciar-se o “passatempo do poema mais comentado” o público comentarista escolheu, com sete (7) comentários registados, o poema “do fim dos meus dias...” de Virgínia do Carmo.

A gravação em vídeo efectuada pelo
Sons da Escrita e voz de José-António Moreira está disponível no Youtube.



(desligar por favor a música de fundo para ouvir o vídeo)

sábado, dezembro 17, 2011

desiguais se igualam


Imagem de James Harrigan



desiguais se encostam
desiguais se destapam em fios de som
metálicos se enferrujam
desiguais se sentem
sem sentir o igual do tacto
desiguais se tentam enroscar
metálicos
gritam finos sons de cordas rijas
desiguais se amam em cordas
esticadas
desiguais se aconchegam
em cordas que vibram
desiguais se gritam
metálicos
não se olham
desiguais se tocam em notas de viola
desiguais se igualam
em desalinho se deitam
alinhados
encostados se amam
encostados se ouvem
desiguais gritam
metálicos
desiguais se misturam
em sons desabafados
deitados em tecidos amarrotados
desiguais se igualam


Poema de
Teresa Maria Queiroz

sábado, dezembro 10, 2011

Gostaria tanto…


Pintura de Philippe Loubat


Gostaria tanto….

De tocar a superfície da maresia
Com as minhas mãos sedentas e sentir-te apelo…

De escrever-te pétalas tinta sorriso
E declamar-te com os teus versos partilha…

De amar-te murmúrio doce
Na tua entrega paixão querer de ti segredo nosso…

De dizer-te o que me queres soletrar
No prolongar infinito do teu enleio alma…trajecto redacção…

De ouvir as tuas canções nossas
E invejar o teu saber dizer de poemas versus coração…

De me render à tua “luta” apego
E ficar prisioneiro do único amor com o amor que entoas…

De nada saber e tudo me ensinares
No cultivar sólido de sabores teus…doados nossos…

De correr para ti…como menino carente
No fim de cada minuto saudade e sorrir no teu abraço abrigo…

De aprender contigo a moldar a cor do acto
E suspirar no acreditar da certeza página presente…

Que me escrevesses um poema silêncio
Em grito surdo de respiração suspensa …para lá do possível ...

De nunca ter de conjugar verbo no passado
Porque a tua caligrafia semeia sempre futuro em cada escrita dita…hoje presente…

De chorar …apenas para apagar vulcões de êxtase
Que me dás em oferta solta almejo de vida sempre a colorir…

De dizer-te paixão…com um obrigado abençoado…
Porque se Deus existe…tu és o Universo da felicidade…

De nunca findar este caminhar a dois
Onde exigisses amor com amor…até ao beijo final….

De dizer tanto…e tanto ouvir…
No tanto que há para viver…no tanto que há para amar…no tanto que há para declamar...

De não te conhecer…e puxares a minha mão
Para te conhecer e percorrer estrada rio…nascente foz…mar…horizonte…sofreguidão conhecimento…o teu jardim…

De ouvir a tua verdade…nas verdades que tens…
Bálsamo fidelidade…código único…

Que a única diferença de sermos…fosse a interpretação
Homem …mulher…nunca o esgrimir de posições …porque somos…

Gostaria tanto…

De acordar…com o teu acordar…
E sentir-me com o teu acordo do acordo que rubricámos…


Poema de
José Luís Outono

sábado, dezembro 03, 2011

Sejamos Natal


Fotografia de Ann Richardson


Para além de todas as demagogias,
Para além do politicamente correcto,
Para além de todas as hipocrisias,

Celebremos, finalmente, o Espírito do Natal
Em todos os momentos
Desta nossa existência, tão efémera.

Natal é Fraternidade, Solidariedade, Paz,
Amor e Alegria na Terra
E nos Corações dos Homens.

Natal é a apologia do autenticamente Humano,
Em toda a sua essência genuína
De Bondade e de Verdade.

Natal é o enaltecimento de um Mundo
Onde não haja mais lugar para a Crueldade,
Para a Violência ou para a Agressividade.

Natal é a reunião dos Corações sensíveis
Que lutam, desesperadamente, pela União dos
Povos e das Nações.

Natal é a rejeição da Discriminação,
Dos horrores da Guerra,
Da mutilação dos Corpos e das Almas.

Natal é a consciência da Miséria Humana,
O compromisso da sua superação,
O enaltecimento da Justiça e de todas as Uniões.

Natal é o triunfo do Bem e do Belo,
A glória de todos os Renascimentos,
A comemoração da Dignidade Humana.

Natal é a benção do sempre Novo,
O louvor de todo o acto de Criação,
De Renovação e de Regeneração.

Sejamos Natal,
Hoje, sempre,
Para sempre.

Poema de
Isabel Rosete


Fotografia de Lucas Valentim