Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
(Excerto)
(Poema de José Carlos Ary dos Santos)
(Leia aqui o Poema completo)
Eles não sabem que o sonho
ResponderEliminaré uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azul
eles não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
que fuça através de tudo no perpétuo movimento
Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel
base, fuste ou capitel
arco em ogiva, vitral
Pináculo de catedral
contraponto, sinfonia
máscara grega, magia
que é retorta de alquimista
mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança
Ouro, canela, marfim
florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim
passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora
cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar
Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança.
LIIIIIINNNNDDDOOOOOO. Poema e esta musica.
Beijo enorme.
Abril vai sendo apenas uma lembrança num país que foi transformado numa democracia falsa que tem uma assembleia donde fogem os deputados para votar porque o superfluo da ponte de fim de semana aí está... onde se consomem muitos dos carros desportivos e e de luxo fabricados na Europa e onde a Mafia parece ter assentado arraiais e a miséria dos ordenados impera em nome da crise, e onde em nome da falta de mão de obra se importam de leste e da àfrica gente para aumentar o nosso exército de desempregados cada vez mais licenciados e assim vai Portugal cagando em Abril...
ResponderEliminarAcho que à custa de gastarem tanto estas palavras de Abril, começaram já a perder o vigor inicial...
ResponderEliminarUm poema de que nos lembramos sempre, nesta época. Feito por um senhor poeta!
ResponderEliminarBeijos
Hoje falar de Abril é uma miragem. Abril é o quarto mês do ano e suponho que não passa disso para quem nasceu depois de 1960. Também pessoas com responsabilidades tudo têm feito para defraudar a juventude. Veja-se o nosso ensino.
ResponderEliminarManuel
Infelizmente toda a gente tem feito o possível para ignorar Abril e os motivos reais porque eles existirão.Cada vez menos se respeita o espirito de Abril e não faltará o dia em que surgirá outro Abril, mas agora será bem pior, porque será de raiva de despudor, que nos conduzitá, a existir, a uma guerra civil. Que não se cuidem os nossos governantes, que um dia o povo vai sair à rua manifestando a sua revolta pela forma como os destino destes País, que já teve tudo para estar bem, se encontra. É abismal e revoltante aquilo que se passa na AR e vem o PM à tv dizer que não fala disso porque o PS faz anos e está de parabéns. Eu também fiz esta semana, e não é por isso que não me deixo de revoltar contra os cretinos que nos governam!!
ResponderEliminarJoão P Coutinho
Gosto muito da música aliada ao poema e ao prncípios do 25 de Abril! Que o mundo, e o nosso país, seja mesmo melhor!
ResponderEliminarUm bjo
Que o nosso país melhore... é o meu desejo de Abril...
ResponderEliminarBjx
Lindo!
ResponderEliminarAry dos Santos... que saudades.
Obrigada por o recordares.
Um abraço.
Oop´s...
ResponderEliminarO anónimo anterior sou eu.
É sempre bom voltar a ler este poema. E recordar Ary!
ResponderEliminarBeijinhos
não julguem o k não conhecem, pk qd for preciso alg abrir caminho a liberdade com a força das flores será a nova geração a fazê-lo, a minha geração. de generalizações e descriminações por ignorância está o mundo cheio. e já agora, se alguém se deve culpar pelos governos, não é a juventude, porque uma grande parte nem vota. é a geração de abril que não conseguiu dar ao país um rumo melhor. e tanto fez já ela por todos nós. chega de apontar dedos. portugal somos todos. e o ary sabia isso melhor que ninguém. boa escolha =) * peace
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