quarta-feira, janeiro 16, 2008

Nós, os outros


Imagem daqui


Nós, os outros, habitamos a textura
aquosa e impura da cidade adormecida
quando o negro nela se abate

Nós, os outros, abrigamos o frio
nos jornais remexidos,
aninhados no vazio dos recantos
que o cimento e a pedra calam

Somos gente sem nome nem destino
em tempo indeterminado;
andarilhos na mão que se estende,
vestidos de invisibilidade

Nós, os outros, também sonhamos
a metáfora ténue dos papeis gastos,
da vida a essência dos dias plenos
entre a existência dos muros lentos
levantados pela hibridez da hora em viragem

Assim caminhamos o esquecimento
sob a trama da luz baça da cidade


(Poema da Amita in Branco e Preto)

11 comentários:

  1. Não é portuguesa, eu sei . Mas ao ler este poema lembrei-me deste que estudei em tempos. Talvez me atreva um dia a traduzir ...

    Ma Bohème de Rimbaud

    "Je m'en allais, les poings dans mes poches crevées;
    Mon paletot soudain devenait idéal;
    J'allais sous le ciel, Muse, et j'étais ton féal;
    Oh! là là! que d'amours splendides j'ai rêvées!

    Mon unique culotte avait un large trou.
    Petit-Poucet rêveur, j'égrenais dans ma course
    Des rimes. Mon auberge était à la Grande-Ourse.
    Mes étoiles au ciel avaient un doux frou-frou

    Et je les écoutais, assis au bord des routes,
    Ces bons soirs de septembre où je sentais des gouttes
    De rosée à mon front, comme un vin de vigueur;

    Où, rimant au milieu des ombres fantastiques,
    Comme des lyres, je tirais les élastiques
    De mes souliers blessés, un pied près de mon coeur!"

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  2. O retrato do País que temos!!!!!!
    Muito belo o poema, gostei imenso
    Bejokas
    Nini

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  3. Há poemas que nos atingem como socos certeiros!

    Está um retrato bem elaborado de uma realidade tão pouco revelada. O "oásis" não convive com o "deserto": JAMAIS!!!

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  4. OPS!!!Excelente como sempre, voltei para reler.Jinhos

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  5. Os outros podem muito bem ser os dois milhões de pobres que vivem na penumbra e que não têm voz...

    Este poema é uma pedrada no charco!

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  6. o que é o conhecimento?

    visão directa do corpo e da atitude?
    prolongado caminho nem que condutor à saturação encapotada?

    Vivência superficial feita de fait-divers e não de curiosa partilha sem hora nem condicionalismos marcados?

    Será assim tão impossível iniciar o conhecimento na distância? julgo que não e defendo tal desiderato.


    ASSIM AQUI DEPOSITO A MINHA HOMEGAEM AOS BLOGGERS, ESSES ALADOS TRANSMISSORES DE LAÇOS DE PARTILHA!

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  7. Eu deixei o comentário no Branco e Preto!
    Peço desculpa, mas nem reparei que este poema era da Amita. Assim, fui lá, deixei o comentário e aprestava-me a vir comentar o teu. É que só tinha reparado na imagem, antes. Tal a sua força, hein?

    Um abraço.
    Jorge G.

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  8. Já comentei no blog original. Belíssima escolha e a autora merece bem esta distinção.

    Parabéns às duas.

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  9. Por mais que tentemos tapar os olhos e os ouvidos, a realidade é tao dura que é-nos impossível calar. Haja esperança em que luz se faça. Obrigado a todos pela sensibilidade e carinho.
    Um bjinho grande, amiga Poesia Portuguesa, e uma flor que bem a mereces

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  10. E assim vai o mundo,
    milhares de anos apóz a invenção
    da roda.
    É lamentável e todos temos uma cota parte de culpa, todos.

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