sábado, março 01, 2014

EPIFANIA DOS DIAS CLAROS...


Mar português em dias cor de cinza


Somos destroços entre objectos e as coisas
Que se instalam no âmago e nos devolvem a aparência

Como imagem especular de urgências
Multicores...

Ajoelhamos perante novos deuses e sacrificamos
Mansidões no lugar geométrico da Abundância.
Novos jardins de Canaã lambendo os dedos
E olhos esventrados na luz fria dos néons.

E calcorreamos o tempo, acorrentados. Novos altares
Erguidos no fervor do Mesmo - cacofonia de uma Festa
De que perdemos razão e rasto.

Sons e cores apenas. Esbracejantes. Sobras
Do festim com que novos ritos se adornam
Na celebração do Excesso...

É neles que reina a divindade e se erguem catedrais
Em seu louvor e culto. São eles a grande Metáfora
Que abocanha. E a Cloaca...

Espectros vivos em cerimonial de nados-mortos.
Somos amontoado e panóplia.

E o Espectáculo.

E a euforia do Crepúsculo
E a pletórica profusão da Mercadoria
Como desenho quimérico do Mito
Demiúrgico...

.......................................................................
Importa redimir a inocência das coisas
E libertar a palavra deserta. E no rosto solar dos homens
Estilhaçar o Espelho e verter o vento.

E as mãos doridas. E o barro amassado.
E a dores do parto.

E na imanência redentora das sombras
Escutar a subtil Diferença.
E alargar espaços onde os dias sejam
Claros.

Manuel Veiga in Relógio de Pêndulo


7 comentários:

  1. beijo de gratidão.

    privilégio a tua amizade.

    e uma honra em figurar nas tuas escolhas...

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  2. O nosso amigo heretico escreve mesmo muito bem!!

    Belo poema!

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  3. Um poema excelente de quem tem a sensibilidade rente à lucidez.
    Beijo aos dois.

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  4. já comentei este poema noutro palco.

    o heretico escreve muito bem poesia.

    :)

    ResponderEliminar

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