Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas,
Do quotidiano entrincheirado entre compromissos,
Das tramas afectivas, do exílio anunciado
No andar inquieto das mulheres.
De rosto em rosto, a caligrafia do amor
implorou a memória das palavras encantadas
e, como se houvesse uma linguagem
de atravessar o tempo, acenderam,
sobre os dias, constelações sonoras.
Mas eu, que não adiro aos calendários
nem acredito em vogais prometidas,
eu parti, de punhos febris,
enlaçando nos braços
um futuro marginal, a qualquer lógica.
A posse da noite, onde me quero lua em todas as fases,
leva-me a glosar os medos num novelo de rimas imperfeitas.
A cidade tem pombas que me perseguem sem eu dar por isso.
Tenho um aqueduto modelado nos olhos
e um dilúvio vermelho no desenho do peito.
Graça Pires in, Poemas Escolhidos 1990-2011, pág. 57
Lindíssimo!!!
ResponderEliminarBjs
A nossa Graça
ResponderEliminarExcelente e otima escolha.
ResponderEliminarEstão de parabens pela página fantastica que têm aqui.
Adoro essa grande senhora que é a D. Graça Pires
Dina Moreira
O dilúvio aí está! De mágoas e medos, de grilhetas e látegos invisíveis. Uma nova forma de holocausto.
ResponderEliminarUm dia, os poemas serão proibidos, caso questionem (ponham em causa) o PODER.
Não te cales!