sábado, junho 30, 2012

Amadeu Baptista

para o Amadeu Baptista

Meu caro amigo
o fim chegou como uma flecha
e não encontro a chave
para decifrar o último enigma.

Pesam-me as pálpebras e as mãos.
Houve dias em que dancei
troquei beijos
sonhei.
Agora, perto do fim
resta-me a soma das lembranças.
Passada já a última dor
acerto os passos nos últimos versos.

Não me angustia a morte
mas os rios onde não deitei os meus olhos
as pétalas que não toquei
as melodias que não ouvi
as estrelas que não espreitei.

Não vale a pena esquivar o tempo
ir buscar a cana de pesca e abalar para o rio
contar histórias aos peixes que não mordem o isco.

Resta-me ainda nos olhos
um grande reservatório de sonhos
que se embaciam.
Mas nem um vestido negro tenho
para o meu próprio luto.

Meu caro amigo
promete cobrir-me de rosas vermelhas
amanhã.
Sei que vai chover.

Não chores por mim.
Cobre-me de rosas cor de sangue
e segue para casa.
Abre a caixa de selos que te enviei pelo correio
e procura neles
as minhas impressões digitais.

No silêncio da casa
tenta tu compreender a vida
enigma de todos os meus dias
esse traço estranho que me acompanhou sempre
essa etérea luz
nem sempre chama
nem sempre ténue.

O olhar escurece-me
e nestas palavras inúteis
medito sobre o fim.

Aconchego-me na despedida
sem saber o que fui
porque nunca me forneceram
o meu livro de instruções.

Inês Ramos
in Antologia de Poesia "Meditações sobre o fim – os últimos Poemas"

9 comentários:

  1. Gostei imenso de poder ler "Meditações sobre o fim" .
    Tão sereno .

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  2. Boa noite.
    Gostaria de saber se fazes parceria, ou divulgação de blogs de poesia neste blog.

    Cumprimentos,
    Cris Henriques

    Blog de poesia:
    http://oqueomeucoracaodiz.blogspot.com/

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  3. Recebi via correio eletrônico o endereço deste blog que desconhecia e me deu um nó na gargante lendo esta poesia porque recentemente perdi um amigo muito querido.
    Tantas vezes nos esquecemos os amigos e quando eles faltam é que vamos percebendo que tinhamos tanta coisa para contar a ele e nem um ultimo abraço tivemos tempo de dar.

    Ana Lencastre

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  4. Excelente homenagem da Inês Ramos ao poeta Amadeu Baptista. A verdadeira amizade e admiração não se dilui com a morte.
    Beijinho amigo e uma flor.

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  5. Só de mentes brilhantes,e não há fim,sublime.

    Tretas

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  6. Aqui me eis, amando e ficando, Obrigada,beijos muitos.

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  7. Maravilhoso!! Chorei...

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  8. SEXTA-FEIRA, 19 DE ABRIL DE 2013
    A CONTRARIO SENSU

    Antes de ser Pessoa,era Fernando.
    Que raio de Poeta embota e esculpe doce alma.

    E tu, defrontas meus olhos de singelo ver,
    E tu, que surtas e indigestas,tão fiel clamor,
    Onde impacientes vontades limitam revolto esse estranho sentir.

    Mas saraça e doce serei eu,
    E que mais posso dizer,
    Se Acropódio em Acrópole, não tem distinção nem pena.


    Mas dorme, o meu sonho,
    Como o fazias!
    Fala em silêncio, esse tão estranho ser.
    Excomunga as verdades que consentes e mente à solidão.
    Foge, casual a vida, quem assim a define.

    Não serei,impropério nem estrepitoso,
    Afoitamente nunca fecho os olhos pela luz.
    Parenética sem pregar, apenas falo pelo o que sinto.
    Falando, reinvento a minha própria linguagem.

    Diz-me,Éter!...
    Porque Érebo, põe-me no escuro...E Daphne recusou o meu amor.
    Diz-me porquê?
    Diz-me, apenas o caminho e fala,
    apenas o que sabes, porque o que não sabes,
    não enche a vida.


    Joaquim Quintas

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  9. Este poema foi lido no InVersos:

    https://vimeo.com/77930944

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