sexta-feira, dezembro 29, 2006

Canto...


Pintura de Isabel Magalhães "emprestado" pelo Antonio Stein




Enquanto houver um rio, hei-de cantar
Lonjuras de outros tempos, esquecidas.
Enquanto houver gaivotas rumo ao mar,
Cantarei lembranças de outras vidas.

Enquanto houver um rio, hei-de sonhar
Venturas de outros tempos, proibidas.
Enquanto houver mordaças de matar,
Cantarei esperanças coloridas.

E enquanto o rio correr e eu cantar
Vontades, ilusões, destinos, fados,
Talvez um dia, o meu canto chegue ao mar

Se não, que espalhem as gaivotas pelo ar
Em pios, em voos, em desenhos ousados
Tudo quanto meu canto nunca ousou cantar.

(Poema de Helena Domingues in Shoshana no Céu e na Terra)


FELIZ ANO NOVO

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Poesia...

Óleo de Tim Schaible


Se as aves partirem
e os amigos sumirem;
Se o céu trovejar
e o amor se apagar;
Se o mundo morrer
e a dor vos doer;
Se a solidão vos surgir
e de medo ferir;
Se a terra gretar
e ninguém escutar;
Se a roda da vida
vos deixar sem saída...
Ainda assim,
ter-me-ão a mim!

(Poema de
Amaral Nascimento in Laramablog )



Imagem Google

domingo, dezembro 24, 2006

...que venham rosas


Pintura de Susan Rios


que venham rosas descer pela chaminé
e outros sinais avancem em direcção ao sonho.
que o mar vagueie terno pela terra,
sem cadáveres,
pernoite nas palavras,
saliente em hélice o hálito do amor.
e uma lua cresça no teu corpo
na serenidade das coisas que te acordam
como uma flor
na verdade que outros sois inventam.

(Poema de Maria Gomes in A Romã de Vidro)


sábado, dezembro 23, 2006

...e porque o Mundo precisa de Paz...


... não devemos esquecer a... Guerra...

Poema de Heloísa BP
Declamado por Henrique Sousa
(Desligar p. f. a música de fundo para ver e ouvir o vídeo)

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Natal 2006


Imagem de autor desconhecido


não te digo do natal coisa nenhuma
do natal enfeitado a sumaúma
que se arruma em cada ano nalgum canto

não te digo do natal em mar de espuma
esse efémero natal-coisa-nenhuma
quebradiço a ter-de-ser e sem encanto

não te digo do natal de coitadinhos
nem daquele de nós todos tão sozinhos
conformados sem ter sonhos nem espanto

não te digo do natal feito de prendas
num afecto leva-e-traz que me encomendas
e trocamos cada ano em qualquer canto

mas te digo um natal fio de seda
do casulo entretecido que te enreda
e te leva ao riso ao sonho em doce encanto

digo ainda do natal feito de enlaces
desfiando o casulo onde renasces
enlaçando cada ser por valer tanto

digo então um natal que desse fio
deslassado mundo fora como um rio
nos envolva a todos nós num acalanto

mais te digo do natal de um outro início
celebrando a nova esperança o solstício
recriado em nossa voz num novo canto.


Poema de Jorge Castro



FELIZ NATAL

segunda-feira, dezembro 18, 2006

As barreiras da razão...


Imagem de Debra Martelli



Hoje não me falem de dor
Levantei as barreiras da razão
Defini as palavras proibidas
Dor, não!
Digam do tempo, da chuva ou da bruma
Talvez do frio das noites
No conforto das casas aquecidas
Digam do mar
Que repousa em cachos de espuma
Diz-me tu, da vida
Não da tua nem da minha
Da dos desconhecidos que se cruzam
Na margem paralela do caminho
Conta histórias de outros tempos
De dias por conhecer
Enche-me de palavras os ouvidos
Das que despertam os sentidos
Sem limites nesta rota de ilusão
Hoje, dor não!


(Poema de Vida de Vidro)


sábado, dezembro 16, 2006

Um dia na Cidade...

Imagem daqui


Na manhã nova, a luz chega de seda
E envolve devagar o Porto Antigo
Como pedindo à noite, ávara e negra
Que troque agora de lugar consigo

Passaram horas; soa o meio dia
Nas torres de granito iluminado;
No apogeu da luz; o céu é sinfonia
E o Douro, imenso diamante lapidado

A tarde cai! É dos Pintores a hora
A cidade é tela, inacabada e pura
Com pinceladas rubras onde se demora
Toda a cor que alastra pela lonjura.

E a noite escura sucedeu ao dia;
As vielas são estreitas manchas pretas
Já ninguém lembra quem é que dizia
Que a esta hora o Porto é dos Poetas!...


(Poema da *Maria Jerónima aqui)

*Maria Jerónima não tem blogue. Conhecia-a numa Noite de Poesia, em que declamou de forma soberba um poema de António Gedeão, que pode ser lido aqui e foi um enorme prazer revê-la no Blogue Chave de Poesia

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Ser...


Pintura de Susan Rios


Eu não quero enriquecer como os demais
Pensando em tudo o que me apraz comprar;
E não quero só bens materiais
Quando outros mais posso amealhar.

Trincando petiscos preciosos
De risos enchendo serões quentes,
Eu quero os meus amigos ansiosos
Em tornar estes momentos mais frequentes.

Eu quero enriquecer ao dar a mão
Àquele que ao meu lado ma estenda,
Sem nada dar em troca, só um olhar
Que docemente pede que o entenda.

Pois riqueza não há maior que esta,
De dar o coração e receber,
Afeição, ternura manifesta
Que nunca é demais oferecer.

(Poema de Era uma vez um Girassol )

segunda-feira, dezembro 11, 2006

...amor é isso!


Imagem de autor desconhecido


Havemos de descansar. Sim. Descansar
Deixar de turbilhão a vida à porta
Como maré só de ida. Devagar
Que o amor se faz paixão, mesmo morta
Quando pára cansada, de madrugada
Por entre gritos e segredos de tudo e nada
Por dentro de mim na saudade de ti
Por certo sem rumo, sem aqui ou ali
Por força da Natureza que em nós se faz
Havemos de descansar. Sim. Mesmo sem paz...

Havemos de nos ver. Sim. De nos ver
Partir da terra à proa nos ventos
Como tempestades de carinho. Nascer
Que a paixão se faz amor, nos momentos
Quando adormece, se esquece
Por entre as noites em que tudo nos aquece
Por dentro da dança que se faz canção
Por certo sem medo, sem compromisso
Por força dos sonhos que nunca temos em vão
Havemos de nos ver. Sim.
Porque amor é isso!



(Poema de Pedro Branco in Das palavras que nos unem)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

O Sonho Adiado...


Óleo de *Alfredo Keil


O poeta continua a viagem
Pelo cais dos sonhos...

Mesmo sem a luz do Farol,
Sem a frescura da água
Das bicas do Chafariz,
Não desiste de sonhar...

Percorre o Ginjal
De mão dada com a serenidade
Deixa-se empurrar pelo vento
Naquele carreiro da liberdade

Apesar das paredes cinzentas
Marcadas pelo abandono
Acredita num futuro azul
Inspirado na beleza do Tejo
E no encanto das suas margens

O poeta continua a viagem
Pelo cais dos sonhos...

E promete,
Nunca desistir de sonhar...


(Poema de Luís Milheiro in Casario do Ginjal)

*Uma breve nota sobre Alfredo Keil: Compositor, escritor e pintor contemporâneo, deixou mais de 2000 obras, entre telas e desenhos. É ainda o autor da música "A Portuguesa" que com letra de Henrique Lopes de Mendonça, deu origem ao actual Hino Nacional.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Rasgo de Alegria...


Pintura de Ana Maria Jaramillo


Rasgo de alegria
Rompe pelo meu coração
Sinal de harmonia?
Ou apenas uma vibração?

Tempo curto que senti
Provavelmente por algo que assisti
Que no entanto já me escapou
Ou foi o vento que o levou.

Sinto agora a falta dessa emoção
Que estava dentro de mim
Só a tenho sentido na minha ilusão
E como me faz falta momentos assim.

Voltei a sentir de novo a sensação
De algo que pensei já ter esquecido
Voltando a dar razão
Que por estes momentos…tudo faz sentido.


(Poema de João Filipe Ferreira)

segunda-feira, dezembro 04, 2006

O Mar em nós


Imagem Google


Canto a vida como a conheço
E sei que o Sol é quente no
verão
Penso em ti quando adormeço
E por ti Amor farei uma
revolução.
Na minha vida até o sonho é mar
A imensidão perdida
na demora
De olhar o céu e poder contemplar
O azul onde tenho a
minha hora.
Canto o mar... em nós o sinto
E tenho em mim as ondas a
bater
Que ao Amor eu nunca minto
Nem lhe escrevo só por escrever.
Ah! se eu pudesse na verdade
Levar o barco...aonde tu estás
E ter
no teu olhar a felicidade
Das marés que ficam para trás.
Talvez o
sonho seja apenas ficar...
No areal de uma praia qualquer
E ouvir no
mar sereias a cantar
Quando a Lua vier nos conhecer.
E no meu olhar
de sonhador...
Procuro as rochas que há em ti
Rasgo tempestades de
Amor...
Digo-te tudo o que não esqueci.
Um dia, quem sabe, talvez a
sós
Tenhamos nestas águas uma cama
E como ilhas uma parte de
nós

Abraçando as ondas de quem ama.

(Poema de *F. Corte Real)

*Autorizado pelo autor, que não tem blogue

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Do Litoral...


Imagem de Ângela Maria Crespo


Falo do vento
porque o mar ondula
na larga emoção dos teus cabelos.
Falo do mar
porque um barco ainda navega
na verde distância dos teus olhos.
Falo de ti
porque a memória do tempo
se recusa a ser apenas de palavras.
E se palavras digo é porque sei
que outras flores não tenho para calar
o silêncio agrilhoado dos meus versos.


(Poema de Carla in O que de mim sei )

quarta-feira, novembro 29, 2006

...das palavras, se faz Poesia...





o corpo.

cumpro as horas,
nessa
penumbra
que te cobre
e onde pouso as mãos.
com gestos lentos
e num sangrento
silêncio,
(onde escondo
a tristeza
que me corre
entre cigarros),
escavo
o abismo
onde me és pão e vinho.
o corpo,o teu,ainda.
só aí me lembro ou sei.
como quem acosta,
fosforescente,
ao desabar espumoso
de madrugadas no mar.


(Amadis de Gaula in abattoirblues)

Pintura de Tamara de Lempicka

segunda-feira, novembro 27, 2006

Trovas Soltas


Pintura de Nela Vicente

A Vida é luta infindável
que todos querem ganhar;
mas vencer é improvável,
por isso, é aconselhável
com perspicácia jogar.

Muitos houve que trilharam
caminhos de perdição;
outros que desesperaram,
corpo e alma destroçaram,
por obter libertação.

Tenho sede de Absoluto
e ânsia de Perfeição…
Eu sou diamante em bruto
que sonha a cada minuto
na sua lapidação.

Se dizem que ele houve um Deus
que de Si me copiou,
rasgarei da noite os véus
e indagarei dos céus
se esse Ser me originou.

Se é loucura querer saber
e pecado querer amar,
pecadora quero ser
e, alienada, sofrer
escárnio da gente vulgar.

Procuro fazer crescer
o pouco que tive em sorte;
quero amar, rir e sofrer
− pois não é por não viver
que terei perdão da Morte.



(Poema da Aspásia in O Jardim de Aspásia)

quinta-feira, novembro 23, 2006

Estado de Espírito


Imagem de BGallery


Tira-me do silêncio,
Sussurrando palavras lapidadas,
Na intemporalidade,
Dos teus pensamentos.

Absorvidos de desejo!

Gravuras esculpidas,
Numa utopia,
Inexistente e abstracta,
Do emudecimento apaixonado.

Longínquo ou perto,
Ritmando os nossos corpos,
Na ilha da tentação,
Fundeando a luz
Na descrição.

De um amor envolvente,
E profundo.


(Poema de @Memorex )

segunda-feira, novembro 20, 2006

Mulheres da minha Vida...

(Balanço final)


Imagem de BGallery


Mulheres da minha vida, não queirais
Que eu diga, nesta hora, por favor,
Qual foi a que de vós eu gostei mais,
À qual me consagrei com mais ardor

Sendo a mulher flor tão delicada,
Como escolher entre uma e outra flor?
Se colho a rosa por ser tão perfumada
desmereço ao cravo e ao nardo o seu valor?

E a violeta, o jasmim e a açucena
Ignorá-las quem não teria pena?...
Por isso todas guardo em meu canteiro

Não me pergunteis, pois, qual mais amei
Nenhuma de vós jamais eu olvidei
E amo ainda todas, por inteiro


(Poema de
António Melenas in Escritos Outonais)


Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

quinta-feira, novembro 16, 2006

Poesia em fuga...


Imagem de F. Agell


A poesia perdeu-se nos labirintos da emoção,
escapou por alamedas nubladas de dor...
Horizontes tristes tresmalhados do coração
que envergam a nostalgia de um amor.

Onde estão as flores que despontavam
nas alamedas secretas dos sonhos,
aromas de infinito que embalavam
auroras enamoradas, pensamentos risonhos?

Ó poesia que fugiste nas asas do vento...
Levaste contigo os lírios de ternura
que esculpiam estrelas no firmamento!

Agora imersa estou num vazio de tortura...
Tudo em mim é angústia e lamento...
Sou um jardim sem flores... em amargura.


(Poema da *Fanny* in Simplesmente Murmúrios...)

terça-feira, novembro 14, 2006

Neste muro branco





Neste muro branco
segredam-se histórias caladas na cal.
Recordam-se breves fragmentos
de um dia singular,
onde papoilas dançam ao vento
e uma criança tropeça no teu olhar.

Neste branco muro
vivem-se histórias pintadas na pedra.
Anseiam-se beijos quentes
que tardam em principiar,
onde as mãos se procuram lentas
na nudez inquieta do teu respirar.

E é neste muro de cal branca,
que se revivem histórias de cada luar,
são histórias minhas e tuas,
memórias de todos os que souberam amar.


(Poema e imagem de Jose Fontinha in aZArt)

sábado, novembro 11, 2006

Beija-me...


Lápis de Andrei Protsouk


beija-me uma vez
beija-me sete
beija-me setenta vezes
vezes sete

que te beijo uma vez
te beijo sete
beijo-te setenta vezes
vezes sete

amor que nunca esquece
o beijo mais fecundo
que só ao amor obedece
sete vezes, vezes o mundo


(Poema de P Az in O Zigurate)