domingo, maio 13, 2007

ao cabo do tempo



A barca já não tem porto
e os dias não consolam as noites
do pescador.
O tempo esqueceu-lhe as arribas,
as praias, os ventos
e também roubou o bailado às marés.
Dos rumos nunca achou sentido:
era preciso ir além de mais além descobrir.
Por isso cuidou que navegar
queria dizer para sempre.
...
Fez das velas o tecido dos sonhos,
mas porque viajou demais,
tornou-se estrangeiro de si mesmo.

(Poema e fotografia de Tinta Permanente- Folhas da Gaveta)

quinta-feira, maio 10, 2007

£oµ¢o Ðe £Î§ßoa

Num comentário deixado no poema anterior o £oµ¢o Ðe £Î§ßoa) mostrou toda a sua “loucura” e meteu uma cunha para aparecer no Poesia (é melhor lerem o comentário...)
Não é a primeira vez que partilho os In§†an†e§ ðe µm £oµ¢o e é com alegria que acedo ao seu pedido, porque este é um blogue de partilha a todos que amam a poesia e o valor das palavras…


Imagem do £oµ¢o Ðe £Î§ßoa


Se há diversas dimensões
Por que não vivem em mim?
Absorventes, inseparáveis
Sem nenhuma simetria.

Não há pendulos
Entre a chama que sufoca
E o oxigénio soluvel na água
Quando um se desenvolve
Através da realidade do outro.

Convivência,
Nem sequer passiva
Entre satisfação e privação
Contradições misturadas
De intuição e rectidão.
Paradigmas e sintaxes.

Tédio e tesão!

Permitam-me trespassar,
desordeiramente a fronteira.

...Das três dimensões...

(Poema do £oµ¢o Ðe £Î§ßoa)

terça-feira, maio 08, 2007

Tu mesmo...


Imagem daqui


Que um dia encontres
nas tuas mãos
aquilo que procuras
para além de ti

Que um dia descubras
no silêncio da alma
o que esperas de ti mesmo

Porque metade é querer
E outra parte é recusar

Que um dia
as metades do Amor
de que és feito
se unam e não mais se separem

Porque metade de ti é querer
E outra parte é recusar

Que um dia
alcances a plenitude
e a Paz que mereces

Porque metade de ti
é alegria
e a outra parte
é tristeza

Uma metade de ti
é a vida que te abre os braços

e a outra parte de ti...
és tu mesmo...!


(Poema da
Magia)

domingo, maio 06, 2007

A mãe

Como muitos sabem, o objectivo deste blogue, teve como propósito dar a conhecer a Poesia que ia descobrindo na blogosfera.
Depois de um intervalo e cumprindo a promessa feita, de que não iria deixar o projecto a que me dediquei de alma e coração, trago-vos um poema de alguém que já não é uma iniciante, antes pelo contrário, mas que tem um blogue lindo, muito discreto, onde vou muitas vezes, acalmar os meus dias e o meu coração…
Trata-se de
Graça Pires a quem pedi autorização para postar este poema e a imagem que recolhi do seu blogue e que aqui vos deixo com um abraço carinhoso, especialmente a todas as Mães...


Pintura de Balthus



Adivinhar, no teu rosto, o rio da infância
e deslizar, em deslumbradas canoas,
pelo sal dos teus olhos.

Afaga os meus cabelos, mãe
para que, a palavra crescer,
não doa, de novo, nos meus passos.
Deixa-me ver, na tua pele,
as linhas do silêncio,
com que teceste a coragem
e os sonhos : a parte da tua herança
que, legitimamente, me cabe.

(Poema de Graça Pires )

Adenda:
O meu agradecimento especial ao A.S. pela atribuição que fez a este blogue, do “Thinking Blogger Award”, que dedico a todos os que habitualmente me presenteiam com os seus comentários, que muito me sensibilizam. Grata a todos.

quinta-feira, maio 03, 2007

Jardim dos Poetas...

Vincent Van Gogh in Jardim dos Poetas


Tantos bons poetas! Tantos bons poemas!
São realmente bons e bons,
Com tanta concorrência não fica ninguém,
Ou ficam ao acaso, numa lotaria da posteridade,
Obtendo lugares por capricho do Empresário...
Tantos bons poetas!
Para que escrevo eu versos?
Quando os escrevo parecem-me
O que a minha emoção, com que os escrevi, me parece –
A única coisa grande no mundo...
Enche o universo de frio o pavor de mim.
Depois, escritos, visíveis, legíveis...
Ora...E nesta antologia de poetas menores?
Tantos bons poetas!
O que é o génio, afinal, ou como é que se distingue
O génio, e os bons poemas dos bons poetas?
Sei lá se realmente se distingue...
O melhor é dormir...
Fecho a antologia mais cansado do que do mundo -
Sou vulgar?...
Há tantos bons poetas!
Santo Deus!...



(Álvaro de Campos, 1/5/1928)

quinta-feira, abril 26, 2007

O improviso de viver

Óleo de Nela Vicente


Voltaremos muitas vezes a um jardim de plátanos
com o luar engatilhado nos olhos.
Dir-te-ei nomes de estrelas ao acaso,
como um desvio da fronteira desenhada ao redor de nós.
Lado a lado, iremos rever novembro pelas ruas,
devassando vigílias, cantando em surdina
a intimidade de sermos amantes,
neste percurso de pássaros subitamente em fuga.
As árvores são discretas.
Por isso, levar-te-ei para habitares comigo
o improviso de viver.
Estaremos em toda a parte.
Sobrevoaremos os espaços interditos
e seremos a notícia anunciada
pela voz indomável dos que ostentam na boca
a urgência dos beijos e do riso. Vem comigo, amor.
No escuro chegaremos à fonte pelo cheiro da sede
e moldaremos na água a transparência dos momentos
em que a madrugada se comove.

Poema de
Graça Pires

quarta-feira, abril 25, 2007

Portugal...


Imagem de Odilon Redon


Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
*
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para ó meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

(Alexandre O'Neill in “Portugal”, Feira Cabisbaixa, 1965)

terça-feira, abril 17, 2007

Os olhos da alma...

Um dia destes as janelas abrir-se-ão de novo...


Imagem do Tozé

segunda-feira, abril 16, 2007

Prémio...

Atribuindo o Award Thinking Blogger ao Poesia Portuguesa, o Ruvasa meteu-me numa grande complicação.

Ao aceitar este prémio tenho por missão distinguir cinco outros blogues, de minha preferência. Ora, este é um número demasiado pequeno, para a imensidão de blogues por quem tenho preferências especiais.
Mas as regras do jogo são estas e, com grande pena minha, tive que escolher somente cinco Blogues, pelo que por ordem alfabética os indico.

Branco e Preto-Amita
dois extremos que fazem parte do TODO e pela peculiar serena escrita.

Cabana de Palavras-Lena Maltez
a ternura da alma com cheiro a maresia

Orion-Helena Domingues
a sensibilidade do pensamento

Rouxinol de Bernardim
a poesia e o humor de mãos dadas

Sete Mares-Jorge Castro
um poeta que vagueia em muitos mares.


Quebrando as regras vou atribuir uma Menção Honrosa ao

Luís Gaspar
pelo trabalho meritório no Estúdio Raposa a favor da Poesia.


O meu agradecimento especial ao Ruvasa por esta surpresa tão agradável e ainda à PoesiaMGD que posterirmente me nomeou e a quem agradeço a gentileza da nomeação.


Flor da Zu

Na simplicidade desta flor deixo o meu grande abraço

sexta-feira, abril 13, 2007

De Amor escrevo...


Fotografia de Haleh Bryan


De Amor escrevo, de Amor falo e canto;
E se minha voz fosse igual ao que amo,
Esperara eu sentir na que em vão chamo
Piedade, e na gente dor e espanto.

Mas não há pena, ou língua, ou voz, ou canto
Que mostre o amor por que eu tudo desamo,
Nem o vivo fogo em que me sempre inflamo,
Nem de meus olhos o contino pranto.

Assi me vou morrendo, sem ser crida
A causa por que em vão mouro contente,
Nem sei se isto que passo é vida ou morte.

Mas inda da que eu amo fosse ouvida
E crida minha voz, e da vã gente
Nunca entendida fosse minha sorte!


(Soneto I de Pêro de Andrade Caminha in "Poesias Inéditas")

sexta-feira, abril 06, 2007

Continuando... Primavera...

Fotografia de Carlos Neto


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

(Alberto Caeiro in "Quando Vier a Primavera")

Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)





domingo, abril 01, 2007

Abril... Primavera...


Pintura de Arthur Hughes


Namorou-se uma princesa
Dum pajem loiro e gentil;
Chama-se ela – Natureza,
Chama-se o pajem – Abril.

A Primavera opulenta,
Rica de cantos e cores,
Palpita, anseia, rebenta
Em cataclismos de flores.

(...)
Tudo ri e brilha e canta
Neste divino esplendor:
O orvalho, o néctar da planta
O aroma, a língua da flor.

Enroscam-se aos troncos nus
As verdes cobras da hera.
Radiosos vinhos de luz
Cintilam pela atmosfera.

Entre os loureiros das matas,
Que crescem para os heróis,
Dá o luar serenatas
Com bandas de rouxinóis.

É a terra um paraíso,
E o céu profundo lampeja
Com o inefável sorriso
Da noiva ao sair da igreja.


(Poema de Guerra Junqueiro
in Tesouro Poético para a Infância, antologia)


Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

terça-feira, março 20, 2007

Aguardando a Primavera...


Sandro Botticelli - "La primavera" (1482)


Já se afastou de nós o Inverno agreste
Envolto nos seus húmidos vapores,
A fértil Primavera, a mãe das flores
O prado ameno de boninas veste.

Varrendo os ares o subtil Nordeste,
Os torna azuis: as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor celeste.

Vem, ó Marília, vem lograr comigo
Destes alegres campos a beleza,
Destas copadas árvores o abrigo.

Deixa louvar da corte a vã grandeza:
Quando me agrada mais estar contigo
Notando as perfeições da Natureza!


Poema "Convite a Marília" de Manuel Maria Barbosa du Bocage
Sonetos-Ed.Europa América(Pág.38)



Dedicado ao Dia Mundial da Poesia


Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

quinta-feira, março 15, 2007

Não te amo


Pintura de Louis Icart


Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
E eu n'alma --- tenho a calma,
A calma --- do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida --- nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.


Almeida Garrett in Folhas Caídas(1853)

sexta-feira, março 09, 2007

Nascemos para amar

Por diversas vezes me interrogaram dos meus gostos poéticos e que este não deveria ser somente um blogue dedicado à poesia da blogosfera mas sim, a toda a poesia de expressão de Língua Portuguesa.
De forma alguma abandonarei a poesia dos blogues, mas durante algum tempo irei aqui partilhar muitos outros autores…


Imagem de Dante Gabriel Rossetti



Nascemos para amar; a humanidade
Vai tarde ou cedo aos laços da ternura:
Tu és doce atractivo, ó formusura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão n'alma se apura
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abismou nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre;
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

(Bocage in "Obra Poética" 1997)

sexta-feira, março 02, 2007

Hoje não há Poesia...

Junto-me aos que procuram o CHIP, a ÍSIS e a NUT pertencentes a Teresa Durães do Blogue Voando por aí


Chip


Nut


Isis


Desapareceram segunda-feira (19 de Fevereiro) passada entre as 17h30/18 e as 19hH00 do Montijo, um Cocker Spaniel dourado (2 anos), Pastora Belga Malinois (2 anos), Pastora Alemã arraçada de Husky.

Tanto a pastora belga como a arraçada pastora alemã têm chip. O canil do Montijo já foi contactado.

A quem os encontrar ou souber do seu paradeiro, por favor contactar a
Teresa Durães que se encontra profundamente triste com este desaparecimento.

GRATA pela ajuda que possam prestar.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

levo-te ao azul


Fotografia de Patrick Wecksten


de partida para um lugar com telhados de silêncio
levo-te para não morrer nos braços exaustos do vazio
vais comigo com a tua mão desconhecida
a pontuar cada segundo de saudade
levo-te como se transportasse um segundo coração
oxigenado pelo que há-de vir
um fato de mergulhador
para tocar a mais secreta estrela do mar
cingida por algas
levo-te porque nenhuma palavra pode encher
este vaso de sol que desponta
em cada palavra tua
levo-te às cavalitas do sonho
na adolescente fogueira
onde ardem todas as sebes
todos os limites
levo-te em contramão
para transgredir docemente
as estradas e ruas e caminhos
os desejos de sentido único
levo-te simplesmente porque
tu és o meu farol que varre
todos os poros interditos
uma vela ao rubro
na mais fechada escuridão
levo-te no verso inacabado
porque o poema só
termina
quando acordares a meu lado



(Poema de Alberto Serra in vinte anos )

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Dança


The art of Ballet by Tonny


Para quem danço?
Nem eu sei....

Danço com as palavras, com as mãos, com os olhos
Danço sozinha no meio das gentes
Danço nua, vestida de azul, ou de negro e até de vermelho já me cobri.
Danço a rir e a chorar
Danço a sonhar
Até quando amo, eu danço.

Vivi sempre a dançar, mesmo parada no meu canto
Dançarei sempre, mesmo que a música se cale
Ensaiei passos diferentes para acordes vários
Em alguns, tropecei, até caí
Mas sempre a dançar, nunca desisti
E retomava os passos novos que aprendi
Porque a dança é vida e quando eu parar
É porque morri!

Se é para ti que eu danço?
Danço para mim!
Mas esta noite, sim, a minha dança foi para ti!

(Poema de MT in Vivências)

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

eu faço o ninho


Pintura de Jaoni


quando as palavras têm o peso de um passarinho
eu faço o ninho
num canto do teu sorriso
alongo o olhar pelos pêlos dos teus braços
que são só braços
a luzirem ao luar
deixo-me entreter devagar
na paródia de uma história
num desfiar da memória

é leve e brilha a pupila
cintila levita sem ciso que me prenda
é só renda a rendilhar
brincamos no faz de conta
tu és quem conta eu sou a tonta
até o dia clarear

depois
jogamos palavras com emoção mais pesadas
espreitando nelas as margens do voo a saber voar

assim vamos
construindo coisas simples sem destino
imos novos novos rimos
sabemos nada assim vimos
sozinhos somos num par

(Poema de MJM in Silepse)

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Escrita


Pintura de Susan Rios



Na folha lisa e escorreita,
O lápis afiado e porfiador
Elabora percursos mansos
Em sinuosas ruas que se espraiam.

Escrever é desagrilhoar
O pó da memória em vão acumulado
E gritar,
E dizer alto,
Que revolta nos acomoda o peito,
Que afago nos acaricia a alma.

Escrever é arrojar o Futuro.
Ao alcance de um artigo,
De um pronome,
De um verbo.
Verbo é “criar”,
O início de tudo,
A sedição,
A ociosidade das palavras.

Tresfolgo a escrita
De um trago.
Acre, por vezes,
Libertador, sempre.

O ar está abarrotado de palavras.
As mais infalíveis estão, contudo,
Em bolsos de pequenas crianças,
De mãos rosadas e roliças,
Que as retiram em movimentos loquazes
E as levam à boca como rebuçados
Inspiradores da candura da infância.

Tu, Criança,
És quem melhor descreve o mundo,
Porque és a vagem verde viçosa
De uma aurora que não distingue nuvens.

(Poema de Filipe Lamas in Tretas & Letras)