segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Convite

Participação do lançamento de "Entre o Sono e o Sonho", III Antologia de Poesia Contemporânea, Edição da Chiado Editora, a realizar no próximo dia 25 de Fevereiro (Sábado), pelas 15,30 no espaço Zeno Lounge, no Casino Estoril.

Eduardo Aleixo,
Isabel Vilaverde, Maria De São Pedro, Otília Martel, Paula Trigo, Rui Serra, Teresa Cunha, Teresa Durães e muitos outros, farão parte desta Obra.



Capa do livro




UM DIA

Um dia
vou dizer-te,
a versão eloquente
de quem fomos,

…dizer-te
dum pretérito simples,
e do futuro condicional
incerto.

Leremos livros
de odores ligeiros
saboreando chás
de sabores diversos,

Diremos poemas
inventaremos núpcias
juraremos juras
e cantaremos versos,

Descobriremos portos,
barcos, travessias,
tormentas brancas
e algumas calmarias…

Tudo isto amor,
e nada mais,
brandos e contemplativos,

eu prometo,

…um dia.


(Bósnia 1998)

Poema de Teresa Cunha
in, III Antologia de Poesia Contemporânea, (Chiado Editora)

CONVITE


Espero encontrar-vos lá!

sábado, fevereiro 11, 2012

Porque existe...

Caros amigos e comentadores

Há dúvidas e questões que por serem tão óbvias, no meu entender, não merecem explicações muito extensas, por isso e para aqueles que têm levantado, via email, dúvidas acerca das escolhas que se fazem neste Blogue (re) publico um texto de 30 de Junho de 2006, sobre o mesmo assunto.








Imagem retirada da internet


O nascimento de um blogue não tem forçosamente de ter um pressuposto…
Ele acontece pela vontade de partilhar conhecimentos, sejam de que espécie for, dentro das aptidões de cada um.
A propósito disto e, como não sou pessoa de virar a cara a nada e muito menos a ultrajes, deixei arrefecer em mim, a vontade de responder de imediato, a provocações que tem sido sujeita a autora deste espaço.
Não me move qualquer tipo de protagonismo, muito menos qualquer interesse comercial na divulgação deste ou daquele blogue que aqui referencio, mas sim o aperfeiçoamento do meu próprio conhecimento e a partilha daquilo que vou encontrando ao longo dos meus passeio, neste mundo blogosférico.
Exceptuando aqueles que tiveram acesso directo a um conhecimento pessoal, poucos são os bloguistas que me associam a qualquer outro blogue que, a nível pessoal, eu seja detentora. Nada neste blogue referencia quem é o seu autor, exceptuando os textos de blogues que me dão a permissão e honra, de aqui me deixarem colocar os seus escritos.
E faço-o, porque mais do que escrever, ler e partilhar esses blogues, é a minha verdadeira prioridade.
Como já referi anteriormente neste blogue, este foi um projecto individual, que nasceu da MINHA vontade de dar a conhecer aquilo que, no meu entender, se escreve de melhor e em língua portuguesa, na blogosfera.
Por vezes, perco-me na infindável lista de favoritos, tantos são aqueles que convosco gostaria de partilhar. Mas a seu tempo, o farei.
Posto isto, e com a serenidade que a maturidade e os anos já me oferecem, gostaria de uma vez por todas, acabassem com as dúvidas sobre a existência e escolhas que aqui se fazem. Elas fazem-se, por mero amor à palavra que me oferecem a ler, venham de quem vier, independentemente do sexo e da idade.
E o tipo de calendarização prende-se, unicamente, por oportunidade de postagem. Nada mais.
Finalizando, quero fazer um agradecimento a todos os que me deram a oportunidade de partilhar aqui as suas obras, porque são a razão da existência deste Blogue.

Obrigada.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

“O Despertar dos Verbos”

Algures no tempo e através das habituais viagens pela blogosfera descobri o Alien8 em Título Qualquer Serve que originou que a sua Petição Inicial fosse o poema escolhido para aqui ser partilhado.

Alien8”, bloguista; Mário Domingos, advogado e poeta; em Dezembro último publicou o seu primeiro livro de poemas “O Despertar dos Verbos”.



Mário Domingos



À procura das palavras

I
Subi então até à raiz do poema
e aí encontrei uma flor petrificada.
Olhei em volta, à procura das palavras
que pudesse comprar a minha sede:
- Era um deserto de nervos
Com margens de sangue
A paisagem na raiz do poema - eu.
Murmurei vagamente uma oração antiga
E quase me desfiz em pó de tanto olhar
E me arder a vista atroz, incendiada, no crepúsculo
inigualável. Silêncio e mais silêncio.

II
A água corria, corria por entre as pedras,
levava no corpo destroços de cidades,
laranjas esquecidas na penumbra,
raparigas ironicamente vestidas, vestidas de verde,
raparigas-água impressionantes, sorridentes.
A água corria e era muita e era bela. Levava
A palavra procurada, a palavra do poema
algures no corpo, recatada e mansa, talvez adormecida.
Eu sabia apenas que entretanto amanhecera.

III
Tenho sede. Ergo-me de repente e abandono
o amável leito de todos os dias. Veloz como
o navio que sabe seguro o porto, ganho
o espaço ritual que me separa de mim.
Tenho sede. O meu pulso é algo de concreto e latejante,
assim me sinto e reconheço, à procura das palavras
na raíz incandescente do poema - eu.
São de pedra as cidades, são enormes e movem-se
no ritmo lógico em torno dos meus ombros.
A flor petrificada olha-me heroicamente, meigamente,
o seu espanto é de carne rigorosa. Tem cinco pétalas
azuis emocionadas, inscritas pouco a pouco nos meus olhos
maravilhosos de ironia, incrivelmente densos.

Poema de
Mário Domingos


Porque os Poetas não morrem ficarão para sempre as tuas palavras gravadas no Universo.

Até sempre, Alien8. Até sempre, Mário Domingos.
R.I.P.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Rui Costa (1972 - 2012)

"Rui Filipe Morais Aguiar da Costa, de 39 anos, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu a profissão de advogado durante seis anos em Lisboa e Londres, concluiu um mestrado em Saúde Pública em Leeds, residia há dois anos no Brasil e morreu durante a sua recente estada no Porto para as festas do Natal e passagem de ano com a família.

Era considerado um dos mais inovadores e promissores autores da nova literatura portuguesa.

Com "A Nuvem Prateada das Pessoas Graves", que publicou em 2005 nas Quasi Edições, ganhou o Prémio de Poesia Daniel Faria e, em 2007, recebeu o Prémio Albufeira de Literatura pelo romance "A Resistência dos Materiais".

Também em 2007, traduziu o livro de poesia "Só Mais Uma Vez", do poeta espanhol Uberto Stabile, para a coleção Palavra Ibérica, e em 2008 traduziu "Quarto Com Ilhas", do poeta espanhol Manuel Moya, para a mesma coleção, na qual publicou, em 2009, "O Pequeno-Almoço de Carla Bruni".

No mesmo ano, lançou ainda "As Limitações do Amor São Infinitas", pela editora Sombra do Amor.

Co-organizou a Primeira Antologia de Microficção Portuguesa (Exodus, 2008) e colaborou em diversas publicações, como "Poema Poema -- Antologia de Poesia Portuguesa Actual (Huelva, 2006); "A Sophia" -- Homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen (Caminho, 2007); "Um Poema para Fiama" (Labirinto, 2007); "Sulscrito" -- Revista de Literatura; Revista Big Ode e Revista Piolho nº 2.

Em 2010, estava a trabalhar numa tese de doutoramento em Ciências da Saúde sobre o discurso e experiências de transformação do sector da saúde em Portugal e no Brasil
."
(Fonte)


Rui Costa


Elegia Azul

Clara, como talvez tu antes da última esquina da noite,
uma imagem redonda colava-se aos meus dedos por entre
as folhas de papel que lentamente ardiam. Foram sempre
mais as páginas que juntei do que aquelas de que pude
separar-me, naquele T1 pequeno com vista para Monsanto
e para o teu corpo sempre azul.
Infelizmente, não fora capaz de preparar
o silêncio que sempre se segue a tudo o que
não somos, dirias tu, o rumor de instantes que nos apanha
na canga e nos sugere o vale sem luzes e a varanda grande.
Parado sei que isso é poesia, um sonho, pequenas alucinações
de primavera sem apelo no fundo destas veias e sei também
que continuas a existir e vais ser minha muitas vezes,
como eu quero ser teu intermitentemente em cada lua nossa.
Mas tu sabes como os astros nos pregam partidas ao telefone,
como em certos dias a pique para o sol embatem nas antenas,
e este ligeiro pesadelo é apenas o desconforto baço de saber
que há coisas demasiado belas para não serem tristes.


Poema de
Rui Costa in "Os Dias do Amor", selecção de Inês Ramos, pág. 370

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Em dia de aniversário de nascimento... recordar Eugénio de Andrade

José Fontinhas Rato nasceu na Póvoa de Atalaia em 19 de Janeiro de 1923 tendo falecido no Porto em 13 de Junho de 2005 e foi conhecido no mundo cultural como Eugénio de Andrade




Passamos pelas coisas sem as ver

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Poema de
Eugénio de Andrade

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Atribuição do prémio Dezembro/2011...

O público comentarista escolheu, com dezanove (19) comentários registados o poema "as coisas elementares " de António José Cravo terminando com esta atribuição o passatempo que esteve disponível desde Outubro passado.

A gravação em vídeo efectuada pelo Sons da Escrita e voz de José-António Moreira está disponível no Youtube.



(Desligar a música de fundo para ouvir o vídeo, p.f.)


O Poesia Portuguesa agradece a todos os que tornaram possível o “passatempo do poema mais comentado” em especial ao Sons da Escrita pelo trabalho realizado na produção dos vídeos dos poemas premiados e ao José-António Moreira por ter dado voz aos mesmos.

sábado, dezembro 31, 2011

Morre-se de solidão no meu país




A solidão prolongada
Em forma de sombras
Neutras
Esbatidas
Infiltrada nas paredes
das casas fechadas – com gente dentro
e a noite a fechar o dia mais uma vez
duas vezes – muitas vezes

e morre-se devagar no meu país

as árvores no Outono estão nuas – esquálidas
no Inverno o frio magoa os ossos e a alma
mas talvez os melros cantem antes da próxima primavera
se o verão chegar todos os dias
no sol de uma tigela de sopa fraterna

morre-se devagar no meu país

e depressa tudo se esquece

Poema de
Piedade Araújo Sol




Nota da Autora: faltam dados estatísticos para idosos que morrem sós em casa

1ª. imagem de Gonçalo Lobo Pinheiro

2ª. imagem foto pessoal


sábado, dezembro 24, 2011

as coisas elementares



falo das coisas mais
elementares

o sino da igreja
onde um galo não canta
um seixo rolado
guardando o tempo
dentro de si
um torrão de terra
grávido de uma semente

mais elementares ainda

os sorrisos presos nos lábios
das crianças tristes
as lágrimas
rios de salgados
nos leitos dos rostos abandonados
nos lares/depósitos

falo porque
estou cansado de comer silêncio
e ler poemas de amor
com tanto desamor
a caminhar por aí

as coisas mais elementares
são as que deviam ocupar
o ventre das palavras por parir

Poema de
António José Cravo

Atribuição do prémio Novembro/2011...


Conforme atempadamente foi referido na postagem de 27 de Setembro ao iniciar-se o “passatempo do poema mais comentado” o público comentarista escolheu, com sete (7) comentários registados, o poema “do fim dos meus dias...” de Virgínia do Carmo.

A gravação em vídeo efectuada pelo
Sons da Escrita e voz de José-António Moreira está disponível no Youtube.



(desligar por favor a música de fundo para ouvir o vídeo)

sábado, dezembro 17, 2011

desiguais se igualam


Imagem de James Harrigan



desiguais se encostam
desiguais se destapam em fios de som
metálicos se enferrujam
desiguais se sentem
sem sentir o igual do tacto
desiguais se tentam enroscar
metálicos
gritam finos sons de cordas rijas
desiguais se amam em cordas
esticadas
desiguais se aconchegam
em cordas que vibram
desiguais se gritam
metálicos
não se olham
desiguais se tocam em notas de viola
desiguais se igualam
em desalinho se deitam
alinhados
encostados se amam
encostados se ouvem
desiguais gritam
metálicos
desiguais se misturam
em sons desabafados
deitados em tecidos amarrotados
desiguais se igualam


Poema de
Teresa Maria Queiroz

sábado, dezembro 10, 2011

Gostaria tanto…


Pintura de Philippe Loubat


Gostaria tanto….

De tocar a superfície da maresia
Com as minhas mãos sedentas e sentir-te apelo…

De escrever-te pétalas tinta sorriso
E declamar-te com os teus versos partilha…

De amar-te murmúrio doce
Na tua entrega paixão querer de ti segredo nosso…

De dizer-te o que me queres soletrar
No prolongar infinito do teu enleio alma…trajecto redacção…

De ouvir as tuas canções nossas
E invejar o teu saber dizer de poemas versus coração…

De me render à tua “luta” apego
E ficar prisioneiro do único amor com o amor que entoas…

De nada saber e tudo me ensinares
No cultivar sólido de sabores teus…doados nossos…

De correr para ti…como menino carente
No fim de cada minuto saudade e sorrir no teu abraço abrigo…

De aprender contigo a moldar a cor do acto
E suspirar no acreditar da certeza página presente…

Que me escrevesses um poema silêncio
Em grito surdo de respiração suspensa …para lá do possível ...

De nunca ter de conjugar verbo no passado
Porque a tua caligrafia semeia sempre futuro em cada escrita dita…hoje presente…

De chorar …apenas para apagar vulcões de êxtase
Que me dás em oferta solta almejo de vida sempre a colorir…

De dizer-te paixão…com um obrigado abençoado…
Porque se Deus existe…tu és o Universo da felicidade…

De nunca findar este caminhar a dois
Onde exigisses amor com amor…até ao beijo final….

De dizer tanto…e tanto ouvir…
No tanto que há para viver…no tanto que há para amar…no tanto que há para declamar...

De não te conhecer…e puxares a minha mão
Para te conhecer e percorrer estrada rio…nascente foz…mar…horizonte…sofreguidão conhecimento…o teu jardim…

De ouvir a tua verdade…nas verdades que tens…
Bálsamo fidelidade…código único…

Que a única diferença de sermos…fosse a interpretação
Homem …mulher…nunca o esgrimir de posições …porque somos…

Gostaria tanto…

De acordar…com o teu acordar…
E sentir-me com o teu acordo do acordo que rubricámos…


Poema de
José Luís Outono

sábado, dezembro 03, 2011

Sejamos Natal


Fotografia de Ann Richardson


Para além de todas as demagogias,
Para além do politicamente correcto,
Para além de todas as hipocrisias,

Celebremos, finalmente, o Espírito do Natal
Em todos os momentos
Desta nossa existência, tão efémera.

Natal é Fraternidade, Solidariedade, Paz,
Amor e Alegria na Terra
E nos Corações dos Homens.

Natal é a apologia do autenticamente Humano,
Em toda a sua essência genuína
De Bondade e de Verdade.

Natal é o enaltecimento de um Mundo
Onde não haja mais lugar para a Crueldade,
Para a Violência ou para a Agressividade.

Natal é a reunião dos Corações sensíveis
Que lutam, desesperadamente, pela União dos
Povos e das Nações.

Natal é a rejeição da Discriminação,
Dos horrores da Guerra,
Da mutilação dos Corpos e das Almas.

Natal é a consciência da Miséria Humana,
O compromisso da sua superação,
O enaltecimento da Justiça e de todas as Uniões.

Natal é o triunfo do Bem e do Belo,
A glória de todos os Renascimentos,
A comemoração da Dignidade Humana.

Natal é a benção do sempre Novo,
O louvor de todo o acto de Criação,
De Renovação e de Regeneração.

Sejamos Natal,
Hoje, sempre,
Para sempre.

Poema de
Isabel Rosete


Fotografia de Lucas Valentim

sábado, novembro 26, 2011

De Manhã


Imagem de Google sem indicação de autor


“Un vague bonheur leur était élan et ménace”
Nic Klecker, “Matin” (conto), in Jadis au village


A manhã de Outono veio trazer prenúncios
de Inverno e sombras de geada
veio montada nos raios oblíquos
e conduziu as rodas das bicicletas
uma em direcção à outra
dele e dela

uma brisa fresca
juntou-se ao encontro
que seria a dois
estavam eles conscientes
do mistério do dia?
foi-lhes ele anunciado na noite já distante?
tê-la-ia ele visitado, ter-lhe-ia ela
franqueado o ardor do umbral?
ter-se-iam amado no corpo
do sonho? as mãos
eram jovens e virgens
ainda seguravam
os guiadores das bicicletas
e os olhos de um faziam tangentes
nos do outro
decidiriam unir-se
para o receio e a ousadia do salto
para a existência e a aventura?

os peitos respiravam ténues
o mesmo ar de sol e gelo
debruçados sobre as bicicletas
os sentimentos eram felizes
os corações abriam-se em ramos de flores
para a beleza palpitante
um do outro

Poema de
Rui Miguel Duarte

sábado, novembro 19, 2011

Eternidade


Fotografia de Josep Ruaix Duran


Chorar as lágrimas do espanto
de te saber flor em mim.
Canto
que a noite encerra. Jasmim
em flor. Jasmim feito amor.

Primavera que encerra o cálice
que bebi em teus olhos.
Derrama
as palavras que nutrem o âmago
de uma caminhada em espera.

Suspensa no olhar que ama
a via que se percorre,
que desespera na água que se solta
da noite e
chama
pelo caminho que o sol faz reluzir
e pelo brilho de uns olhos eternos


Poema de
Susana Duarte

sábado, novembro 12, 2011

Todas as Palavras


Fotografia de Stuart Redler




Um dia quando ouvires as árvores pensar
Irás recordar os olhares e os sonhos.

Irás recordar os erros e
Ouvirás o cantar dos pássaros;
Recordarás o vento e as palavras
Todas as palavras.

O futuro não estará lá,
O passado também não.
Apenas tu, as árvores e os pássaros
Nada mais.

Como será a vida no fim da canção?



Poema de Francisco Vieira

domingo, novembro 06, 2011

Atribuição do prémio Outubro/2011...


Conforme atempadamente foi referido na postagem de 27 de Setembro ao iniciar-se o “Passatempo do poema mais comentado” o público comentarista escolheu, com dezanove (19) comentários registados, o poema “Gosto de Gente” de Fernanda Paixão.


A gravação em vídeo efectuada pelo Sons da Escrita e voz de José-António Moreira está disponível no Youtube.




(desligar por favor a música de fundo para ouvir o vídeo)



Virgínia Do Carmo iniciou Novembro com o seu poema “do fim dos meus dias... “ que já poderão ler e, impreterivelmente, às 12 horas de cada sábado seguir-se-ão os restantes.

Grata a todos pela participação.

sábado, novembro 05, 2011

do fim dos meus dias...


Pintura de Cliff Warner



Do fim dos meus dias
Vê-se um tecto
Branco
E inerte
Que me dá silêncio
E mais silêncio
Tanto que me escorre
Dos olhos
Por já não me caber
No peito…

Do fim dos meus dias
Vê-se o deserto
Que me sobra
Dos gestos
- Como quem morre
Nos restos
De um leito
Seco…

Solidão triste
A que me chega
Das entranhas
Deste vazio
Onde se me cai
A vontade,
Abatida,
De palavras
Em riste

- Campo tardio
De armas sepultadas

- Lume profundo
De chamas inúteis
…Apagadas…


Poema de
Virgínia do Carmo

sábado, outubro 29, 2011

Esgota-se o tempo


Pintura de Vladimir Kush




já não há tempo para que a poesia se dê ao luxo
de passear nos bosques encantados e nos egos poluídos
dos intelectuais de escrivaninha.

já não há tempo para que os versos se ostentem,
bem rimados, construídos, bem ritmados, bonitos,
nos corações vazios da burguesia.

é urgente que as palavras ganhem o peso das pedras,
se revoltem com os que vivem sem poesia e sem pão.
não há tempo para brincar aos poetas, ao depressivo snob en vogue.

só nos resta tempo para que se não nos acabe o tempo,
para que gritemos ainda que não abdicámos do futuro,
com propriedade, ou mesmo sem.

Poema de
Miguel Tiago

sábado, outubro 22, 2011

O Mar Dentro de Nós


Fotografia de Joel Santos


Por dentro de mim corre um longo rio
De seiva, ao por do sol de um campo arado,
E a ceifeira, que ceifa ao desafio,
Esquecida de o ceifar, passou-lhe ao lado…

Talvez volte amanhã, se fizer frio,
Ou se o vento, ao soprar, tiver lembrado
O leito das razões que nele desfio
Na seiva em que o descrevo humanizado

Entretanto, outras foices de ceifeiras
Passaram já por ele de outras maneiras
Mas nunca desaguaram nessa foz

Que, a jusante de mim, beija as ribeiras
Quando elas se lhe oferecem, sempre inteiras
E recomeça o mar dentro de nós…

Poema de
Maria João Brito de Sousa

sábado, outubro 15, 2011

Ensaio sobre o esquecimento


Imagem de Fefa Koroleva



O tempo tudo apaga e a rasura
desaba repentina sobre os olhos:
os dedos da memória sem espessura
começam a safar como se escolhos

os poemas que atirei pela janela
numa garrafa cheia de vazio
(não sei se para os bolsos de uma estrela
se para o leito seco de algum rio)

Eis como sinto a sílabas que outrora
circulavam no sangue das palavras,
a súbitas perdidas, pois agora
almejam ser apenas anuladas:

esquecidas que foram para alguém
o corpo dos poemas de ninguém

Poema de Domingos da Mota in A espessura do tempo