Desenho de Cláudia Santos Silva
(aguarela e tinta da china)
porque se ligam as memórias
a imagens como esteios de granito
em sucalcos no meu corpo encravadas,
as palavras como o seio de uma linha de água
onde o olhar é o murmúrio que descobre a alma,
apontamento cartográfico para o rumo
do que se julgara perdido?
(e que seres em mim escondidos
despertaram a roda das infantas
que nunca de linho branco se vestiram e de flores
a cabeça ornaram
apesar do desejo, da vontade e das mágoas?)
que palavras foram essas
que albarroaram o teu coração,
alinhando, serenas,
a desconstrução das ausências previsíveis
e dos desamores vividos?
e se, em cada amanhecer imerecido,
colhesse os seus votos como orvalho,
ser-me-ia permitido escutar ainda
as palavras que não se dizem?
(Poema de Cláudia Santos Silva in Blue Molleskin)