sábado, dezembro 24, 2011

as coisas elementares



falo das coisas mais
elementares

o sino da igreja
onde um galo não canta
um seixo rolado
guardando o tempo
dentro de si
um torrão de terra
grávido de uma semente

mais elementares ainda

os sorrisos presos nos lábios
das crianças tristes
as lágrimas
rios de salgados
nos leitos dos rostos abandonados
nos lares/depósitos

falo porque
estou cansado de comer silêncio
e ler poemas de amor
com tanto desamor
a caminhar por aí

as coisas mais elementares
são as que deviam ocupar
o ventre das palavras por parir

Poema de
António José Cravo

Atribuição do prémio Novembro/2011...


Conforme atempadamente foi referido na postagem de 27 de Setembro ao iniciar-se o “passatempo do poema mais comentado” o público comentarista escolheu, com sete (7) comentários registados, o poema “do fim dos meus dias...” de Virgínia do Carmo.

A gravação em vídeo efectuada pelo
Sons da Escrita e voz de José-António Moreira está disponível no Youtube.



(desligar por favor a música de fundo para ouvir o vídeo)

sábado, dezembro 17, 2011

desiguais se igualam


Imagem de James Harrigan



desiguais se encostam
desiguais se destapam em fios de som
metálicos se enferrujam
desiguais se sentem
sem sentir o igual do tacto
desiguais se tentam enroscar
metálicos
gritam finos sons de cordas rijas
desiguais se amam em cordas
esticadas
desiguais se aconchegam
em cordas que vibram
desiguais se gritam
metálicos
não se olham
desiguais se tocam em notas de viola
desiguais se igualam
em desalinho se deitam
alinhados
encostados se amam
encostados se ouvem
desiguais gritam
metálicos
desiguais se misturam
em sons desabafados
deitados em tecidos amarrotados
desiguais se igualam


Poema de
Teresa Maria Queiroz

sábado, dezembro 10, 2011

Gostaria tanto…


Pintura de Philippe Loubat


Gostaria tanto….

De tocar a superfície da maresia
Com as minhas mãos sedentas e sentir-te apelo…

De escrever-te pétalas tinta sorriso
E declamar-te com os teus versos partilha…

De amar-te murmúrio doce
Na tua entrega paixão querer de ti segredo nosso…

De dizer-te o que me queres soletrar
No prolongar infinito do teu enleio alma…trajecto redacção…

De ouvir as tuas canções nossas
E invejar o teu saber dizer de poemas versus coração…

De me render à tua “luta” apego
E ficar prisioneiro do único amor com o amor que entoas…

De nada saber e tudo me ensinares
No cultivar sólido de sabores teus…doados nossos…

De correr para ti…como menino carente
No fim de cada minuto saudade e sorrir no teu abraço abrigo…

De aprender contigo a moldar a cor do acto
E suspirar no acreditar da certeza página presente…

Que me escrevesses um poema silêncio
Em grito surdo de respiração suspensa …para lá do possível ...

De nunca ter de conjugar verbo no passado
Porque a tua caligrafia semeia sempre futuro em cada escrita dita…hoje presente…

De chorar …apenas para apagar vulcões de êxtase
Que me dás em oferta solta almejo de vida sempre a colorir…

De dizer-te paixão…com um obrigado abençoado…
Porque se Deus existe…tu és o Universo da felicidade…

De nunca findar este caminhar a dois
Onde exigisses amor com amor…até ao beijo final….

De dizer tanto…e tanto ouvir…
No tanto que há para viver…no tanto que há para amar…no tanto que há para declamar...

De não te conhecer…e puxares a minha mão
Para te conhecer e percorrer estrada rio…nascente foz…mar…horizonte…sofreguidão conhecimento…o teu jardim…

De ouvir a tua verdade…nas verdades que tens…
Bálsamo fidelidade…código único…

Que a única diferença de sermos…fosse a interpretação
Homem …mulher…nunca o esgrimir de posições …porque somos…

Gostaria tanto…

De acordar…com o teu acordar…
E sentir-me com o teu acordo do acordo que rubricámos…


Poema de
José Luís Outono

sábado, dezembro 03, 2011

Sejamos Natal


Fotografia de Ann Richardson


Para além de todas as demagogias,
Para além do politicamente correcto,
Para além de todas as hipocrisias,

Celebremos, finalmente, o Espírito do Natal
Em todos os momentos
Desta nossa existência, tão efémera.

Natal é Fraternidade, Solidariedade, Paz,
Amor e Alegria na Terra
E nos Corações dos Homens.

Natal é a apologia do autenticamente Humano,
Em toda a sua essência genuína
De Bondade e de Verdade.

Natal é o enaltecimento de um Mundo
Onde não haja mais lugar para a Crueldade,
Para a Violência ou para a Agressividade.

Natal é a reunião dos Corações sensíveis
Que lutam, desesperadamente, pela União dos
Povos e das Nações.

Natal é a rejeição da Discriminação,
Dos horrores da Guerra,
Da mutilação dos Corpos e das Almas.

Natal é a consciência da Miséria Humana,
O compromisso da sua superação,
O enaltecimento da Justiça e de todas as Uniões.

Natal é o triunfo do Bem e do Belo,
A glória de todos os Renascimentos,
A comemoração da Dignidade Humana.

Natal é a benção do sempre Novo,
O louvor de todo o acto de Criação,
De Renovação e de Regeneração.

Sejamos Natal,
Hoje, sempre,
Para sempre.

Poema de
Isabel Rosete


Fotografia de Lucas Valentim

sábado, novembro 26, 2011

De Manhã


Imagem de Google sem indicação de autor


“Un vague bonheur leur était élan et ménace”
Nic Klecker, “Matin” (conto), in Jadis au village


A manhã de Outono veio trazer prenúncios
de Inverno e sombras de geada
veio montada nos raios oblíquos
e conduziu as rodas das bicicletas
uma em direcção à outra
dele e dela

uma brisa fresca
juntou-se ao encontro
que seria a dois
estavam eles conscientes
do mistério do dia?
foi-lhes ele anunciado na noite já distante?
tê-la-ia ele visitado, ter-lhe-ia ela
franqueado o ardor do umbral?
ter-se-iam amado no corpo
do sonho? as mãos
eram jovens e virgens
ainda seguravam
os guiadores das bicicletas
e os olhos de um faziam tangentes
nos do outro
decidiriam unir-se
para o receio e a ousadia do salto
para a existência e a aventura?

os peitos respiravam ténues
o mesmo ar de sol e gelo
debruçados sobre as bicicletas
os sentimentos eram felizes
os corações abriam-se em ramos de flores
para a beleza palpitante
um do outro

Poema de
Rui Miguel Duarte

sábado, novembro 19, 2011

Eternidade


Fotografia de Josep Ruaix Duran


Chorar as lágrimas do espanto
de te saber flor em mim.
Canto
que a noite encerra. Jasmim
em flor. Jasmim feito amor.

Primavera que encerra o cálice
que bebi em teus olhos.
Derrama
as palavras que nutrem o âmago
de uma caminhada em espera.

Suspensa no olhar que ama
a via que se percorre,
que desespera na água que se solta
da noite e
chama
pelo caminho que o sol faz reluzir
e pelo brilho de uns olhos eternos


Poema de
Susana Duarte

sábado, novembro 12, 2011

Todas as Palavras


Fotografia de Stuart Redler




Um dia quando ouvires as árvores pensar
Irás recordar os olhares e os sonhos.

Irás recordar os erros e
Ouvirás o cantar dos pássaros;
Recordarás o vento e as palavras
Todas as palavras.

O futuro não estará lá,
O passado também não.
Apenas tu, as árvores e os pássaros
Nada mais.

Como será a vida no fim da canção?



Poema de Francisco Vieira

domingo, novembro 06, 2011

Atribuição do prémio Outubro/2011...


Conforme atempadamente foi referido na postagem de 27 de Setembro ao iniciar-se o “Passatempo do poema mais comentado” o público comentarista escolheu, com dezanove (19) comentários registados, o poema “Gosto de Gente” de Fernanda Paixão.


A gravação em vídeo efectuada pelo Sons da Escrita e voz de José-António Moreira está disponível no Youtube.




(desligar por favor a música de fundo para ouvir o vídeo)



Virgínia Do Carmo iniciou Novembro com o seu poema “do fim dos meus dias... “ que já poderão ler e, impreterivelmente, às 12 horas de cada sábado seguir-se-ão os restantes.

Grata a todos pela participação.

sábado, novembro 05, 2011

do fim dos meus dias...


Pintura de Cliff Warner



Do fim dos meus dias
Vê-se um tecto
Branco
E inerte
Que me dá silêncio
E mais silêncio
Tanto que me escorre
Dos olhos
Por já não me caber
No peito…

Do fim dos meus dias
Vê-se o deserto
Que me sobra
Dos gestos
- Como quem morre
Nos restos
De um leito
Seco…

Solidão triste
A que me chega
Das entranhas
Deste vazio
Onde se me cai
A vontade,
Abatida,
De palavras
Em riste

- Campo tardio
De armas sepultadas

- Lume profundo
De chamas inúteis
…Apagadas…


Poema de
Virgínia do Carmo

sábado, outubro 29, 2011

Esgota-se o tempo


Pintura de Vladimir Kush




já não há tempo para que a poesia se dê ao luxo
de passear nos bosques encantados e nos egos poluídos
dos intelectuais de escrivaninha.

já não há tempo para que os versos se ostentem,
bem rimados, construídos, bem ritmados, bonitos,
nos corações vazios da burguesia.

é urgente que as palavras ganhem o peso das pedras,
se revoltem com os que vivem sem poesia e sem pão.
não há tempo para brincar aos poetas, ao depressivo snob en vogue.

só nos resta tempo para que se não nos acabe o tempo,
para que gritemos ainda que não abdicámos do futuro,
com propriedade, ou mesmo sem.

Poema de
Miguel Tiago

sábado, outubro 22, 2011

O Mar Dentro de Nós


Fotografia de Joel Santos


Por dentro de mim corre um longo rio
De seiva, ao por do sol de um campo arado,
E a ceifeira, que ceifa ao desafio,
Esquecida de o ceifar, passou-lhe ao lado…

Talvez volte amanhã, se fizer frio,
Ou se o vento, ao soprar, tiver lembrado
O leito das razões que nele desfio
Na seiva em que o descrevo humanizado

Entretanto, outras foices de ceifeiras
Passaram já por ele de outras maneiras
Mas nunca desaguaram nessa foz

Que, a jusante de mim, beija as ribeiras
Quando elas se lhe oferecem, sempre inteiras
E recomeça o mar dentro de nós…

Poema de
Maria João Brito de Sousa

sábado, outubro 15, 2011

Ensaio sobre o esquecimento


Imagem de Fefa Koroleva



O tempo tudo apaga e a rasura
desaba repentina sobre os olhos:
os dedos da memória sem espessura
começam a safar como se escolhos

os poemas que atirei pela janela
numa garrafa cheia de vazio
(não sei se para os bolsos de uma estrela
se para o leito seco de algum rio)

Eis como sinto a sílabas que outrora
circulavam no sangue das palavras,
a súbitas perdidas, pois agora
almejam ser apenas anuladas:

esquecidas que foram para alguém
o corpo dos poemas de ninguém

Poema de Domingos da Mota in A espessura do tempo

sábado, outubro 08, 2011

Gosto de Gente


Pintura de Luiza Maciel




Gosto de gente honesta
Que faz da vida uma festa
Que partilha e se entrega
Que se oferece mas não se verga

Gosto de gente que vive
De gente que me cative
De gente com brilho nos olhos
De gente com alegria aos molhos;

Gosto de gente sem pressa
De gente simples que tropeça
Da que cai e se levanta
De gente que em sofrimento canta

Gosto de gente de todas as cores
De gente que gosta de flores
De gente transigente
De gente assim bem diferente

Gosto de gente com alma cheia
De gente com sangue na veia
De gente que sonha acordada
Que caminha de mão dada

Gosto de gente directa
De pensamento lavado
Com passo lento ou apressado
Que caminha com e sem gente ao lado

Gosto de gente com imaginação
De gente que tenha paixão
De gente que seja ousada
De gente rica ou descamisada

Gosto de gente inteligente
De gente que seja indulgente
De gente que se atira e se mostra
De gente que nunca se prostra

Gosto de gente que olha de frente
De gente que me acalente
De gente que não tem medo
De gente que guarda um segredo

Gosto de gente divertida
De gente que seja atrevida
De gente que seja versada
Gosto de gente com gargalhada

Poema de
Fernanda Paixão

sábado, outubro 01, 2011

Traço sem nitidez para um Mar Incerto


Fotografia de José Rodrigues




"Lá não verá Inverno triste e escuro,
Não ventos, não tormentas, mão mudanças
Mas tudo quieto em Deos, tudo seguro."

In A Diogo Bernardes em resposta d’outra sua, Livro II, 34,75 de Pêro Andrade de Caminha



Inventados os nomes do Livro,
Refeito o traço em desenho de viagem
Aqui colocarei uma página de prata,
Ali adiante uma nuvem de fogo,
E mais além um mar desconhecido.

Criar é noção, é primeiro fingimento,
De cada [cousa] que toma o lugar;
“Não vento, não tormenta, não mudança”
Apenas dum pouco de céu
E duns restos de água e sal,
Comprimo em ar o vento,
Em corpo o mar.
E do Livro, o mundo invento
O improviso do tempo na sua passagem
De todas as almas meu corpo casa,
Dos passos nas ruas do improvisados becos
Meu sangue mesa,
Criação é réplica, é súplica, é fim
Do primeiro momento.

De regresso e partida, a viagem
De descanso o Livro que abandonado
Descansa o corpo exausto neste colchão,
Em concha em forma de estrado, de estrada
E aqui colocarei um lâmpada iluminada,
Ali adiante uma vela de cera salgada
E mais além, um vagabundo,
Mais um no mundo, ilusório pilar de vida,
Que trémula pedra gigante
Esta terra de pedintes.

De regresso e partida, os contrários
A imaginária rota quase corpo construído,
De certeza em certeza, a absoluta manhã
Que não conhecerá o dia.
Contrária é a ousada sabedoria,
De quem se diz alheio em alheio caminho
E na página em prata de desfaz a poeira,
Na nuvem de fogo a mão derradeira
E mais além, do momento o instante,
Breve corpo de chão tecto armário cadeira,
Aprendiz da letra segura, traço dum deus errante.

Se tudo é breve, tudo é mundo,
Tudo é caminho, um pouco de estrada;
Destino do ponto mais distante,
Do incerto fim, vaga letra vaga-lume
Vaga estante onde se pousam os rascunhos,
O amargo fruto que restou do primeiro
Dia. Deste projecto,
Que da cinza regressará ao nada.

Poema de
Leonardo B. in a barca dos amantes



Nota: Este poema inicia um "passatempo" que tem como objectivo a escolha do poema a ser gravado pelo Sons da Escrita e publicado no Youtube. A escolha do poema seleccionado para aquele efeito ficará a cargo dos comentadores.
A cada sábado será publicado um novo poema. No início de cada mês, será feita a selecção.
O mais comentado, ganha a gravação.
Um incentivo para aqueles que ainda fazem da Blogosfera um local de acesso à Poesia……

terça-feira, setembro 27, 2011

"De amor nada mais resta que um Outubro"

O Outono já entrou e Outubro está a chegar fazendo ressaltar todas as lembranças associadas a este tempo, num misto de saudade e orgulho, porque em cada estação, em cada ano que passa, a memória aviva-se em lembranças de um tempo que está marcado a ternura e alegrias, tal como está a inicial O do meu nome de baptismo.

Os O’s de mim… costumava rir-me ao referi-los.

Do Outono guardo a memória de uma certa infância calcando as folhas secas da Serra de Sintra que percorria pela mão do meu Avô esperando as queijadinhas que me iria oferecer de mimo… o cheiro da terra a anunciar a chuva e a ternura com que a minha Mãe lia poesia perante uma assembleia atenta.

Do Outubro, anos mais tarde, recordo as viagens a Malange, a visão das Palancas Negras, animais imponentes, misteriosos, que avistava ao longe, enquanto percorríamos os quilómetros que nos levariam às Quedas do Duque de Bragança (designadas, presentemente, com outro nome) um local cujas palavras não conseguem traduzir o verdadeiro sentimento que se tem frente à grandiosidade da Natureza.

Pelo caminho, passávamos pelas “Pedras Negras” que eram enormes pedras com centenas e centenas de anos e que estão aliadas a uma lendária história de uma rainha africana de nome D. Ana de Sousa.

Vem este preâmbulo a propósito da ideia que o Poesia Portuguesa a partir de Outubro e, em parceria com o
Sons da Escrita, vai impulsionar.

Como sabem, este é um blogue de divulgação da poesia de Blogues Portugueses e de autores que através deles partilham a sua poesia com o mundo internético.

Dentro da selecção mensal aqui partilhada, o poema mais comentado terá, no início do mês seguinte, um prémio de incentivo ou seja, a gravação em vídeo efectuada pelo
Sons da Escrita na voz de José-António Moreira e publicitado no Youtube.

Deixo-vos o poema de Natália Correia "O sol nas noites e o luar nos dias" na voz de José-António Moreira a quem agradeço, desde já, a gentileza da
Parceria .



(desligar, por favor, a música de fundo, para ouvir o vídeo)

terça-feira, agosto 30, 2011

Insensatez


Imagem de Alexey Andreev



Não foi o vento nem as marés que levaram das águas o brilho,

Não foi o sol nem a lua que se apagaram e fizeram esse escuro,
Não foram os passos que correram cansados e dolentes esse trilho
Que agora feito de pedras e de sombras se tornou mais duro...

Não foram as palavras, antes flores, que murcharam

Nem as suas emoções que me perfumaram
Que alagaram esse canteiro cuidado
E o fizeram abandonado...

Não foi a noite que chegou sem aviso,

Mostrando somente sombras e penumbras
E do dia tirou e levou o sorriso....

Foi o silêncio cortante que cantaste

E fizeste soar calando o mar,
Secando a areia onde te deitaste,
Em que não soubeste sonhar

Nessa permanente insensatez


Poema de Delfim Peixoto in Serenata às estrelas

sexta-feira, julho 15, 2011

Sentir


Pintura de Cliff Warner


As palavras hesitam
no abraço das madrugadas do poema.

Deslizam nas linhas nascentes,
fugazes e tímidas,
como uma jovem que se desnuda pela primeira vez
perante o seu desejo.

Palpitante,
o papel aconchega o seu espaço,
para nele acolher o derrame virginal do sentir dos poetas.

Do vazio,
surge sentido,
na recolha dos sentidos,
em silhuetas esboçadas na procura de significados.

O poema é sentir.
Sinto.

Poema de João Carlos Esteves in Gotas de Silêncio

quarta-feira, junho 29, 2011

Como pintar o Sol todas as manhãs


Pintura de Margusta



Como pintar o sol todas as manhãs
no jardim onde florescem os lírios
se tenho as mãos vazias
de certezas
e de versos?
Sonho, tão-somente, versos obscuros,
versos lua nova.
Não versos quarto crescente
- a aspergir luar -
acalentados pelo som das harpas
dos anjos com brilhos de mistério
e asas de papel.
Papel de seda... de seda
para vestir e amaciar o tempo
de pintar o sol no tempo dos lírios.
Amaciar o tempo das mãos vazias
e da tristeza à flor da pele.

Poema de
Maripa

domingo, maio 29, 2011

As Tentações




Sabemos o que existe. Não sabemos
o que existe. Nem sequer sabemos
alguma vez de nós no frémito do sonhos
onde vivemos e perdemos a vida.

Nenhuma sombra (a luz) nos conduz
à existência,
sequer com a existência celebramos o encontro,
e tudo o mais são sombras violentas.

Violento é o ar que respiramos,
sofregamente respiramos a existência,
desde que nascemos e sabemos o que existe.

Não sabemos o que existe. Nem sequer
sabemos que nome alastra na grandeza
de estarmos vivos e irmos para o mar
perscrutar a existência
com as mão rendidas
ao mar intrépido da nossa ignorância.

Sabemos o que existe. Não sabemos.







Imagem de Fefa Koroleva