Cumprem-se hoje nove anos do falecimento de Sophia
de Mello Breyner Andresen, que nasceu no Porto em 6 de Novembro de 1919 vindo a
falecer em Lisboa em 2 de Julho de 2004 e é, sem dúvida alguma, uma das maiores
e mais eloquentes vozes da poesia portuguesa contemporânea.
Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário
da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
O seu espírito continua vivo na obra que nos deixou, um espólio imensurável,
marcado por valores como a justiça, a sua grande aproximação com o mar e,
sobretudo, os valores que recebeu da sua infância e juventude onde se ressaltam
valores sociais muito profundos.
A morte não se festeja, é um facto. Mas celebremos o seu amor pela escrita que perdurará nos tempos como um património imaculado da Língua
Portuguesa.
Poema
A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
O quadrado da janela
O brilho verde de Vésper
O arco de oiro de Agosto
O arco de ceifeira sobre o campo
A indecisa mão do pedinte
São minha biografia e tornam-se o meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada
Sophia de Mello Breyner Andresen
in, "Geografia"