terça-feira, setembro 16, 2014

Graça Pires - Convite

Graça Pires é uma poetisa portuguesa que muito admiro.

Editou o seu primeiro livro em 1990, depois de ter recebido o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o livro Poemas.

É detentora de vários prémios literários dos quais destaco:

Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, com Poemas (1988)
Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, com Labirintos (1993)
Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres, com Outono: lugar frágil (1993)
Prémio Nacional de Poesia 25 de Abril, com Ortografia do olhar (1995)
Grande Prémio Literário do I Ciclo Cultural Bancário do SBSI, com Conjugar afectos (1996)
Concurso Nacional de Poesia Fernão Magalhães Gonçalves, com Labirintos (1997).
Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho, com Uma certa forma de errância (2003)
Prémio Literário de Sintra Oliva Guerra, com Quando as estevas entraram no poema (2004)
Prémio Nacional Poeta Ruy Belo, da Câmara Municipal de Rio Maior, com o livro O silêncio: lugar habitado (2008)

Tem um número significativo de obras publicadas das quais destaco:

Poemas. Lisboa: Vega, 1990
Outono: lugar frágil. Fânzeres: Junta de Freguesia da Vila de Fânzeres, 1993
Ortografia do olhar. Lisboa: Éter, 1996
Conjugar afectos. Lisboa: Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, 1997
Labirintos. Murça: Câmara Municipal de Murça, 1997
Reino da Lua. Lisboa: Escritor, 2002
Uma certa forma de errância. Vila Nova de Gaia: Ausência, 2003
Quando as estevas entraram no poema. Sintra: Câmara Municipal, 2005
Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos. Ed. autor, 2007
Uma extensa mancha de sonhos. Fafe: Labirinto, 2008
O silêncio: lugar habitado. Fafe: Labirinto, 2009
A incidência da luz. Fafe: Labirinto, 2011
Uma vara de medir o sol. São Paulo: Intermeios, 2012
Poemas escolhidos: 1990-2011. Ed. Autor, 2012
Caderno de significados. Póvoa de Santa Iria: Lua de Marfim, 2013

(clicar na imagem para aumentar)

É, pois, com enorme satisfação que vos convido para o lançamento do seu novo livro intitulado Espaço livre com barcos.

A Autora agradece a vossa presença.


quarta-feira, julho 09, 2014

Dor

Pintura de  Adolfo Payes

Para Miguel
             
        A dor
Que te vai na Alma
Não a sufoques. Não a reprimas
Sê misericordioso para com ela
        
Chora-a
        
Dor chorada. Dor vencida. Dor sublimada
Tem o conhecimento dos Deuses
Que os anjos almejam saber
            

Örebro, 02 de Março de 1998

sexta-feira, maio 30, 2014

A memória dos dias




Penso na morte
mas sei que continuarei vivo no epicentro das flores
no abdómen ensanguentado doutros-corpos-meus
na concha húmida de tua boca em cima dos números mágicos
anunciando o ciclo das águas e o estado do tempo

a memória dos dias resiste no olhar de um retrato
continuo só
e sinto o peso do sorriso que não me cabe no rosto
improviso um voo de alma sem rumo mas nada me consola

é imprevista a meteorologia  das paixões
pássaros minerais afastam-se suspensos
vislumbro um corpo de chuva cintilando na areia

até que tudo se perde na sombra da noite... além
junto à salgada pele de longínquos ventos


Al Berto, Doze Moradas de Silêncio,
in,  O Medo, a páginas  255




Ao JP  (17/04/1955-20/04/2014)

quarta-feira, abril 09, 2014

Como te contar?

Oleg Oprisco



Inquieta-me a lucidez de certas horas.
Como te contar? Tudo nelas é perfeito, 
e claro, e inabalável ... Até a dor!

A acomodação à realidade
põe-se a subir sorrateira pelo corpo
dos sonhos e dos desejos. Mata-os!

É perigoso viver desarmado 
na lucidez das horas. 
Quando menos se espera, morre-se!

Quero a minha lanterna sempre acesa,
Entrar com ela no inexprimível  sossego
que precede a tempestade;

Escutar o respirar aflito do mundo
entre dois trovões, duas guerras, dois gritos, 
separados apenas por um fio;

Um espaço impreciso, o fio, entre o um e o dois, 
Espaço a que, só por ignorância, 
chamamos silêncio.



sábado, março 01, 2014

EPIFANIA DOS DIAS CLAROS...


Mar português em dias cor de cinza


Somos destroços entre objectos e as coisas
Que se instalam no âmago e nos devolvem a aparência

Como imagem especular de urgências
Multicores...

Ajoelhamos perante novos deuses e sacrificamos
Mansidões no lugar geométrico da Abundância.
Novos jardins de Canaã lambendo os dedos
E olhos esventrados na luz fria dos néons.

E calcorreamos o tempo, acorrentados. Novos altares
Erguidos no fervor do Mesmo - cacofonia de uma Festa
De que perdemos razão e rasto.

Sons e cores apenas. Esbracejantes. Sobras
Do festim com que novos ritos se adornam
Na celebração do Excesso...

É neles que reina a divindade e se erguem catedrais
Em seu louvor e culto. São eles a grande Metáfora
Que abocanha. E a Cloaca...

Espectros vivos em cerimonial de nados-mortos.
Somos amontoado e panóplia.

E o Espectáculo.

E a euforia do Crepúsculo
E a pletórica profusão da Mercadoria
Como desenho quimérico do Mito
Demiúrgico...

.......................................................................
Importa redimir a inocência das coisas
E libertar a palavra deserta. E no rosto solar dos homens
Estilhaçar o Espelho e verter o vento.

E as mãos doridas. E o barro amassado.
E a dores do parto.

E na imanência redentora das sombras
Escutar a subtil Diferença.
E alargar espaços onde os dias sejam
Claros.

Manuel Veiga in Relógio de Pêndulo


domingo, fevereiro 09, 2014

Desterrado

Fotografia de José Ferreira Jr


Há algum Sol
que tenha tanto brilho
como o do meu "Jardim à beira-mar plantado"?

  - Não.

Há alguma árvore
que tenha o odor inebriante do eucalipto
como o das estradas da minha terra?

 - Não.

Há algum pedaço de firmamento
que tenha a cintilação
como o das minhas várzeas?

  - Não.

Há algum mar
que cheire mais a sal
como o da "Ocidental Praia Lusitana"?

  - Não.

No entanto obrigado vivo
nestas terras de Sigurdo
cercado de águas frias e árvores estranhas
cujo cheiro não me chega às narinas
quanto menos às entranhas.
Inverno de noites longas e dias curtos
alumiado por um sol nulo que não me aquece as mãos
quanto menos as saudades que carrego na minha alma.

Diz o ditado:

"Há sempre uma esperança virada para o Norte"

A minha está voltada para o Sul
para esse retalho de terra no fundo da Ibéria.


Örebro - Suécia


quinta-feira, dezembro 12, 2013

Sujeitos



serás sujeito que em ti és
de todo o verbo
palavra que sugeres
tempo do verso
que tu geras

virás do jeito que vais
todo o caminho
passo que persegues
de ti o destino
que te concedes

que com sequência conjugas
o infinitivo verbo
ser além do que vives?

que sentido digo
e repito
e repito
que palavra passo
intento
e tento
a travessia
este tempo?

se trilho rumo
rimo a frase
se traço risco
rasgo a fase

assim tu e eu sem outra face
pois em tudo
de nós sujeitos somos
em consequentes nos fazemos


Manuel Pintor in  Infinitudes

quarta-feira, novembro 13, 2013

Escada de Pedrarias

Pintura de William Blake


Uma escada suspensa no pátio havia
Em pedrarias tecida.

De um lado a relva fofa
Convidativa
No outro o azul da água
Que serena se mexia.

Os pássaros afinavam
Em suaves trinados
Saint-Saens e Stravinsky

Enquanto
Com seus gritos alucinantes
Dançava um fantasma
À luz do dia
Tentando
Retirar da escada a alegria
O brilho das pedrarias.

Nos passos do silêncio da noite
Chegavam o verde-azul das mãos
Que o sorriso lhe estendiam.

Pousava docemente 
E então
Adormecia…




sexta-feira, outubro 25, 2013

Entardecer

Pôr do sol em Portugal


Agora
Que a grande noite
Está chegando
Por que nos deixámos
De falar?!

Nas trevas da grande noite
O brilho dos nossos olhos
Não se poderão encontrar
Nossas mãos, nossos rostos,
Não se poderão mais tocar

Nossas vozes serão silêncio.

Por que não aproveitar
O claro do vermelho do entardecer
Que nos resta?

E dizermos tudo aquilo
Que devíamos ter dito.


(Örebro – Suécia)

Poema de João Cardoso

quinta-feira, outubro 03, 2013

Dinâmica dos Fluidos

Arthur Braginsky




Não vês nos meus olhos desejo,
o desejo?, nos lábios a sede
de um beijo e nos braços
a fome de abraços, não vês,
tu não vês?, não vês
que nas veias o sangue incendeia?

Semeio o delírio
com os dedos urgentes:
mordisco-te os seios, os seios
inchados: sugamo-nos
as línguas de fogo 
vorazes: sublevo-te a púbis
e a boca do corpo num ritmo 
agudo sem véus de pudor:
o frémito cresce: respiras mais
fundo: o vigor entumece

Rebelem-se os ventos
ou tremam as casas,
vogamos na crista
das ôndulas vivas num mar
de calor, os olhos nos olhos,
as mãos desgrenhadas,
as bocas ao rubro,
soltamos gemidos
e brados e uivos, os poros
perdidos, fundentes, em brasa

Celebramos os corpos
assim desvairados
no ápice da febre,
do ardor, da explosão das águas
frementes, do fogo maduro,
com o sol tatuado na pele da paixão


in, Bolsa de Valores e Outros Poemas
(Temas Originais - 2010)


quarta-feira, agosto 21, 2013

A menina dos olhos cor de mar

Erica Dal Maso

Desenhas-te a menina dos olhos cor de mar.

Era assim que se chamava a tela
Talvez fosse mais correcto a menina dos cabelos de mar
Mas os cabelos não se querem azuis (ou verdes) e os olhos podem ser
apenas um erro de genética. 
A menina brinca com os olhos no VER, azul sem ser azul, apenas mar
e pinta cores, dança em palcos – vazios de VER e sentires,
mas onde o sorriso ainda se dilata para além do mar.

E, nós mudamos.

 Os caminhos entreolharam-se espantados sem saber os rumos,

e as rotas ficaram aquém no mapa dos sentidos desatentos.
A poesia é uma ilha pensava ela,
e ela nunca sente  sequer nostalgia,
apenas um espanto intraduzível em palavras.
Afinal
a paleta tem todas as cores, tem todos os azuis, tem todos os matizes,
mas,
está arrumada sem culpas, no fundo dum esboço que tu esqueceste,
esboço apenas,  mais nada relevante,
nem a poesia do teu desenho em que figurava a menina dos olhos cor de mar.

Ou tão somente EU


2013-08-19

sábado, agosto 10, 2013

A Poesia

Pintura de Francine Van Hover

 

A poesia diz, desdiz,
Elucida, confunde,
Escurece, ilumina,

Disfarça, é Verdade.

É uma cor de camaleão,
Nunca a mesma em qualquer ocasião,
É como o vento, lento, calmo, ou furacão
É dizer sim, quando quer dizer não

A poesia
Não é do poeta,
Nem de quem o lê,
É dela própria
Nem sei bem
Porquê!

A poesia
Não é flor,
Nem calor,
Nem emoção,
Nem Estação

A poesia são palavras arrumadas
Por semelhanças agrupadas,
Não tem alma nem Razão,
Para quem nunca soube
Cheirar o vento,
Tocar o céu,
Amar sem ver,
Sem tocar.

Só quem no dia vê estrelas
Ou na noite sente o sol,
Ou as lágrimas no papel pressente
Pode saber o que a Poesia é!

Assim, a Poesia não existe
Para quem não a lê!
É uma luz resplandecente
Para quem mesmo cego
A ouve, a sente, a vê!



Poema de Delfim Peixoto

segunda-feira, julho 29, 2013

Não me perturbes

Michael & Inessa Garmash  


Não me perturbes.

Quero reclinar o meu peito no regaço da terra

descer num casulo de luz pairar como a bruma 
na urze calada e perfumada da serra.

E não perturbes o meu silêncio
que dorme nas folhas das minhas mãos.

Na criança adormecida em mim
ficam as pegadas na presença dos silêncios,  
nos diálogos e gestos escritos na areia polida 
das minhas palavras.
E não perturbes o meu silêncio
que dorme nas folhas das minhas mãos.
Não perturbes estas folhas que rodeiam o meu corpo 
povoando esta alma de música que ninguém ouve.
Não quero miscelâneas no meu poente.
Quero nascer os olhos em bocas de alegria.
Deixa ser-me criança, vestir de novo esta fantasia.

E não per tur bes o meu son ho.
Quero adormecer a noite enganar a lua
morrer o passado nesta inquietação
desta 
chama
nua


in,  “Eu Poético”

domingo, julho 14, 2013

Espaço Para Cantar

Bruno Simões - Cacela Velha


Nesta aldeia
de mares imperecíveis
e sábios tristes
íntegro um pássaro do alto
entendeu por bem
atiçar o fulgor dos timbres
regressar ao cais
soltar os barcos
e partir
nas cordas vocais 
de uma guitarra

Nesta aldeia
refúgio
à flor das águas

ainda há espaço para cantar



Eufrázio Filipe, in Mar Arável

sexta-feira, julho 05, 2013

UM BARCO NAS ÁGUAS AO DE LEVE SONORAS

Imagem Google

Um barco parado nas águas ao de leve sonoras.
Enquanto a noite desce como um lençol suavemente escuro
apagando o rio,
que era azul e agora já é um espelho prateado virado para fora de si.
alongado pela escuridão que se recolhe nos olhos, de quem olha.

Há em tudo uma paz impossível, e eu vejo o teu rosto e tu pareces não ser.

Olho-te de novo, e tu olhas-me assim:
tão distante e ausente que me deixas mais nu.

Eu sei:
sou aquele que te ama do fundo deste rio que agora nos faz juntos.
e estamos sempre sozinhos.
A partir de agora, entre nós
não haverá mais segredos.


[29-08-2006]

José Alberto Mar,
in Palavras de Cristal,
Colectânea de Poesia, Vol I, Pág.202

terça-feira, julho 02, 2013

Sophia de Mello Breyner Andresen

Cumprem-se hoje nove anos do falecimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, que nasceu no Porto em 6 de Novembro de 1919 vindo a falecer em Lisboa em 2 de Julho de 2004 e é, sem dúvida alguma, uma das maiores e mais eloquentes vozes da poesia portuguesa contemporânea.

Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.

O seu espírito continua vivo na obra que nos deixou, um espólio imensurável, marcado por valores como a justiça, a sua grande aproximação com o mar e, sobretudo, os valores que recebeu da sua infância e juventude onde se ressaltam valores sociais muito profundos.

A morte não se festeja, é um facto. Mas celebremos o seu amor pela escrita que perdurará nos tempos como um património imaculado da Língua Portuguesa.





Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

O quadrado da janela
O brilho verde de Vésper
O arco de oiro de Agosto
O arco de ceifeira sobre o campo
A indecisa mão do pedinte
São minha biografia e tornam-se o meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas

Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

Sophia de Mello Breyner Andresen
in, "Geografia"

sexta-feira, junho 07, 2013

tempo


Nikolai Zaitsev


O tempo é uma substância volátil, arredia e mole
Calma e inesperada, que se esvazia e enche como um balão ou fole
Uma substância vaga, desequilibrada e implexa, de alma inconstante
Que se dissipa e brota a qualquer instante

Assim, de mim se afasta se o procuro
Toca-me e arrebata-me, se dele me canso e me despeço
A mim se apega e em mim se enlaça quando lhe fujo
Enrola-me e envolve-me de amor quando não peço

O tempo é tudo o que urge quando sobeja
Tudo o que de mim se aparta, se acaso a vontade almeja

Quando me esfalfo e o quero, de mim se afasta
Quando dele prescindo, em mim se enrola, julga, condena e caça

O tempo é um amante frívolo e indeciso, que prende e embaraça
Uma alma doce, que descubro amarga se me desalenta
Um compasso brusco, se me apraz com pressa e me encontro lenta
È sol quando eu sou nuvem, transparente se sou lodo ou água turva

O tempo é uma maleita, uma cisma sem amparo ou cura
Uma paixão platónica, sofrida e insegura que perdura
Um amor desgarrado, uma intensa vontade de procura

Com ele me estendo, sonho e medito
Baralho-me e contento-me num eterno delito

Manuela Carneiro in Lector 



Os Poetas Convidados agradecem a vossa presença.

terça-feira, junho 04, 2013

Teresa Mulata


Pintura de Ningbo

Essa mulata Teresa
Tirada lá do sobrado
Por um preto d'Ambaca
Bem vestido,
Bem falante,
Escrevendo que nem nos livros!

Teresa Mulata
- alumbramento de muito moço -
Pegada por um pobre d'Ambaca
Fez passar muitas conversas
Andou na boca de donos e donas...

Quê da mulata Teresa?

A história da Teresa mulata...
Hum...
Vôvô Bartolomé enlanguescido em carcomida cadeira adormeceu
O sol coando das mulembeiras veio brincar com as moscas nos
[lábios
Ressequidos que sorriem
Chiu! Vôvô tá dormindo!
O moço d'Ambaca sonhando...

Poema de António Jacinto
(Angola)

quinta-feira, maio 30, 2013

Desertos de palavras

Ana Campelos



Entristecem os sorrisos

De coração atado dentro da boca
Não sabem como dizer
Que nas mãos, talvez ainda coubesse o verde das colinas
E nos olhos, a razão de todas as nascentes
Mas a voz exangue é uma escarpa, uma vereda
De saliva quente em poeira azeda
E as sílabas são ruínas dos olhares poentes

Definham no chão, os sorrisos
Na rua só se encontram
Desertos imensos de palavras.  



quarta-feira, maio 15, 2013

A Música das Esperas


Ponho no forno
Um bolo de maçã
Calor e alegria
Nesta tarde.
Calorias, bem vês,
Moldam-me o corpo
São vestes,
São reversos
São afagos.

Acumulo-te em mim
Em quilos de farinha,
De açúcar, de ternura
De opressão

O que sei fica tão longe
Do que sinto
E a noite é tão profunda
Que me minto
A toda a hora
Em cada decisão.

Poema de Isabel Fraga, 
in “A Música das Esperas” pág. 22

Capa da livro



 Na suave ilustração de capa e contra-capa de Inês Ramos o novo livro de poesia de Isabel Fraga transporta-nos ao seu “Eu” interior numa lírica que transcende viagens de saudade, enternecimento, solidão e amor.
A autora de estrofe em estrofe voa pelos caminhos delicados da sua alma ao encontro de outros mundo onde se revela na mais pura das sínteses.

“…
Água de essência
Onde a verdade se reproduz.
Só as longas raízes
A pressentem.”

(in, pág. 23)