As Letras ficaram muito mais pobres. Muito mais!
Eu, sua fã incondicional de tantos anos, sinto-me vazia com esta perda.
Adeus, meu Poeta e Professor!
dedicado a todos os que gostam dela...
As Letras ficaram muito mais pobres. Muito mais!
Eu, sua fã incondicional de tantos anos, sinto-me vazia com esta perda.
Adeus, meu Poeta e Professor!
Vê-se o castelo, vou poetando trivialidades
no caderno, à minha frente uma rapariga estuda o Livro
do Desassossego,
eu estou sossegado e estudo a rapariga,
não realmente bonita mas
de íris inquisidoras e surpreendente
decerto entre quatro paredes.
Se eu fosse algum dia poeta
seria uma obrigação curricular para os vindouros,
versos a acompanhar cigarros e namoros,
o livro com manchas de café, uma rapariga (filha desta?)
a ler o que eu hoje escrevi no Chiado
e alguém noutra mesa a fazer
um poema acerca disso.
Pedro Mexia
in, “Eliot e Outras Observações”
a pág. 15- Gótica Editores - 2003
Fotografia: Vista aérea de Lisboa, retirada da net
Pano de fundo de loucas paixões
A violar-nos por dentro
Metáfora, hipérbole, paradoxo
Folha arrancada a imaginário calendário
Este frio na alma a gritar solidão!
A chuva teima em cair
Pérolas de nácar escorrem te do rosto
Cobre a névoa teus passos
Que se afastam--------já não és
Corpos de pedra no jardim dos sentidos
Visto-me do silencio que não queremos quebrar
Partimo-nos por dentro
Desmontamos pedra a pedra a catedral do tempo
E eu num prenuncio de equinócio
Fico- me aqui a contar horas perdidas
Desenho e Poema de Wanda Campos
Boas leituras.
Ao meio das folhas, no meio das vozes
que abrem e cantam a clareira, a corda
de algodão delgada e branca que atravessou
quatro orifícios, quatro furos petrolíferos,
dá o nó e o laço
que seguram as páginas de terra e
formam o caderno. Nas praias imóveis
nas suas ondas quietas, na rugosidade
branca das suas verdes folhas, podes
agora
escrever na leitura o livro
entre ti e mim tecido/entretecido
das sílabas vivas do surdo clamor
do mundo, do vivo enquanto
vivo.
Beija o anel do luar e
do sol: a música do mundo
presa na haste viva que o livro
hasteia branca e vermelha.
Poema de Manuel Gusmão
Pintura de Susan Bourdet
Já ouvi doze vezes dar a hora
No relógio que diz que é meio-dia
A toda a gente que aqui perto mora.
(O comentário é do Camões agora:)
«Tanto que espera! Tanto que confia!»
Como o nosso Camões, qualquer podia
Ter dito aquilo, até outrora.
E ainda é uma grande coisa a ironia.
Fernando Pessoa in, "Poesias Inéditas", a págs. 605
Obras Completas, Vol. I
Arde no coração da noite
A ritual fogueira que anuncia
O eterno milagre
Do nascimento.
Batida pelo vento,
Que da cinza das brasas faz semente,
É um sol sem firmamento,
Directamente
Aceso
E preso
À terra
Por mãos humanas.
De raízes profanas,
Lume de vida a bafejar a vida,
O seu calor aquece
A única certeza que merece
Ser aquecida...
Miguel Torga in, Dário VIII, a págs. 178
(Vila Cova, 24 de Dezembro de 1958)
Escritora, poetisa e jornalista recebeu a Medalha de Mérito Cultural.
(clicar no nome para aceder à noticia, por favor)
Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados,
fartos do mesmo sol, a fingir de novo todas as manhãs,
convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer:
“Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se
em nuvem hoje às 9horas. Traje de passeio”.
E então, solenemente, com passos de reter tempo,
fatos escuros, olhos de lua de cerimónia,
viríamos todos assistir à despedida.
Apertos de mãos quentes.
Ternura de calafrio.
“Adeus! Adeus!”
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes…
primeiro, os olhos… em seguida, os lábios…
depois os cabelos… a carne, em vez de apodrecer,
começaria a transfigurar-se em fumo…
tão leve… tão subtil… tão pólen…
como aquela nuvem além vêem?
Nesta tarde de Outono ainda tocada por um vento de lábios azuis…
José Gomes Ferreira
Aonde teus passos me levam,
aí, o voo segue da noite.
Escrevo as linhas do percurso, e
toco, a teu lado, entre fetos e
urtigas, a câmara escura da casa.
Rasga o comboio os campos manchegos,
com uma toalha húmida e
um livro aberto, a cobrir a nudez que
sofremos.
E desenhas o mapa dos líquenes, e
aprendes, a meu lado, sobre o esqueleto
dos reis, a aresta antiga das
torres.
Aonde os anjos escalam o oiro das uvas,
aí, o horizonte morre da manha.
in, Doze Mapas, (Poesia Reunida 1969-2019)
a págs. 245, (Edição Glaciar)
(ª) Mário Cláudio , para ler sobre a biografia do autor, clique no nome, por favor.
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Pintura de Jesús Miguel Lozano Cantó
Fotografia de João Manuel |
Lisboa |
Diego Fernandez |
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