quarta-feira, janeiro 24, 2007

Pergunto-me...


Imagem de Hussein Chalayan


Pergunto-me o que faço aqui,
neste lugar onde nascem mundos
nas palmas das mãos.

Pergunto-me o que espero daqui
deste muro onde crescem heras entrelaçadas de espinhos.

Debaixo do espelho frio
esperam olhares marejados de topázios, antigas lendas.

Por detrás da parede negra,
oiço vozes enfeitadas de rubis,
alguns silêncios.

Pergunto-me o que espero daqui.
Das Luas que inspiram.
Dos Sóis que acalentam.
Do rasgo de loucura.
Da Luz perseguida
até à esquizofrenia.
Do medo.
Da morte.
Dos sussurros do mar.

Pergunto.
O que faço aqui?
Que espero do mar?
Do mar. Do mar. Do mar.

(Poema de Canela e Jasmim in Chá de Rosas)

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mar dos olhos


Fotografia de Maya Della

Quando me tocas
Com essas mãos
Molhadas
De sabor a mar
Sensíveis, salgadas

Eu me espanto!

Na doçura do teu olhar
Reflectido nas pupilas
Adivinho o quanto
Tu choraste
Ansiaste
Para me abraçar

O que sofres, é sempre passado.

Quando nos meus braços te abandonas
solicitas-me desejo. Único momento,
quando em ti me afogo, não sou, não somos
desejo ou saudade, apenas espírito leviano
que nos corpos aportou.

Nada me dizes,
consumada a transcendência,
Do que te invade no dia e na noite,
Quando não estou.

Mas teus olhos não abandonam
a vidraça da janela, que é fria e quebrável.
Junto dela, esperas que a noite se rasgue no ventre do dia.
Que o verbo regresse e esconda em ti a apatia

O verso descrito nos límpidos lençóis
Inócua promessa de que um dia
Todos, seremos apenas dois

Na fogueira da noite fria
Nada existe depois.

Depois… bem, depois
Somos madrugadas…

Quando me tocas
Com tuas mãos
Molhadas
Das lágrimas de mar
Ternas, salgadas

Eu, ainda me espanto!


(Poema de Luís Monteiro da Cunha in Bufagato)

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Sonhar….


Óleo de Sophie Barjavel


Quem és tu que me fazes sonhar?
Um feitiço que alguém me lançou!

Laço triangular, não o quis apartar
Nos braços alguém que me elevou!

Espera! - Que eu acorde de manhã...
Dá-me tempo e espaço, o que alterou?

Preciso de esconder o infame traço...
Corrompida esta alma! - Que amou!

Quiseste dar-me o céu, peguei numa estrela,
Ofereceste-me o mar, uma gota me lavou!

Num olhar, indicaste um lindo bosque,
Em pegadas que alguém já desflorou!

Vai! - E procura os nómadas do deserto...
Impetuosa, esquecerá quem as deixou!

Quem és tu que me fazes sonhar?
Um feitiço que alguém me lançou!

(Poema de Maria Valadas in Palavras.ao.Vento)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

o sol. os sóis.


Óleo de Camille Pissarro


há sóis que não desaparecem da nossa vida
pobre no olhar para ver
e há o sol que baixa suavemente, incendiando
tudo, ao entardecer
diariamente
como uma mão quente que nos traz uma réstia de cor
antes de adormecer


os outros, sóis interiores de afortunadas gentes
não serão menos sóis
são só diferentes no efeito que têm sobre nós.
são os dos santos dos poetas e dos simples
os que encontraram os talentos que perdemos
e os fizeram render.

nós passamos por eles, distraídos. nesta condição
de existir com muito pouco ser
e colhemos os frutos. e comemos
e nem olhamos os sóis que não descansam
e luzem dia ou noite. quais faróis.
para não nos perdermos ao viver.

(Poema de Non(Madalena Pestana) in Vida Morte & cª)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Photossintética


Pintura de Paul Albert Steck



Juntas no mistério
Água, luz e CO2
E, depois,
Como serpente emplumada,
Uma lágrima de nada
Contendo o que em cima existe
Na profunda claridade
Dos olhos de Deus
E o que em baixo desiste
Sob a conversão forçada
À paternidade
Dos deuses alados
Mortos noutra solidão.
Juntas no mistério
Tanto nuvens como pedras.
E no cemitério
Daqueles que não nasceram,
Sepulturas por abrir
Igualam-se em inquietude
Ao sossego manso
Da eternidade
Do ventre da Virgem.

(Poema de Manuel Anastácio in Da Condição Humana)

sexta-feira, janeiro 12, 2007

H2O


Pintura de Susan Rios


és símbolo químico
que brota da terra

água fresca tatuada na rocha
dás vida à vida

discreta quando habitas nas nuvens,
no horizonte és energia
e fonte do ser.

ouves-me nos desejos
da palavra que não é escrita

circulas no meu sangue e vibras,
deixas que te sinta no coração.

imóvel olho-te
mostras-te rainha no mar,
princesa encantada no rio
que aquece a alma, nos lagos

da tua voz escorrem
hesitantes ternas sombras

olho a tua tonalidade
sinto o desperdício da humanidade

hoje és lágrima
no meu rosto...


(Poema da Lena Maltez in Cabana de Palavras)


...que se transformem em SORRISOS doce Lena, aqui te deixo um carinhoso ABRAÇO e rápidas melhoras...



Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Leva-me o rio...


Pintura de Jean Paul Avisse


Leva-me o rio de um sabor
Que não sei.
Tento afastar o murmúrio do opaco
E perco a razão do que sou.
Não sei silêncio mais vago, mais sem cor.
Perdi o sentido da essência
E só a noite me dá os trilhos,
O brilho de uma noite que não será.
Espero e o vazio nada me traz,
Nada me mostra.
Sigo linhas de um sabor que não me quer
E apareço só à monotonia das coisas.
Serei algo que não vale a pena?
Quero fundir-me com o rio
E fugir, chegar ao mar.
Os sonhos apertam-me a ideia
E não sei o que ser.
Corta-me o silêncio e não sinto,
Não sei, não me quero.
Desapareço num grunhido de dor
Que se mistura no ar
E persegue a noite.
Nem um só sentido brota como um beijo
Brota de uns lábios.
São perdidos os rumos que me alcançam.
E, simplesmente, não pareço existir
Ou saber o que mostrar.

(Poema de Rita Pacheco in Em Flor)

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Canção Breve de Amar


Imagem de Kababelan



Como é rara e leve a flor que breve
Anima a janela ao teu olhar
Como tocam anjos naifs na viela
Sinfonias secretas e odes belas
Na calçada onde a lua se demora
Na esperança de colher o verbo amar
Como gosto de tocar as tuas mãos
Se as estendes assim para o luar
São murmúrios da noite dos amantes
Na labareda do silêncio astral
à varanda dos sentidos tu semeias
e eu colho a mais rara dor de amar

As urbanas altitudes onde estás
Telhados furtados à nesga azul do céu
Casas gigantes de moinhos sem pás
Lembram o amor encarcerado
Na gentil magia do luar de breu
Rasgas noites violetas de quimera
Rasam sorrisos feitos de marés
E a cidade acende-se em mil luzes
Mil fontes cintilantes a brotar
Nós dois na nudez azul do sonho
Mergulhamos como cisnes
Submergimos corpos belos
Num enlace que é longo por eterno
E como é rara e leve a flor que breve
Enfeita o meu corpo se te espero
Na serrania onde o verde nos embebe
Da pacífica dor de saber esperar
Entre casas casarios de aba branca
Na vertente que nunca encontra o mar
Mora rara e breve a sede de existir
Sem mais querer que o de te achar
Sem mais mester que o de (te) ouvir

(Poema de Aziluth in Serena Lua)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Amo aqueles…


Imagem de Roman Golunbenko



amo aqueles que só sabem amar
enfrentando a vida
porque passam pela loucura.
amo aqueles que buscam o sol
por entre o escuro
porque amam sós.
amo aqueles que abandonam o passado
enfrentando a vida
porque procuram soluções.
amo aqueles que percorrem o mundo
sempre em busca do amor
porque conhecem a dor.
amo aqueles que sonham no acordar
por entre frases soltas
porque seus olhos reflectem amar.
amo aqueles que só sabem viver no acordar.


(Poema de Ricardo Biquinha in Luz.de.Tecto)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Sentimentos...

Confesso que queria oferecer-vos uma coisa diferente para a primeira postagem do Ano.
E aqui entra a alma de quem está por detrás desta página virtual. Por isso, trouxe-vos hoje as palavras de alguém que leio há muito tempo em silêncio, porque assim é exigido…


Óleo de Brita Seifert

Deus quis brincar com o mundo. Baralhou e tornou a dar.
Os anjos choraram a noite toda e o vento carregou as lágrimas que afogaram as copas das árvores. Nem uma só gota caiu nas terras sedentas. Os campos tornaram-se mais áridos e secos e as plantas morreram. Deus agarrou no mundo de pernas para o ar e fez o perto longe e o longe infinitamente distante. As estações perderam-se no caminho e só o Inverno sabe ficar. O frio instalou-se e arrancou pedaços do peito.
A fé quebrou-se.
Estilhaçou-se.
Deus espalhou as cartas ao vento e já não temos lugar. Dentro de nós há um buraco enorme que só nos lembra o vazio. Já não somos grãos de areia perdidos no deserto mas o próprio deserto. Nem uma gota caiu nas terras sedentas e os anjos choraram a noite toda.

Deus não ensinou aos anjos como parar de chorar.


[In Silêncios(Coisas de Lyra)]

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Canto...


Pintura de Isabel Magalhães "emprestado" pelo Antonio Stein




Enquanto houver um rio, hei-de cantar
Lonjuras de outros tempos, esquecidas.
Enquanto houver gaivotas rumo ao mar,
Cantarei lembranças de outras vidas.

Enquanto houver um rio, hei-de sonhar
Venturas de outros tempos, proibidas.
Enquanto houver mordaças de matar,
Cantarei esperanças coloridas.

E enquanto o rio correr e eu cantar
Vontades, ilusões, destinos, fados,
Talvez um dia, o meu canto chegue ao mar

Se não, que espalhem as gaivotas pelo ar
Em pios, em voos, em desenhos ousados
Tudo quanto meu canto nunca ousou cantar.

(Poema de Helena Domingues in Shoshana no Céu e na Terra)


FELIZ ANO NOVO

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Poesia...

Óleo de Tim Schaible


Se as aves partirem
e os amigos sumirem;
Se o céu trovejar
e o amor se apagar;
Se o mundo morrer
e a dor vos doer;
Se a solidão vos surgir
e de medo ferir;
Se a terra gretar
e ninguém escutar;
Se a roda da vida
vos deixar sem saída...
Ainda assim,
ter-me-ão a mim!

(Poema de
Amaral Nascimento in Laramablog )



Imagem Google

domingo, dezembro 24, 2006

...que venham rosas


Pintura de Susan Rios


que venham rosas descer pela chaminé
e outros sinais avancem em direcção ao sonho.
que o mar vagueie terno pela terra,
sem cadáveres,
pernoite nas palavras,
saliente em hélice o hálito do amor.
e uma lua cresça no teu corpo
na serenidade das coisas que te acordam
como uma flor
na verdade que outros sois inventam.

(Poema de Maria Gomes in A Romã de Vidro)


sábado, dezembro 23, 2006

...e porque o Mundo precisa de Paz...


... não devemos esquecer a... Guerra...

Poema de Heloísa BP
Declamado por Henrique Sousa
(Desligar p. f. a música de fundo para ver e ouvir o vídeo)

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Natal 2006


Imagem de autor desconhecido


não te digo do natal coisa nenhuma
do natal enfeitado a sumaúma
que se arruma em cada ano nalgum canto

não te digo do natal em mar de espuma
esse efémero natal-coisa-nenhuma
quebradiço a ter-de-ser e sem encanto

não te digo do natal de coitadinhos
nem daquele de nós todos tão sozinhos
conformados sem ter sonhos nem espanto

não te digo do natal feito de prendas
num afecto leva-e-traz que me encomendas
e trocamos cada ano em qualquer canto

mas te digo um natal fio de seda
do casulo entretecido que te enreda
e te leva ao riso ao sonho em doce encanto

digo ainda do natal feito de enlaces
desfiando o casulo onde renasces
enlaçando cada ser por valer tanto

digo então um natal que desse fio
deslassado mundo fora como um rio
nos envolva a todos nós num acalanto

mais te digo do natal de um outro início
celebrando a nova esperança o solstício
recriado em nossa voz num novo canto.


Poema de Jorge Castro



FELIZ NATAL

segunda-feira, dezembro 18, 2006

As barreiras da razão...


Imagem de Debra Martelli



Hoje não me falem de dor
Levantei as barreiras da razão
Defini as palavras proibidas
Dor, não!
Digam do tempo, da chuva ou da bruma
Talvez do frio das noites
No conforto das casas aquecidas
Digam do mar
Que repousa em cachos de espuma
Diz-me tu, da vida
Não da tua nem da minha
Da dos desconhecidos que se cruzam
Na margem paralela do caminho
Conta histórias de outros tempos
De dias por conhecer
Enche-me de palavras os ouvidos
Das que despertam os sentidos
Sem limites nesta rota de ilusão
Hoje, dor não!


(Poema de Vida de Vidro)


sábado, dezembro 16, 2006

Um dia na Cidade...

Imagem daqui


Na manhã nova, a luz chega de seda
E envolve devagar o Porto Antigo
Como pedindo à noite, ávara e negra
Que troque agora de lugar consigo

Passaram horas; soa o meio dia
Nas torres de granito iluminado;
No apogeu da luz; o céu é sinfonia
E o Douro, imenso diamante lapidado

A tarde cai! É dos Pintores a hora
A cidade é tela, inacabada e pura
Com pinceladas rubras onde se demora
Toda a cor que alastra pela lonjura.

E a noite escura sucedeu ao dia;
As vielas são estreitas manchas pretas
Já ninguém lembra quem é que dizia
Que a esta hora o Porto é dos Poetas!...


(Poema da *Maria Jerónima aqui)

*Maria Jerónima não tem blogue. Conhecia-a numa Noite de Poesia, em que declamou de forma soberba um poema de António Gedeão, que pode ser lido aqui e foi um enorme prazer revê-la no Blogue Chave de Poesia

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Ser...


Pintura de Susan Rios


Eu não quero enriquecer como os demais
Pensando em tudo o que me apraz comprar;
E não quero só bens materiais
Quando outros mais posso amealhar.

Trincando petiscos preciosos
De risos enchendo serões quentes,
Eu quero os meus amigos ansiosos
Em tornar estes momentos mais frequentes.

Eu quero enriquecer ao dar a mão
Àquele que ao meu lado ma estenda,
Sem nada dar em troca, só um olhar
Que docemente pede que o entenda.

Pois riqueza não há maior que esta,
De dar o coração e receber,
Afeição, ternura manifesta
Que nunca é demais oferecer.

(Poema de Era uma vez um Girassol )

segunda-feira, dezembro 11, 2006

...amor é isso!


Imagem de autor desconhecido


Havemos de descansar. Sim. Descansar
Deixar de turbilhão a vida à porta
Como maré só de ida. Devagar
Que o amor se faz paixão, mesmo morta
Quando pára cansada, de madrugada
Por entre gritos e segredos de tudo e nada
Por dentro de mim na saudade de ti
Por certo sem rumo, sem aqui ou ali
Por força da Natureza que em nós se faz
Havemos de descansar. Sim. Mesmo sem paz...

Havemos de nos ver. Sim. De nos ver
Partir da terra à proa nos ventos
Como tempestades de carinho. Nascer
Que a paixão se faz amor, nos momentos
Quando adormece, se esquece
Por entre as noites em que tudo nos aquece
Por dentro da dança que se faz canção
Por certo sem medo, sem compromisso
Por força dos sonhos que nunca temos em vão
Havemos de nos ver. Sim.
Porque amor é isso!



(Poema de Pedro Branco in Das palavras que nos unem)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

O Sonho Adiado...


Óleo de *Alfredo Keil


O poeta continua a viagem
Pelo cais dos sonhos...

Mesmo sem a luz do Farol,
Sem a frescura da água
Das bicas do Chafariz,
Não desiste de sonhar...

Percorre o Ginjal
De mão dada com a serenidade
Deixa-se empurrar pelo vento
Naquele carreiro da liberdade

Apesar das paredes cinzentas
Marcadas pelo abandono
Acredita num futuro azul
Inspirado na beleza do Tejo
E no encanto das suas margens

O poeta continua a viagem
Pelo cais dos sonhos...

E promete,
Nunca desistir de sonhar...


(Poema de Luís Milheiro in Casario do Ginjal)

*Uma breve nota sobre Alfredo Keil: Compositor, escritor e pintor contemporâneo, deixou mais de 2000 obras, entre telas e desenhos. É ainda o autor da música "A Portuguesa" que com letra de Henrique Lopes de Mendonça, deu origem ao actual Hino Nacional.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Rasgo de Alegria...


Pintura de Ana Maria Jaramillo


Rasgo de alegria
Rompe pelo meu coração
Sinal de harmonia?
Ou apenas uma vibração?

Tempo curto que senti
Provavelmente por algo que assisti
Que no entanto já me escapou
Ou foi o vento que o levou.

Sinto agora a falta dessa emoção
Que estava dentro de mim
Só a tenho sentido na minha ilusão
E como me faz falta momentos assim.

Voltei a sentir de novo a sensação
De algo que pensei já ter esquecido
Voltando a dar razão
Que por estes momentos…tudo faz sentido.


(Poema de João Filipe Ferreira)

segunda-feira, dezembro 04, 2006

O Mar em nós


Imagem Google


Canto a vida como a conheço
E sei que o Sol é quente no
verão
Penso em ti quando adormeço
E por ti Amor farei uma
revolução.
Na minha vida até o sonho é mar
A imensidão perdida
na demora
De olhar o céu e poder contemplar
O azul onde tenho a
minha hora.
Canto o mar... em nós o sinto
E tenho em mim as ondas a
bater
Que ao Amor eu nunca minto
Nem lhe escrevo só por escrever.
Ah! se eu pudesse na verdade
Levar o barco...aonde tu estás
E ter
no teu olhar a felicidade
Das marés que ficam para trás.
Talvez o
sonho seja apenas ficar...
No areal de uma praia qualquer
E ouvir no
mar sereias a cantar
Quando a Lua vier nos conhecer.
E no meu olhar
de sonhador...
Procuro as rochas que há em ti
Rasgo tempestades de
Amor...
Digo-te tudo o que não esqueci.
Um dia, quem sabe, talvez a
sós
Tenhamos nestas águas uma cama
E como ilhas uma parte de
nós

Abraçando as ondas de quem ama.

(Poema de *F. Corte Real)

*Autorizado pelo autor, que não tem blogue

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Do Litoral...


Imagem de Ângela Maria Crespo


Falo do vento
porque o mar ondula
na larga emoção dos teus cabelos.
Falo do mar
porque um barco ainda navega
na verde distância dos teus olhos.
Falo de ti
porque a memória do tempo
se recusa a ser apenas de palavras.
E se palavras digo é porque sei
que outras flores não tenho para calar
o silêncio agrilhoado dos meus versos.


(Poema de Carla in O que de mim sei )

quarta-feira, novembro 29, 2006

...das palavras, se faz Poesia...





o corpo.

cumpro as horas,
nessa
penumbra
que te cobre
e onde pouso as mãos.
com gestos lentos
e num sangrento
silêncio,
(onde escondo
a tristeza
que me corre
entre cigarros),
escavo
o abismo
onde me és pão e vinho.
o corpo,o teu,ainda.
só aí me lembro ou sei.
como quem acosta,
fosforescente,
ao desabar espumoso
de madrugadas no mar.


(Amadis de Gaula in abattoirblues)

Pintura de Tamara de Lempicka

segunda-feira, novembro 27, 2006

Trovas Soltas


Pintura de Nela Vicente

A Vida é luta infindável
que todos querem ganhar;
mas vencer é improvável,
por isso, é aconselhável
com perspicácia jogar.

Muitos houve que trilharam
caminhos de perdição;
outros que desesperaram,
corpo e alma destroçaram,
por obter libertação.

Tenho sede de Absoluto
e ânsia de Perfeição…
Eu sou diamante em bruto
que sonha a cada minuto
na sua lapidação.

Se dizem que ele houve um Deus
que de Si me copiou,
rasgarei da noite os véus
e indagarei dos céus
se esse Ser me originou.

Se é loucura querer saber
e pecado querer amar,
pecadora quero ser
e, alienada, sofrer
escárnio da gente vulgar.

Procuro fazer crescer
o pouco que tive em sorte;
quero amar, rir e sofrer
− pois não é por não viver
que terei perdão da Morte.



(Poema da Aspásia in O Jardim de Aspásia)

quinta-feira, novembro 23, 2006

Estado de Espírito


Imagem de BGallery


Tira-me do silêncio,
Sussurrando palavras lapidadas,
Na intemporalidade,
Dos teus pensamentos.

Absorvidos de desejo!

Gravuras esculpidas,
Numa utopia,
Inexistente e abstracta,
Do emudecimento apaixonado.

Longínquo ou perto,
Ritmando os nossos corpos,
Na ilha da tentação,
Fundeando a luz
Na descrição.

De um amor envolvente,
E profundo.


(Poema de @Memorex )

segunda-feira, novembro 20, 2006

Mulheres da minha Vida...

(Balanço final)


Imagem de BGallery


Mulheres da minha vida, não queirais
Que eu diga, nesta hora, por favor,
Qual foi a que de vós eu gostei mais,
À qual me consagrei com mais ardor

Sendo a mulher flor tão delicada,
Como escolher entre uma e outra flor?
Se colho a rosa por ser tão perfumada
desmereço ao cravo e ao nardo o seu valor?

E a violeta, o jasmim e a açucena
Ignorá-las quem não teria pena?...
Por isso todas guardo em meu canteiro

Não me pergunteis, pois, qual mais amei
Nenhuma de vós jamais eu olvidei
E amo ainda todas, por inteiro


(Poema de
António Melenas in Escritos Outonais)


Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

quinta-feira, novembro 16, 2006

Poesia em fuga...


Imagem de F. Agell


A poesia perdeu-se nos labirintos da emoção,
escapou por alamedas nubladas de dor...
Horizontes tristes tresmalhados do coração
que envergam a nostalgia de um amor.

Onde estão as flores que despontavam
nas alamedas secretas dos sonhos,
aromas de infinito que embalavam
auroras enamoradas, pensamentos risonhos?

Ó poesia que fugiste nas asas do vento...
Levaste contigo os lírios de ternura
que esculpiam estrelas no firmamento!

Agora imersa estou num vazio de tortura...
Tudo em mim é angústia e lamento...
Sou um jardim sem flores... em amargura.


(Poema da *Fanny* in Simplesmente Murmúrios...)

terça-feira, novembro 14, 2006

Neste muro branco





Neste muro branco
segredam-se histórias caladas na cal.
Recordam-se breves fragmentos
de um dia singular,
onde papoilas dançam ao vento
e uma criança tropeça no teu olhar.

Neste branco muro
vivem-se histórias pintadas na pedra.
Anseiam-se beijos quentes
que tardam em principiar,
onde as mãos se procuram lentas
na nudez inquieta do teu respirar.

E é neste muro de cal branca,
que se revivem histórias de cada luar,
são histórias minhas e tuas,
memórias de todos os que souberam amar.


(Poema e imagem de Jose Fontinha in aZArt)

sábado, novembro 11, 2006

Beija-me...


Lápis de Andrei Protsouk


beija-me uma vez
beija-me sete
beija-me setenta vezes
vezes sete

que te beijo uma vez
te beijo sete
beijo-te setenta vezes
vezes sete

amor que nunca esquece
o beijo mais fecundo
que só ao amor obedece
sete vezes, vezes o mundo


(Poema de P Az in O Zigurate)

quinta-feira, novembro 09, 2006

Olhos – reflexo da alma...


Imagem modificada pela *Fanny*


Olhares, contemplam tudo por fora
Reflectem tudo por dentro
Interiorizam pensamentos para a alma
A alma dá-lhes embelezamento

De fora vem beleza e angústia
De dentro vem a significação
Lágrimas vêm do fundo da alma
Beleza embeleza o coração

Olhos tristes revelam alma consternada
Exaustos da força de sofrimento e mágoa
Olhos jubilosos espelham alma suave
Compartilham paz de alma profunda e leve

Olhos misteriosos de pessoas misteriosas
Olhares e mistérios que se devem venerar
Do pouco que suas almas mostram
Mostram que muito mais têm para dar

Olhos profundos procuram profundidade
Vêem o exterior internamente
Enfraquecem com tão forte invasão no espírito
Engrandecem a alma com poderoso adorno vitalício

Olhos belos são os que procuram profundidade
Olhos profundos de profunda sagacidade
Que sua alma lhes implora por beleza intensa
Olhos belos são reflexo de alma sempre imensa


(Poema de Simão Cabral in Mente Delirante)

terça-feira, novembro 07, 2006

...delírios de azul...


Imagem de autor desconhecido


Ouso de ti gostar. Olhar-te
Do alto do haver-te e amar-te
Num rasgo de criação e loucura
Entre finos lençóis de sol e de querer.
Amar do teu corpo a melodia
E fragrância, a floração da carne
Debaixo das minhas mãos a crescer…
Um mais querer… paixão e desejo
De abraçar nos lábios a frescura de uma
Rosa que o aljôfar da alvorada vestiu;
Dois corpos vestidos com a nudez
Das fontes que ao entardecer
Se tocam em delírios de azul.


(Poema de Alves Bento Belisário in "Inquietudes" )

sábado, novembro 04, 2006

Deixa!....


Imagem de Georges Barbier


Deixa que faça das palavras beijos
E beijos de cada palavra que te escrevo.
Deixa que as letras se cruzem entre si
Formando ideias e lamentos.

Deixa que cada palavra seja um grito desesperado.
Deixa, as palavras serem mimos
Deixa que me encontre em ti
Quando já nada resta
A não ser a perdição.

Lê mesmo nas palavras que não digo
Naquelas que inventei
Nas outras que não invento, mas imagino.
Lê nos silêncios sem palavras
Mas lê em cada palavra um beijo.

Deixa que percorra o teu corpo de sabores e ânsias
Com lábios de palavras que são beijos.
Deixa que sejam os beijos a serem palavras que não preciso escrever
Mas beijos.

Deixa, que a languidez de todo o meu ser
Te toque
Percorrendo cabelos, pernas de lavas
Quentes
Pernas sem palavras e desejos
Sem palavras
Beijos.

Mergulho na tua doce boca, calando palavras
Buscando os beijos de letras
De poemas sem poeta
Espumas de mar, e palavras.

Deixa que sejam os beijos, as palavras.
E que as palavras sejam beijos.
Assim, posso tocar o teu corpo
Mergulhar nele
Com lavas ardentes de desejos
E palavras, que são, afinal beijos.

(Poema de *António José Pinto Correia)


*Autor do livro Insónias e afins recentemente editado

quinta-feira, novembro 02, 2006

Vieste...


Imagem de autor desconhecido


E tu vieste assim…
Devagar, lentamente, como uma folha
Que cai devagar, com medo de tocar o chão!
Assim me despertaste, como a aragem da manhã,
E me envolveste nos teus braços
E tu vieste assim,
Como quem quer sentir somente o calor
De chegar a casa e descansar
Nos braços de alguém!

E tu vieste assim,
Como quem
Quer um lar
Para o coração!

E ficaste, em mim!

(Poema de Delfim Peixoto)

Ouvir o poema na voz do Luís Gaspar
(Desligar p.f. a música de fundo para ouvir o poema)

segunda-feira, outubro 30, 2006

Solidariedade e Poesia...

Porque a Poesia são sentimentos que partilhamos com os outros e também um elo que pode ligar e estabelecer afectos, resolvi partilhar o conteúdo de um email que recebi recentemente, onde a solidariedade e a poesia andam de mãos dadas.
Através do
Padre Mário de Oliveira tive conhecimento desta obra de solidariedade e de divulgação de cultura, onde está inserido o Poetas Somos que têm um projecto de editar um Livro de Poesias, sem custos para os Poetas e cuja receita reverterá a favor da Obra que defendem.
Vamos conjugar esforços e ajudar com dois ou três poemas de cada um de vós, esta
Obra e no final quem sabe, nos possamos reunir todos numa daquelas salas e, recitar Poesia



Imagem autor desconhecido


Há uma casa no olhar
de um amigo.
Nela entramos sacudindo a chuva.
Deixamos no cabide o casaco
fumegando ainda dos incêndios do dia.
Nas fontes e nos jardins
das palavras que trazemos
o amigo ergue o cálice
e o verão
das sementes.
Então abre as janelas das mãos para que cantem
a claridade, a água
e as pontes da sua voz
onde dançam os mais árduos esplendores.

Um amigo somos nós, atravessando o olhar
e os véus de linho sobre o rosto da vida
nas tardes de relâmpagos e nos exílios,

onde a ira nómada da cidade arde
como um cego em busca de luz.

(Poema "Um Amigo" de Eduardo Bettencourt Pinto)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Tingida de noite...


Imagem autor desconhecido



Tingida de noite tropeçaste em mim,
triturada pela desilusão de uma dança.
Tango Argentino decorei nas tuas ancas e seios,
tatuado de tempo e vontade indiferente.

Tua voz silenciosa envolveu-me sem avisar,
telepática e inigualável, oscilou o meu mundo.
Temperaturas mortas te gelavam as mãos,
tocaste-me com o suspiro de vida que escondias.

Toxinas conquistadoras te colonizavam,
tumores possessivos de momentos vividos.
Tela alheia de fantasias cúmplices,
textura ardente em sopro oscilante.

Trovoadas pincelámos em ecos pintados,
tormentas apaziguamos e enchemos de nada.
Torneios de vendavais e calmarias nos embriagam,
tentações da vida, essa ilusionista infinita e perfeita.

Traí o rótulo do amor que se deseja cego,
testemunha fui de que te amei com um olhar.


(Poema do Dilbert)

quarta-feira, outubro 25, 2006

Plantador de sonhos...


Imagem daqui



No teatro da vida, solitário,
Unicamente em sintonia com a fantasia,
Fui o artista que gerou imagens
Para consolo de ânsias sem fim.

Fui aquele que criou
formas de vida pelo sentimento,
O génio insano que idealizou amores
Para amparo, sustento da esperança.

Louco alquimista dos mistérios,
Tradutor de desejos
E ensaísta da volúpia eterna.

Fui plantador de sonhos...

(Poema de Louco de Lisboa in In§†an†e§ ðe µm £oµ¢o)

segunda-feira, outubro 23, 2006

O crepúsculo em combustão lenta...

Confesso que o poema que vos trago hoje, pertence a um dos blogues de cinema que mais gosto de visitar…e porque o cinema é outra das minhas paixões, aqui vos deixo... wasted blues


Imagem de Pedro Moreira

O crepúsculo em combustão lenta
Entre anjos e

E criaturas novas

A urgência do mundo
que bate o pé

A arte de ser
uma nova estrela

Os hóspedes tão desconhecidos
quanto influentes,
A teia e a aura:
Paralelas que talvez se encontrem.

(Poema de wasted blues)

sexta-feira, outubro 20, 2006

de que medidas somos feitos?


Pintura de Márcio Melo

de que medidas somos feitos?
quantas peças encaixam, moldes utilizados
olhos que nos vêem, de que modo?

fosses um bosque
uma pedra vento fogo
inanimado

fosses flor
água terra

não sendo nada és
sou espírito navegante
ouves o que permito
tocas no alcançável
o resto é mato


(Poema de Teresa Durães in Voando por Aí)

quarta-feira, outubro 18, 2006

Paixão...


Imagem Sandra Perez



Atravessamos o deserto descalços
Alegres
Desprendidos
Enfaixados em sonhos

Carregamos esperanças
Elexíres de domínio
Projectando momentos
Fragmentos do que não foi

Mas atravessamos o deserto descalços
Porque as certezas dissipam-se nas areias
E o óbvio é acessório


(Poema de
Daniela Mann in Amar-Ela)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Apareces tão pouco...

"-Tens muito que fazer?
-Não. Tenho muito que amar.
(Não entendo ser professor de outra maneira. E não me venham dizer que isto cansa e mata; morrer-se sempre se morre: e à minha maneira tem-se a consolação de não ser em vão que se morre de cansaço.)" in Diário de Sebastião da Gama




Sebastião da Gama

Confesso que ao começar a ouvir as primeiras palavras ditas aqui me emocionei bastante.
E reportei-me anos atrás, onde uma voz tranquila lia em certos momentos, palavras que se foram interiorizando em mim. Tal como estas:


“Há palavras alegres e há palavras
tristes. E essa tristeza ou essa alegria
umas vezes está nelas, outras no
modo de as dizer.”


As palavras do Luís Gaspar despertaram em mim recordações há muito guardadas na memória dos afectos. Confesso que enquanto o ouvia, uma lágrima rolava no meu rosto. Da minha meninice e dos meus tempos de estudante, guardo recordações maravilhosas. E sei que muito do amor às letras que tenho, vêm desses tempos.
Hoje num turbilhão de sentimentos, recordei momentos, factos e pessoas que guardei sempre no meu coração. Um deles, a pessoa que me ensinou a amar as letras, que lia na sua voz doce e que me transmitia e a toda a classe que leccionava, toda a candura de um Poeta que ela própria respeitava e admirava: a minha Professora, que também era a minha melhor Amiga e minha Mãe.
É a ela e por ela, que hoje neste Poesia Portuguesa me atrevo a deixar aqui a voz do
Luís e este


Apareces tão pouco...

Apareces tão pouco nos meus sonhos que quando os sonho chego a ter saudades tuas.
E entretanto tu és ainda a mesma continuas a pôr cravos e rosas ao pé do meu retrato, a idealizar uma casa ao rés das ondas (mal pensas nela, riem nos teus ouvidos nossos filhos) e a fazer da Vida precisamente a ideia que fizeste de mim desde a primeira hora.
Era assim, boa e simples, que antigamente chegavas aos meus sonhos. E como eu, pela minha, calculava a tua pressa, fazia-te chegar rosada e ofegante, exausta de correr da tua porta à porta da minha fantasia.
O tempo era o das flores... E tu colheras uma no caminho e vinhas dá-la ao maior e melhor de todos os poetas. Eu fingia fingir acreditar no que de mim julgavas, e era já acordado que beijava as tuas mãos, pois desceras comigo do sonho e à minha volta o estremecer alegre e o perfume suavíssimo do ar e um silêncio igualzinho ao que se faz quando te calas eram tua presença verdadeira ...
Por que não vens agora? Todo o tempo é o tempo das flores, para os poetas...E tu pensas de mim o que pensaste sempre e bordas nos lençóis as nossas iniciais. Por que não vens? Chegarias ainda rosada e ofegante. Não virias molhar de lágrimas meus sonhos, porque não sabes nada ... Nem sequer que até esqueci a cor e o corte do vestido que tu estreaste (há quantas Primaveras?) no último sonho em que sonhei contigo ...

(Sebastião da Gama )

Sebastião da Gama foi Professor. Muitos alunos o recordam. Um deles o próprio Luís Gaspar e são dele estas palavras que finalizam o Palavras de Ouro 63:

"Vou reler e reler o “Diário” de Sebastião da Gama onde ele, a certa altura fala de um dos seus alunos como um tal Micróbio alcunha que me acompanhou durante muito tempo na Escola Veiga Beirão. "

sexta-feira, outubro 13, 2006

Outono


Imagem Mário Galvão Ferreira Galante [Magal]


Talvez nunca a ternura fosse tanta
como entre os montes amadurecidos
e quando as casas se elevam
entre o ouro e o fumo da tarde.

Silêncio que parece vir do lento
passado,
vozes que se dão
em resignada melancolia
e tomam a forma dos frutos,
vinho e sombra que apagam o mar
nas árvores
onde não tardará o abandono
memória do que somos.

Repousam sobre a noite os grous
enquanto as cidades crescem à nossa volta
contra o sul vencido.

Vento, ramo e sombra que caem
sobre as janelas ardentes:
lá onde a púrpura se reclina
sobre a água e a beleza
a verdade começa a surgir da espuma.

(Poema de Henrique Dória in Odisseus)

quarta-feira, outubro 11, 2006

Pintar o tempo...


Óleo de John William Waterhouse


Hoje já pela noite
Fiz-me ao mar ...

Libertei sereias
para cantar
em vozes transparentes
e calmas...

Transformei gaivotas
inquietas...
voando
em voos de rasos
de almas
planando...

Desencalhei navios
afundados
soltei barcos
naufragados...

Sacudi a folhagem
mudei a paisagem...
Desfolhei flores
de mil cores...

Perfumei o vento !
Pintei o tempo!

(Poema da Perdida)

segunda-feira, outubro 09, 2006

Escadaria


Fonte da imagem: Clarence Signormori

Subo a escadaria
De mármore polido
Até ao topo
Derrapo nos últimos degraus
Quase me estatelo
Equilibro-me a custo
Dum golpe de rins
Bem delineado
Alcançando a muralha
Donde consigo avistar
Aquilo que tu não queres ver
Quando subires
A escadaria de mármore polido
Cuidado nos últimos degraus
Eles escorregam...

(Poema de Paula Raposo in Canela e Erva Doce)

No próximo dia 14 de Outubro às 18.30, será lançado o livro de poesia "Canela e Erva Doce". Mais detalhes aqui

sexta-feira, outubro 06, 2006

Estuário d´amor


Imagem de Adriarual


Tatuaste
no teu corpo, a minha
cor
entrando... nos teus poros
corro-te
no sangue...
livre

A alada curvatura do meu seio
Não evita o doce peso dos teus dedos
Um favo, onde se junta toda a doçura – sem receio
Vestes a nudez do meu liso ventre – com segredos

Doce mel do teu olhar desliza...
Pequenas gotas em meus lábios caem
Como palavra absoluta, envolvida na melissa
No íntimo desprender, aquando tocamos – a margem

O teu coração
movendo-se na boca
inaudível dos teus dedos...


(Poema de Betty Branco Martins in Fragmentos)

quarta-feira, outubro 04, 2006

O que é Poesia?


Imagem de Luis Caeiro



O que é Poesia?
Porquê escrever?
É uma triste alegria,
É um amargo prazer.

Em versos, o poeta tem
Um desafogo da alma,
A emoção que lhe vem,
É ânsia, loucura, calma...

Escrevendo, sente-se bem,
Sente-se algo, sente-se alguém,
Num mundo que não é seu.

O que ao poeta dói, o que sente,
É que o mundo, não compreende,
O que, tão sentido, escreveu.

(Poema de Luis Caeiro in grão-de-luz )

segunda-feira, outubro 02, 2006

Foi-se o Amor...


Imagem de Jeff Novak

Chegaste
De mãos dadas
Com o Outono,
E em pleno
Rio Tejo,
Olhaste-me
E pediste-me
Aquele beijo.
Não são lamúrias
Que ouço cantar,
Nem pedras de sal
Que vejo chorar.
São dois corações
Impetuosos
Pela dor,
Que fraquejam
Por saber
Que de tudo
O que menos ficou

Foi o amor.

(Poema de Natalie Afonseca in A minha teia)