E PEDE-ME AGORA O QUE NÃO DEVIA
Reparastes, donas, que no outro dia
O meu namorado comigo falou
Como se queixava? Tanto se queixou
Que lhe dei o cinto, dei-lhe o que podia;
E pede-me agora, o que não devia.
Vistes (antes nunca tal coisa se visse!)
Que à força de muito, muito se queixar,
Fez-me da camisa o cordão tirar;
O cordão lhe dei: no que fiz tolice,
E o que pede agora, antes não pedisse.
Das minhas ofertas, João de Guilhade,
Enquanto as quiser, não o privarei,
Que muitas e boas, já dele alcancei;
Nem lhe negarei, minha lealdade,
Mas…de outras loucuras, tem ele vontade!
Poema de João Garcia de Guilhade, trovador português,
nascido em Milhazes, concelho de Barcelos durante o século XIII.