sábado, outubro 08, 2011

Gosto de Gente


Pintura de Luiza Maciel




Gosto de gente honesta
Que faz da vida uma festa
Que partilha e se entrega
Que se oferece mas não se verga

Gosto de gente que vive
De gente que me cative
De gente com brilho nos olhos
De gente com alegria aos molhos;

Gosto de gente sem pressa
De gente simples que tropeça
Da que cai e se levanta
De gente que em sofrimento canta

Gosto de gente de todas as cores
De gente que gosta de flores
De gente transigente
De gente assim bem diferente

Gosto de gente com alma cheia
De gente com sangue na veia
De gente que sonha acordada
Que caminha de mão dada

Gosto de gente directa
De pensamento lavado
Com passo lento ou apressado
Que caminha com e sem gente ao lado

Gosto de gente com imaginação
De gente que tenha paixão
De gente que seja ousada
De gente rica ou descamisada

Gosto de gente inteligente
De gente que seja indulgente
De gente que se atira e se mostra
De gente que nunca se prostra

Gosto de gente que olha de frente
De gente que me acalente
De gente que não tem medo
De gente que guarda um segredo

Gosto de gente divertida
De gente que seja atrevida
De gente que seja versada
Gosto de gente com gargalhada

Poema de
Fernanda Paixão

sábado, outubro 01, 2011

Traço sem nitidez para um Mar Incerto


Fotografia de José Rodrigues




"Lá não verá Inverno triste e escuro,
Não ventos, não tormentas, mão mudanças
Mas tudo quieto em Deos, tudo seguro."

In A Diogo Bernardes em resposta d’outra sua, Livro II, 34,75 de Pêro Andrade de Caminha



Inventados os nomes do Livro,
Refeito o traço em desenho de viagem
Aqui colocarei uma página de prata,
Ali adiante uma nuvem de fogo,
E mais além um mar desconhecido.

Criar é noção, é primeiro fingimento,
De cada [cousa] que toma o lugar;
“Não vento, não tormenta, não mudança”
Apenas dum pouco de céu
E duns restos de água e sal,
Comprimo em ar o vento,
Em corpo o mar.
E do Livro, o mundo invento
O improviso do tempo na sua passagem
De todas as almas meu corpo casa,
Dos passos nas ruas do improvisados becos
Meu sangue mesa,
Criação é réplica, é súplica, é fim
Do primeiro momento.

De regresso e partida, a viagem
De descanso o Livro que abandonado
Descansa o corpo exausto neste colchão,
Em concha em forma de estrado, de estrada
E aqui colocarei um lâmpada iluminada,
Ali adiante uma vela de cera salgada
E mais além, um vagabundo,
Mais um no mundo, ilusório pilar de vida,
Que trémula pedra gigante
Esta terra de pedintes.

De regresso e partida, os contrários
A imaginária rota quase corpo construído,
De certeza em certeza, a absoluta manhã
Que não conhecerá o dia.
Contrária é a ousada sabedoria,
De quem se diz alheio em alheio caminho
E na página em prata de desfaz a poeira,
Na nuvem de fogo a mão derradeira
E mais além, do momento o instante,
Breve corpo de chão tecto armário cadeira,
Aprendiz da letra segura, traço dum deus errante.

Se tudo é breve, tudo é mundo,
Tudo é caminho, um pouco de estrada;
Destino do ponto mais distante,
Do incerto fim, vaga letra vaga-lume
Vaga estante onde se pousam os rascunhos,
O amargo fruto que restou do primeiro
Dia. Deste projecto,
Que da cinza regressará ao nada.

Poema de
Leonardo B. in a barca dos amantes



Nota: Este poema inicia um "passatempo" que tem como objectivo a escolha do poema a ser gravado pelo Sons da Escrita e publicado no Youtube. A escolha do poema seleccionado para aquele efeito ficará a cargo dos comentadores.
A cada sábado será publicado um novo poema. No início de cada mês, será feita a selecção.
O mais comentado, ganha a gravação.
Um incentivo para aqueles que ainda fazem da Blogosfera um local de acesso à Poesia……

terça-feira, setembro 27, 2011

"De amor nada mais resta que um Outubro"

O Outono já entrou e Outubro está a chegar fazendo ressaltar todas as lembranças associadas a este tempo, num misto de saudade e orgulho, porque em cada estação, em cada ano que passa, a memória aviva-se em lembranças de um tempo que está marcado a ternura e alegrias, tal como está a inicial O do meu nome de baptismo.

Os O’s de mim… costumava rir-me ao referi-los.

Do Outono guardo a memória de uma certa infância calcando as folhas secas da Serra de Sintra que percorria pela mão do meu Avô esperando as queijadinhas que me iria oferecer de mimo… o cheiro da terra a anunciar a chuva e a ternura com que a minha Mãe lia poesia perante uma assembleia atenta.

Do Outubro, anos mais tarde, recordo as viagens a Malange, a visão das Palancas Negras, animais imponentes, misteriosos, que avistava ao longe, enquanto percorríamos os quilómetros que nos levariam às Quedas do Duque de Bragança (designadas, presentemente, com outro nome) um local cujas palavras não conseguem traduzir o verdadeiro sentimento que se tem frente à grandiosidade da Natureza.

Pelo caminho, passávamos pelas “Pedras Negras” que eram enormes pedras com centenas e centenas de anos e que estão aliadas a uma lendária história de uma rainha africana de nome D. Ana de Sousa.

Vem este preâmbulo a propósito da ideia que o Poesia Portuguesa a partir de Outubro e, em parceria com o
Sons da Escrita, vai impulsionar.

Como sabem, este é um blogue de divulgação da poesia de Blogues Portugueses e de autores que através deles partilham a sua poesia com o mundo internético.

Dentro da selecção mensal aqui partilhada, o poema mais comentado terá, no início do mês seguinte, um prémio de incentivo ou seja, a gravação em vídeo efectuada pelo
Sons da Escrita na voz de José-António Moreira e publicitado no Youtube.

Deixo-vos o poema de Natália Correia "O sol nas noites e o luar nos dias" na voz de José-António Moreira a quem agradeço, desde já, a gentileza da
Parceria .



(desligar, por favor, a música de fundo, para ouvir o vídeo)

terça-feira, agosto 30, 2011

Insensatez


Imagem de Alexey Andreev



Não foi o vento nem as marés que levaram das águas o brilho,

Não foi o sol nem a lua que se apagaram e fizeram esse escuro,
Não foram os passos que correram cansados e dolentes esse trilho
Que agora feito de pedras e de sombras se tornou mais duro...

Não foram as palavras, antes flores, que murcharam

Nem as suas emoções que me perfumaram
Que alagaram esse canteiro cuidado
E o fizeram abandonado...

Não foi a noite que chegou sem aviso,

Mostrando somente sombras e penumbras
E do dia tirou e levou o sorriso....

Foi o silêncio cortante que cantaste

E fizeste soar calando o mar,
Secando a areia onde te deitaste,
Em que não soubeste sonhar

Nessa permanente insensatez


Poema de Delfim Peixoto in Serenata às estrelas

sexta-feira, julho 15, 2011

Sentir


Pintura de Cliff Warner


As palavras hesitam
no abraço das madrugadas do poema.

Deslizam nas linhas nascentes,
fugazes e tímidas,
como uma jovem que se desnuda pela primeira vez
perante o seu desejo.

Palpitante,
o papel aconchega o seu espaço,
para nele acolher o derrame virginal do sentir dos poetas.

Do vazio,
surge sentido,
na recolha dos sentidos,
em silhuetas esboçadas na procura de significados.

O poema é sentir.
Sinto.

Poema de João Carlos Esteves in Gotas de Silêncio

quarta-feira, junho 29, 2011

Como pintar o Sol todas as manhãs


Pintura de Margusta



Como pintar o sol todas as manhãs
no jardim onde florescem os lírios
se tenho as mãos vazias
de certezas
e de versos?
Sonho, tão-somente, versos obscuros,
versos lua nova.
Não versos quarto crescente
- a aspergir luar -
acalentados pelo som das harpas
dos anjos com brilhos de mistério
e asas de papel.
Papel de seda... de seda
para vestir e amaciar o tempo
de pintar o sol no tempo dos lírios.
Amaciar o tempo das mãos vazias
e da tristeza à flor da pele.

Poema de
Maripa

domingo, maio 29, 2011

As Tentações




Sabemos o que existe. Não sabemos
o que existe. Nem sequer sabemos
alguma vez de nós no frémito do sonhos
onde vivemos e perdemos a vida.

Nenhuma sombra (a luz) nos conduz
à existência,
sequer com a existência celebramos o encontro,
e tudo o mais são sombras violentas.

Violento é o ar que respiramos,
sofregamente respiramos a existência,
desde que nascemos e sabemos o que existe.

Não sabemos o que existe. Nem sequer
sabemos que nome alastra na grandeza
de estarmos vivos e irmos para o mar
perscrutar a existência
com as mão rendidas
ao mar intrépido da nossa ignorância.

Sabemos o que existe. Não sabemos.







Imagem de Fefa Koroleva

sábado, março 05, 2011

como desenhar um rio inscrito na pele?

Depois de três meses de ausência o Poesia Portuguesa volta a “abrir” portas.

Não é fácil, nos tempos que correm, cumprir a missão a que nos destinamos e que foi dar a conhecer a poesia da blogosfera, mas a desistência não está, de forma alguma, nos planos de quem se propôs levar a cabo tal missão.

Hoje trago-vos a poesia de alguém que apesar de já voar fora da blogosfera a ela permanece fiel e é carne e sangue de um Poeta que muito amo…




Pintura de Vladimir Volegov



escrever sobre um rosto é traçar numa tela a matéria do silêncio
como desenhar um rio inscrito na pele?
há palavras na boca que dizem a palavra, o início, há palavras que dizem pão,
há palavras no rosto há palavras há um rosto de palavras
na minha mão.

há uma fricção entre o rosto do mundo e o mundo do rosto
há a Voz de um rosto que resiste e revela por entre as mãos

há num rosto um olhar e um espelho,
um animal insubmisso, há uma substância mental
num rosto encontro um mapa de alianças, um fluxo de água
num rosto confluem poema e tempo
uma melodia de palavras em gestação

Poema de Gisela Ramos Rosa




Nota: este Post foi preparado em data anterior ao dia de hoje mas por motivos alheios à minha vontade só agora foi possível publicá-lo. As minhas desculpas pelo facto (26.04.2011)

terça-feira, dezembro 28, 2010

De uma memória tão antiga

Mais um ano a terminar.

Outro a aproximar-se devagarinho e, como nos anos anteriores, desejamos sempre que algo de novo nos traga.

Este blogue cumpriu, muito discretamente, no passado mês de Setembro, cinco anos de existência enriquecidos com palavras dos Autores que aqui foram partilhados ao longo deste tempo.

Cinco anos se cumpriram, é verdade!

A autora deste blogue sente-se feliz por ter partilhado, com emoção, a sensibilidade que foi descobrindo no mundo da blogosfera.

Muitos dos blogues provavelmente já não existem mas, aqui ficou, para a posteridade, o seu registo.

Outros caminhos de divulgação foram surgindo, é verdade, mas o Poesia Portuguesa continua a senda a que se propôs aqui...

Neste final de ano e através do blogue da Graça Pires Poeta Portuguesa de grande mérito e para quem vai a minha grande admiração, partilho o poema que lá descobri e que muito me sensibilizou.



Pintura de Gaudiol


dizer Dezembro como se o mar tocasse a voz
ou dizer uma rosa rubra atravessada
por lábios de luz.
dizer o oriente de uma estrela
e vestir a pele de um poema.
mas a palavra é uma criança tolhida de frio
nos cabelos nevrálgicos que a árvore segura.
e assim amanhecemos, tardios e ébrios
no carrossel que orquestra a cidade
com tambores de solidão.

dizer corpo e ser ponte sábia para o outro lado
e a vida ser tão simples como a mão
que toca a pele da sílaba
de uma memória tão antiga
como as solas de uma infância gasta.
dizer amor, esse fósforo que incendeia
e ser fogueira na nervura da palavra.

despir o olhar desta erosão de distância.
agasalhar os pés e resguardar
o dorso lírico do sangue
como se a um poema de Natal bastasse
o verde inflamado de um arbusto:
o labor inteiro do meu coração de terra.

Poema de
Luísa Henriques


Com o desejo de um...

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Natal.



Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
As cinzas de milhões?
Natal de paz agora
Nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
Num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
Roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
Em ser-se concebido,
Em de um ventre nascer-se,
Em por de amor sofrer-se,
Em de morte morrer-se,
E de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
Quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
Num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
Com gente que é traição,
Vil ódio, mesquinhez,
E até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Ou dos que olhando ao longe
Sonham de humana vida
Um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
E torturados são
Na crença de que os homens
Devem estender-se a mão?

Poema “Natal de 1971”

 de Jorge de Sena in, De palavra em punho





FELIZ NATAL

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Petição Inicial


Pintura de Caspar David Fredrich


Dá-me um cavalo uma alma uma nave
Algo que voe ou galope ou navegue
E seja azul ou de outra cor mas leve
No seu vagar qualquer coisa que lave

Dá-me uma curva um espelho uma pausa
Algo que brilhe e demore e seduza
E se transforme ao ar em luz difusa
Ou nada ou coisa que não tenha causa

Dá-me um comboio um apito um berlinde
Algo que parta ou que role ou decida
E ao passar perto da hora perdida
Nos traga a rima precisa de brinde

Dá-me um baloiço um esquadro uma vez
Algo que meça que oscile que seja
Uma surpresa o gesto que se beija
A última loucura que se fez

Dá-me um segredo uma cor uma uva
Algo que importe ou se cheire ou escorregue
(Mas não tropece nem ceda nem negue)
Por entre dedos ou gotas de chuva

Dá-me uma febre um papel uma esquina
Algo que rasgue ou se dobre ou estremeça
E que se esconda e mais tarde apareça
Sombra de vulto subindo a colina
Dá-me um arco que seja íris
Dá-me um sonho que seja doce
Dá-me um porto que tenha barcos
Dá-me um barco que nunca fosse

Dá-me um remo
Dá-me um prado
Dá-me um reino
Dá-me um verso

Dá-me um cesto
Dá-me um cento
Dá-me só
Um universo


Poema de
Mário Domingos(Alien8)

terça-feira, novembro 23, 2010

Poetisas


Pintura de Mela Villalta



Como pode alguém chamar
A este país, de Florbelas e Adílias?
Sem sequer saber sentir
Que nas nossas veias corre
Aroma de jasmins e buganvílias.
Sou passageira em viagem
Sempre em constante busca
Uma espécie de voragem
Uma estranha inquietação
Pouco me interessa quem chame
Se me sinto Gaspara Stampa
Irmanada na nudez e solidão.
Posso ser quem eu quiser
Fedra, Mariana ou só mulher
Auto-determinada para o Ser
Nesta errância da fatalidade.
Tenho assim por desígnio
Dolorosa e imensa tarefa,
Aperfeiçoar a arte de
Morrer Soror Saudade.
Não sem antes, ousar sonhar
Que sou Safo, que me corre
No corpo um frémito,
O coração bate apressado
Desfaleço e caio
E continuo a viagem
Sem ao fim ter já chegado.
Ah Soror Saudade,
Soror das Mágoas
Neste país a quem chamam
Das Adílias e Florbelas
Soubessem amá-las
E seria sim um jardim
À beira mar plantado.
Cheio das flores mais belas!

Poema de
Arroba

quarta-feira, outubro 27, 2010

Os Poetas


Imagem Photobucket

"A poesia, tal como a entendo, é inútil.
Para que terei então chegado aqui"
Nuno Júdice

a poesia não é inútil!
inúteis são todos os poetas
porque ninguém conseguiu ainda entende-los.

inútil sou eu quando escrevo um poema
simples e cristalino
latejando de verdade
sofrendo nesta cidade tranquila.

inútil sou eu que clamo
a magia do poema feito
numa tarde inexplicavelmente quente de setembro.

inúteis são os sonhos decepados
as palavras gastas
os gestos inexpressivos.

inúteis são todos os poetas
porque ninguém quer
entende-los.

Nota: Decidi publicar este poema que escrevi na década de 80 baseado numa frase de Nuno Júdice e após ler "da inutilidade dos meus dias"

quarta-feira, outubro 06, 2010

Tomai e comei...


Óleo sobre tábua de Pieter Claesz



Turvam-se os caminhos. Mas do sangue
Apenas o que farejo no barroco empolgante de Coppola
Nos mistérios nocturnos da Transilvânia
Nas oníricas danças das Parcas
No mistério decadente dos vampiros
E no absoluto amor do conde de Drácula...

Fora esse
Apenas o sangue da fêmea com cio
Ou arrancado ao peito para alimento dos famintos
Ou o sangue selo secreto
Das cumplicidades da vida.

E o sangue abortado de uma flor vermelha
Ou o virginal rubor das manhãs sem nome
Que me entram pela janela...

Ou a ceifeira morta. Ou a papoila decepada...
Ou o vermelho da romã nos lábios febris do beijo
Primevo.

Fora esse
Apenas o sangue quente do vinho e do mel
Em que ondas me expludo e teimo
Longe de caminhos palmilhados...

Este o meu corpo: tomai e comei!...


de
Heretico in Relógio de Pêndulo

sexta-feira, outubro 01, 2010

Concurso Literário

Imagem de Alfarroba

Informamos todos os interessados que está a decorrer o primeiro Concurso Literário – CONTO por CONTO organizado pela Alfarroba Edições, nas seguintes condições:
- categoria: CONTO
- limite 24 páginas, redigidas em tamanho A4, Arial corpo 12, espaço 1,5
- trabalhos apenas em língua portuguesa
- inscrições até 15 Dez 2010
- cinco primeiros classificados verão o seu conto publicado em livro pela Alfarroba

"Há a história do gato, do tio, da avó. A história da vizinha, da escola, do autocarro.
Todos os dias há histórias. As que nos acontecem e aconteceram. As que contamos aos nossos amigos e as que fazem apenas sentido lembrar.
E depois há as outras. As que deviam ou podiam ter acontecido. Mas apenas fazem eco nas nossas cabeças, brincando connosco.
Todas estas pequenas histórias merecem ser contadas. Ponto por ponto, conto por conto."


Outras informações aqui e aqui


Atreva-se a este desafio!

terça-feira, setembro 21, 2010

Vida


Pintura de Bernardus Johannes Blommers


"Capitão no seu posto"

Fez-se ao mar o marinheiro...
Ondinha vai, ondinha vem
O barco avança, vai mais além.

Lançou as redes o marinheiro,
Veio cardume bom e inteiro,
Peixe sadio e variado,
Mas, marinheiro, fardo pesado!
Ondinha vai, ondinha vem,
O barco avança, vai mais além.

Há vagas altas,
Há sobressaltos,
O barco balança,
Mas logo serena
Com a bonança,
Ondinha vai, ondinha vem,
O barco avança, vai mais além.

Não se desvia da sua rota.
Há muito mar para navegar,
Há muito peixe para colher,
Há horizontes por desvendar,
Há sol ao longe por descobrir,
Há onda e onda por florir...
Ondinha vai, ondinha vem
O barco avança, vai mais além.


Poema de Ibel (Maria Isabel)

in Frutos de Mim e Mar

domingo, agosto 15, 2010

Ilha


Imagem de Fabio Pallozzo



Há, no horizonte, uma ilha.
Na ilha, a voz distante de um clamor.
É de verde que se veste o coração. Expectante.

(Fechas os olhos e
encerras, no seu eixo,
o segredo de que ainda só
suspeitas.
Não sabes. Mas esperas.
E a luz, dentro deles,
revela o sonho que te conduz.)

No horizonte, uma ilha.
Nos teus olhos, o horizonte.


Poema de Susana Duarte in Terra de Encanto

quinta-feira, agosto 12, 2010

103 anos depois...

... continua VIVO entre aqueles que amam a sua Poesia.


Miguel Torga

"Segredo" na voz de Luis Gaspar


SEGREDO

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

in "Diário VIII"


Nota: Para ouvir o poema desligar a música de fundo do Blogue, por favor.

sexta-feira, julho 23, 2010

... poema de amar


Fotografia de Alexander Flemming


gostava de fazer-te um poema de amar,
fazer um poema para te amar,
de fazer um poema ao amar-te.

porquê amar, amar-te a ti?
porque me amo mais por amar-te,
porque nos amo aos dois?
sim e não,
sim porque amar, é amar-te a ti.
não porque amar-te, não é amar.

porquê perguntar, perguntar-te a ti
e não a mim mesma?
sim e não, pergunto-te?
ontem sim, hoje não,
amanhã talvez?
talvez não ontem, como hoje
e talvez não amanhã.

mas amo amar-te,
e amava puder amar-te mais.

gostei de fazer-te um poema de amar,
fazer um poema para te amar,
um poema ao amar-te.
e ao amar-te, fiz um poema de amar.
e ao te amar, faço um poema para amar-te mais.

Poema de
Luísa Azevedo

quarta-feira, junho 16, 2010

ausência


Imagem de Marta Dahig

À sombra da tua ausência
Repouso os meus olhos
Fechados, inertes
Vagueiam por mim
Procurando destroços
Em que despertes,
De repente…

Sei-te ausente,
- Mesmo…
Sei que não posso
esperar-te
- De todo…
Mas este vício
De aguardar-te
Prende-me como lama,
Lodo
Atrofiante, espesso…

E como nódoa
Entranhada
Permaneces como gesso
Colado à parede
Do meu afecto
Qual vinagre
Na minha sede
Qual erro
De tudo
Quanto em mim
Está certo…


Poema de
Virgínia do Carmo