Fotografia de Joel Santos
Por dentro de mim corre um longo rio
De seiva, ao por do sol de um campo arado,
E a ceifeira, que ceifa ao desafio,
Esquecida de o ceifar, passou-lhe ao lado…
Talvez volte amanhã, se fizer frio,
Ou se o vento, ao soprar, tiver lembrado
O leito das razões que nele desfio
Na seiva em que o descrevo humanizado
Entretanto, outras foices de ceifeiras
Passaram já por ele de outras maneiras
Mas nunca desaguaram nessa foz
Que, a jusante de mim, beija as ribeiras
Quando elas se lhe oferecem, sempre inteiras
E recomeça o mar dentro de nós…
Poema de Maria João Brito de Sousa
sábado, outubro 22, 2011
O Mar Dentro de Nós
sábado, outubro 15, 2011
Ensaio sobre o esquecimento
Imagem de Fefa Koroleva
O tempo tudo apaga e a rasura
desaba repentina sobre os olhos:
os dedos da memória sem espessura
começam a safar como se escolhos
os poemas que atirei pela janela
numa garrafa cheia de vazio
(não sei se para os bolsos de uma estrela
se para o leito seco de algum rio)
Eis como sinto a sílabas que outrora
circulavam no sangue das palavras,
a súbitas perdidas, pois agora
almejam ser apenas anuladas:
esquecidas que foram para alguém
o corpo dos poemas de ninguém
Poema de Domingos da Mota in A espessura do tempo
sábado, outubro 08, 2011
Gosto de Gente
Pintura de Luiza Maciel
Gosto de gente honesta
Que faz da vida uma festa
Que partilha e se entrega
Que se oferece mas não se verga
Gosto de gente que vive
De gente que me cative
De gente com brilho nos olhos
De gente com alegria aos molhos;
Gosto de gente sem pressa
De gente simples que tropeça
Da que cai e se levanta
De gente que em sofrimento canta
Gosto de gente de todas as cores
De gente que gosta de flores
De gente transigente
De gente assim bem diferente
Gosto de gente com alma cheia
De gente com sangue na veia
De gente que sonha acordada
Que caminha de mão dada
Gosto de gente directa
De pensamento lavado
Com passo lento ou apressado
Que caminha com e sem gente ao lado
Gosto de gente com imaginação
De gente que tenha paixão
De gente que seja ousada
De gente rica ou descamisada
Gosto de gente inteligente
De gente que seja indulgente
De gente que se atira e se mostra
De gente que nunca se prostra
Gosto de gente que olha de frente
De gente que me acalente
De gente que não tem medo
De gente que guarda um segredo
Gosto de gente divertida
De gente que seja atrevida
De gente que seja versada
Gosto de gente com gargalhada
Poema de Fernanda Paixão
sábado, outubro 01, 2011
Traço sem nitidez para um Mar Incerto
Fotografia de José Rodrigues
"Lá não verá Inverno triste e escuro,
Não ventos, não tormentas, mão mudanças
Mas tudo quieto em Deos, tudo seguro."
In A Diogo Bernardes em resposta d’outra sua, Livro II, 34,75 de Pêro Andrade de Caminha
Inventados os nomes do Livro,
Refeito o traço em desenho de viagem
Aqui colocarei uma página de prata,
Ali adiante uma nuvem de fogo,
E mais além um mar desconhecido.
Criar é noção, é primeiro fingimento,
De cada [cousa] que toma o lugar;
“Não vento, não tormenta, não mudança”
Apenas dum pouco de céu
E duns restos de água e sal,
Comprimo em ar o vento,
Em corpo o mar.
E do Livro, o mundo invento
O improviso do tempo na sua passagem
De todas as almas meu corpo casa,
Dos passos nas ruas do improvisados becos
Meu sangue mesa,
Criação é réplica, é súplica, é fim
Do primeiro momento.
De regresso e partida, a viagem
De descanso o Livro que abandonado
Descansa o corpo exausto neste colchão,
Em concha em forma de estrado, de estrada
E aqui colocarei um lâmpada iluminada,
Ali adiante uma vela de cera salgada
E mais além, um vagabundo,
Mais um no mundo, ilusório pilar de vida,
Que trémula pedra gigante
Esta terra de pedintes.
De regresso e partida, os contrários
A imaginária rota quase corpo construído,
De certeza em certeza, a absoluta manhã
Que não conhecerá o dia.
Contrária é a ousada sabedoria,
De quem se diz alheio em alheio caminho
E na página em prata de desfaz a poeira,
Na nuvem de fogo a mão derradeira
E mais além, do momento o instante,
Breve corpo de chão tecto armário cadeira,
Aprendiz da letra segura, traço dum deus errante.
Se tudo é breve, tudo é mundo,
Tudo é caminho, um pouco de estrada;
Destino do ponto mais distante,
Do incerto fim, vaga letra vaga-lume
Vaga estante onde se pousam os rascunhos,
O amargo fruto que restou do primeiro
Dia. Deste projecto,
Que da cinza regressará ao nada.
Poema de Leonardo B. in a barca dos amantes
Nota: Este poema inicia um "passatempo" que tem como objectivo a escolha do poema a ser gravado pelo Sons da Escrita e publicado no Youtube. A escolha do poema seleccionado para aquele efeito ficará a cargo dos comentadores.
A cada sábado será publicado um novo poema. No início de cada mês, será feita a selecção. O mais comentado, ganha a gravação.
Um incentivo para aqueles que ainda fazem da Blogosfera um local de acesso à Poesia……
terça-feira, setembro 27, 2011
"De amor nada mais resta que um Outubro"
Os O’s de mim… costumava rir-me ao referi-los.
Do Outono guardo a memória de uma certa infância calcando as folhas secas da Serra de Sintra que percorria pela mão do meu Avô esperando as queijadinhas que me iria oferecer de mimo… o cheiro da terra a anunciar a chuva e a ternura com que a minha Mãe lia poesia perante uma assembleia atenta.
Do Outubro, anos mais tarde, recordo as viagens a Malange, a visão das Palancas Negras, animais imponentes, misteriosos, que avistava ao longe, enquanto percorríamos os quilómetros que nos levariam às Quedas do Duque de Bragança (designadas, presentemente, com outro nome) um local cujas palavras não conseguem traduzir o verdadeiro sentimento que se tem frente à grandiosidade da Natureza.
Pelo caminho, passávamos pelas “Pedras Negras” que eram enormes pedras com centenas e centenas de anos e que estão aliadas a uma lendária história de uma rainha africana de nome D. Ana de Sousa.
Vem este preâmbulo a propósito da ideia que o Poesia Portuguesa a partir de Outubro e, em parceria com o Sons da Escrita, vai impulsionar.
Como sabem, este é um blogue de divulgação da poesia de Blogues Portugueses e de autores que através deles partilham a sua poesia com o mundo internético.
Dentro da selecção mensal aqui partilhada, o poema mais comentado terá, no início do mês seguinte, um prémio de incentivo ou seja, a gravação em vídeo efectuada pelo Sons da Escrita na voz de José-António Moreira e publicitado no Youtube.
Deixo-vos o poema de Natália Correia "O sol nas noites e o luar nos dias" na voz de José-António Moreira a quem agradeço, desde já, a gentileza da Parceria .
(desligar, por favor, a música de fundo, para ouvir o vídeo)
terça-feira, agosto 30, 2011
Insensatez
Imagem de Alexey Andreev
Não foi o vento nem as marés que levaram das águas o brilho,
Não foi o sol nem a lua que se apagaram e fizeram esse escuro,
Não foram os passos que correram cansados e dolentes esse trilho
Que agora feito de pedras e de sombras se tornou mais duro...
Não foram as palavras, antes flores, que murcharam
Nem as suas emoções que me perfumaram
Que alagaram esse canteiro cuidado
E o fizeram abandonado...
Não foi a noite que chegou sem aviso,
Mostrando somente sombras e penumbras
E do dia tirou e levou o sorriso....
Foi o silêncio cortante que cantaste
E fizeste soar calando o mar,
Secando a areia onde te deitaste,
Em que não soubeste sonhar
Nessa permanente insensatez
Poema de Delfim Peixoto in Serenata às estrelas
sexta-feira, julho 15, 2011
Sentir
Pintura de Cliff Warner
As palavras hesitam
no abraço das madrugadas do poema.
Deslizam nas linhas nascentes,
fugazes e tímidas,
como uma jovem que se desnuda pela primeira vez
perante o seu desejo.
Palpitante,
o papel aconchega o seu espaço,
para nele acolher o derrame virginal do sentir dos poetas.
Do vazio,
surge sentido,
na recolha dos sentidos,
em silhuetas esboçadas na procura de significados.
O poema é sentir.
Sinto.
Poema de João Carlos Esteves in Gotas de Silêncio
quarta-feira, junho 29, 2011
Como pintar o Sol todas as manhãs
Pintura de Margusta
Como pintar o sol todas as manhãs
no jardim onde florescem os lírios
se tenho as mãos vazias
de certezas
e de versos?
Sonho, tão-somente, versos obscuros,
versos lua nova.
Não versos quarto crescente
- a aspergir luar -
acalentados pelo som das harpas
dos anjos com brilhos de mistério
e asas de papel.
Papel de seda... de seda
para vestir e amaciar o tempo
de pintar o sol no tempo dos lírios.
Amaciar o tempo das mãos vazias
e da tristeza à flor da pele.
Poema de Maripa
domingo, maio 29, 2011
As Tentações
o que existe. Nem sequer sabemos
alguma vez de nós no frémito do sonhos
onde vivemos e perdemos a vida.
Nenhuma sombra (a luz) nos conduz
à existência,
sequer com a existência celebramos o encontro,
e tudo o mais são sombras violentas.
Violento é o ar que respiramos,
sofregamente respiramos a existência,
desde que nascemos e sabemos o que existe.
Não sabemos o que existe. Nem sequer
sabemos que nome alastra na grandeza
de estarmos vivos e irmos para o mar
perscrutar a existência
com as mão rendidas
ao mar intrépido da nossa ignorância.
Sabemos o que existe. Não sabemos.
Imagem de Fefa Koroleva
sábado, março 05, 2011
como desenhar um rio inscrito na pele?
Não é fácil, nos tempos que correm, cumprir a missão a que nos destinamos e que foi dar a conhecer a poesia da blogosfera, mas a desistência não está, de forma alguma, nos planos de quem se propôs levar a cabo tal missão.
Hoje trago-vos a poesia de alguém que apesar de já voar fora da blogosfera a ela permanece fiel e é carne e sangue de um Poeta que muito amo…
Pintura de Vladimir Volegov
como desenhar um rio inscrito na pele?
há palavras na boca que dizem a palavra, o início, há palavras que dizem pão,
há palavras no rosto há palavras há um rosto de palavras
na minha mão.
há uma fricção entre o rosto do mundo e o mundo do rosto
há a Voz de um rosto que resiste e revela por entre as mãos
há num rosto um olhar e um espelho,
um animal insubmisso, há uma substância mental
num rosto encontro um mapa de alianças, um fluxo de água
num rosto confluem poema e tempo
uma melodia de palavras em gestação
Poema de Gisela Ramos Rosa
terça-feira, dezembro 28, 2010
De uma memória tão antiga
Outro a aproximar-se devagarinho e, como nos anos anteriores, desejamos sempre que algo de novo nos traga.
Este blogue cumpriu, muito discretamente, no passado mês de Setembro, cinco anos de existência enriquecidos com palavras dos Autores que aqui foram partilhados ao longo deste tempo.
Cinco anos se cumpriram, é verdade!
A autora deste blogue sente-se feliz por ter partilhado, com emoção, a sensibilidade que foi descobrindo no mundo da blogosfera.
Muitos dos blogues provavelmente já não existem mas, aqui ficou, para a posteridade, o seu registo.
Outros caminhos de divulgação foram surgindo, é verdade, mas o Poesia Portuguesa continua a senda a que se propôs aqui...
Neste final de ano e através do blogue da Graça Pires Poeta Portuguesa de grande mérito e para quem vai a minha grande admiração, partilho o poema que lá descobri e que muito me sensibilizou.
Pintura de Gaudiol
dizer Dezembro como se o mar tocasse a voz
ou dizer uma rosa rubra atravessada
por lábios de luz.
dizer o oriente de uma estrela
e vestir a pele de um poema.
mas a palavra é uma criança tolhida de frio
nos cabelos nevrálgicos que a árvore segura.
e assim amanhecemos, tardios e ébrios
no carrossel que orquestra a cidade
com tambores de solidão.
dizer corpo e ser ponte sábia para o outro lado
e a vida ser tão simples como a mão
que toca a pele da sílaba
de uma memória tão antiga
como as solas de uma infância gasta.
dizer amor, esse fósforo que incendeia
e ser fogueira na nervura da palavra.
despir o olhar desta erosão de distância.
agasalhar os pés e resguardar
o dorso lírico do sangue
como se a um poema de Natal bastasse
o verde inflamado de um arbusto:
o labor inteiro do meu coração de terra.
Poema de Luísa Henriques
Com o desejo de um...
quinta-feira, dezembro 23, 2010
Natal.
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
As cinzas de milhões?
Natal de paz agora
Nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
Num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
Roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
Em ser-se concebido,
Em de um ventre nascer-se,
Em por de amor sofrer-se,
Em de morte morrer-se,
E de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
Quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
Num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
Com gente que é traição,
Vil ódio, mesquinhez,
E até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Ou dos que olhando ao longe
Sonham de humana vida
Um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
E torturados são
Na crença de que os homens
Devem estender-se a mão?
Poema “Natal de 1971”
de Jorge de Sena in, De palavra em punho
FELIZ NATAL
quinta-feira, dezembro 02, 2010
Petição Inicial
Pintura de Caspar David Fredrich
Dá-me um cavalo uma alma uma nave
Algo que voe ou galope ou navegue
E seja azul ou de outra cor mas leve
No seu vagar qualquer coisa que lave
Dá-me uma curva um espelho uma pausa
Algo que brilhe e demore e seduza
E se transforme ao ar em luz difusa
Ou nada ou coisa que não tenha causa
Dá-me um comboio um apito um berlinde
Algo que parta ou que role ou decida
E ao passar perto da hora perdida
Nos traga a rima precisa de brinde
Dá-me um baloiço um esquadro uma vez
Algo que meça que oscile que seja
Uma surpresa o gesto que se beija
A última loucura que se fez
Dá-me um segredo uma cor uma uva
Algo que importe ou se cheire ou escorregue
(Mas não tropece nem ceda nem negue)
Por entre dedos ou gotas de chuva
Dá-me uma febre um papel uma esquina
Algo que rasgue ou se dobre ou estremeça
E que se esconda e mais tarde apareça
Sombra de vulto subindo a colina
Dá-me um arco que seja íris
Dá-me um sonho que seja doce
Dá-me um porto que tenha barcos
Dá-me um barco que nunca fosse
Dá-me um remo
Dá-me um prado
Dá-me um reino
Dá-me um verso
Dá-me um cesto
Dá-me um cento
Dá-me só
Um universo
Poema de Mário Domingos(Alien8)
terça-feira, novembro 23, 2010
Poetisas
Pintura de Mela Villalta
A este país, de Florbelas e Adílias?
Sem sequer saber sentir
Que nas nossas veias corre
Aroma de jasmins e buganvílias.
Sou passageira em viagem
Sempre em constante busca
Uma espécie de voragem
Uma estranha inquietação
Pouco me interessa quem chame
Se me sinto Gaspara Stampa
Irmanada na nudez e solidão.
Posso ser quem eu quiser
Fedra, Mariana ou só mulher
Auto-determinada para o Ser
Nesta errância da fatalidade.
Tenho assim por desígnio
Dolorosa e imensa tarefa,
Aperfeiçoar a arte de
Morrer Soror Saudade.
Não sem antes, ousar sonhar
Que sou Safo, que me corre
No corpo um frémito,
O coração bate apressado
Desfaleço e caio
E continuo a viagem
Sem ao fim ter já chegado.
Ah Soror Saudade,
Soror das Mágoas
Neste país a quem chamam
Das Adílias e Florbelas
Soubessem amá-las
E seria sim um jardim
À beira mar plantado.
Cheio das flores mais belas!
Poema de Arroba
quarta-feira, outubro 27, 2010
Os Poetas
Imagem Photobucket
Para que terei então chegado aqui"
Nuno Júdice
a poesia não é inútil!
inúteis são todos os poetas
porque ninguém conseguiu ainda entende-los.
inútil sou eu quando escrevo um poema
simples e cristalino
latejando de verdade
sofrendo nesta cidade tranquila.
inútil sou eu que clamo
a magia do poema feito
numa tarde inexplicavelmente quente de setembro.
inúteis são os sonhos decepados
as palavras gastas
os gestos inexpressivos.
inúteis são todos os poetas
porque ninguém quer
entende-los.
quarta-feira, outubro 06, 2010
Tomai e comei...
Óleo sobre tábua de Pieter Claesz
Turvam-se os caminhos. Mas do sangue
Apenas o que farejo no barroco empolgante de Coppola
Nos mistérios nocturnos da Transilvânia
Nas oníricas danças das Parcas
No mistério decadente dos vampiros
E no absoluto amor do conde de Drácula...
Fora esse
Apenas o sangue da fêmea com cio
Ou arrancado ao peito para alimento dos famintos
Ou o sangue selo secreto
Das cumplicidades da vida.
E o sangue abortado de uma flor vermelha
Ou o virginal rubor das manhãs sem nome
Que me entram pela janela...
Ou a ceifeira morta. Ou a papoila decepada...
Ou o vermelho da romã nos lábios febris do beijo
Primevo.
Fora esse
Apenas o sangue quente do vinho e do mel
Em que ondas me expludo e teimo
Longe de caminhos palmilhados...
Este o meu corpo: tomai e comei!...
de Heretico in Relógio de Pêndulo
sexta-feira, outubro 01, 2010
Concurso Literário
Informamos todos os interessados que está a decorrer o primeiro Concurso Literário – CONTO por CONTO organizado pela Alfarroba Edições, nas seguintes condições:
- limite 24 páginas, redigidas em tamanho A4, Arial corpo 12, espaço 1,5
- trabalhos apenas em língua portuguesa
- inscrições até 15 Dez 2010
- cinco primeiros classificados verão o seu conto publicado em livro pela Alfarroba
"Há a história do gato, do tio, da avó. A história da vizinha, da escola, do autocarro.
Todos os dias há histórias. As que nos acontecem e aconteceram. As que contamos aos nossos amigos e as que fazem apenas sentido lembrar.
E depois há as outras. As que deviam ou podiam ter acontecido. Mas apenas fazem eco nas nossas cabeças, brincando connosco.
Todas estas pequenas histórias merecem ser contadas. Ponto por ponto, conto por conto."
Outras informações aqui e aqui
Atreva-se a este desafio!
terça-feira, setembro 21, 2010
Vida
Pintura de Bernardus Johannes Blommers
"Capitão no seu posto"
Fez-se ao mar o marinheiro...
Ondinha vai, ondinha vem
O barco avança, vai mais além.
Lançou as redes o marinheiro,
Veio cardume bom e inteiro,
Peixe sadio e variado,
Mas, marinheiro, fardo pesado!
Ondinha vai, ondinha vem,
O barco avança, vai mais além.
Há vagas altas,
Há sobressaltos,
O barco balança,
Mas logo serena
Com a bonança,
Ondinha vai, ondinha vem,
O barco avança, vai mais além.
Não se desvia da sua rota.
Há muito mar para navegar,
Há muito peixe para colher,
Há horizontes por desvendar,
Há sol ao longe por descobrir,
Há onda e onda por florir...
Ondinha vai, ondinha vem
O barco avança, vai mais além.
Poema de Ibel (Maria Isabel)
domingo, agosto 15, 2010
Ilha
Imagem de Fabio Pallozzo
Há, no horizonte, uma ilha.
Na ilha, a voz distante de um clamor.
É de verde que se veste o coração. Expectante.
(Fechas os olhos e
encerras, no seu eixo,
o segredo de que ainda só
suspeitas.
Não sabes. Mas esperas.
E a luz, dentro deles,
revela o sonho que te conduz.)
No horizonte, uma ilha.
Nos teus olhos, o horizonte.
Poema de Susana Duarte in Terra de Encanto
quinta-feira, agosto 12, 2010
103 anos depois...
Miguel Torga
"Segredo" na voz de Luis Gaspar
SEGREDO
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
in "Diário VIII"
Nota: Para ouvir o poema desligar a música de fundo do Blogue, por favor.