no centro
do coração
e que a voz
se erga
pulando a cerca da noite
em balidos de veludo
despertando sobre a areia
no aroma da aurora
um beijo
um beijo ao lado do coração
para depois o agarrar
na noite perdida e achada
sem nunca a voz derrubar
da boca nasce então um grito
nas mãos
cravos vermelhos
no coração
amor novo
nascido na madrugada
que aqui não chegou
nesta minha terra não se podia cantar
até que um cravo de liberdade
nos fez levantar e gritar
as vozes ergueram-se em uníssono
e um canto fizeram despertar
eis agora
no centro do cravo coração
alma de novo a pulsar
não pode perder a noção
não pode deixar-se calar
desperta voz do amor
desprende deste cravo
as notas suaves
mas graves
de arpejos quase sem dor
escuta
o olhar preso na miséria do povo
ouve o soldado poeta
de mãos a gemer
ejaculando ecos de raiva
com que bordava as estrofes
pressentindo em júbilo
que um abril havia de acontecer
e no perfil dum tempo a correr
atiram as palavras-mal-paridas
como balas abatendo os cravos que nasciam
no coração do poeta
olha os passos fardados
olha o ganir do medo
vampiros vorazes
procurando sugar o puro sangue
da madrugada
sem o tempo da aurora
que fazer
que fazer
deste tempo
daquele tempo
pára
pára tempo
tempo não pares
olha o futuro
futuro
onde
para onde
para ontem
para amanhã
porque hoje
não és porto de abrigo
cada um escolheu seu jardim florido
nos verdes sonhos da juventude que escoa
onde nossos filhos abraçarão
gaia
que lhes deixaremos como
terra queimada e desilusão
sabes
não me perguntes
como vivi o futuro
porque eu quero
sepultar o tempo
o passado é amanhã
e por ti vou esperar
nos silêncios gastos
enrolados nas areias
ansiando um tempo novo
serenos
aguardamos
o que somos
o que fomos
fruto da seiva
escorrida da terra ferida
de onde nasceram
cravos vermelhos
que ousaram
perpetuar o nome de
liberdade
direi então
mais do que nunca
um beijo
no centro
do coração e que a voz
se erga
ao nascer
da aurora
Imagem de Isabel Monteverde in Artista Maldito
Ideia original do Blogue Poemar-te
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